Esta não é definitivamente a voz da minha avó. Volto a olhar para o ecrã e vejo 'Avó' no mesmo. Este é o número certo mas porque raio não é a voz dela? Pára tudo! Eu conheço esta voz! Volto a colocar o aparelho ao meu ouvido e respiro fundo. Eu espero mas espero mesmo, mesmo, mesmo que não seja quem eu estou a pensar que é.
"Estou?" Voltam a falar do outro lado. Não, não pode ser.
"Quem fala?" Pergunto.
"O Harry." Responde. Só podem estar a brincar. Primeiro, o que é que ele faz na casa da minha avó? Segundo, porque é que ele ligou? Terceiro e último, porque é que a minha avó o deixou ligar? "Charlotte?" Ele chama.
"O que é que queres?" Pergunto rudemente.
"Tem calma!" Ele exclama.
"Porque é que me ligaste?" Pergunto.
"Eu só queria ter a certeza de que está tudo bem entre nós." Ele diz e eu rolo os olhos.
"Não há nada entre nós portanto, se me dás licença." Digo e vou para desligar quando a sua voz me impede.
"Charlotte, vá lá!" Ele chama e eu volto a pôr o aparelho colado ao meu ouvido. "Pára de ser assim, eu quero ser teu amigo." Ele diz e eu suspiro.
"Mas não quero que sejas meu amigo. Eu não sou uma boa amiga, percebe isso." Digo e ele suspira do outro lado da linha.
"Ok, se é isso que tu queres, eu deixo-te em paz." Diz e eu sorrio.
"Música para os meus ouvidos." Digo.
"Eu não vou continuar a ir atrás de ti para ser teu amigo, para conseguir quebrar esse gelo à tua volta." Diz e o meu sorriso desvanece-se.
"Ainda bem." Digo e desligo a chamada.
Chamada Off
Pouso o telemóvel e volto a concentrar-me no projeto que tenho em mãos. Estou farta deste Harry. Ainda bem que ele me disse que me ia deixar em paz, finalmente. Está bem que eu até gostava de algumas conversas que tínhamos mas ele era muito fita-cola. Isso não é assim comigo. Eu não quero ninguém assim tão perto de mim porque eu sei que vou fazer algo que magoe as pessoas.
Com o Zayn e com a Perrie é diferente, assim como com a minha avó. O Zayn e a Perrie salvaram-me da escuridão, fizeram um pequeno buraco no gelo à volta do meu coração para poderem entrar. Sempre que estou com eles, é como se o meu coração estivesse quente, tão quente que o gelo derretia em segundos. Mas só quando estou com eles.
Com a minha avó é quase o mesmo. Eu ainda penso que ela me podia ter ido buscar, me podia ter procurado mas não o fez porque eu não era importante para ela. Mas eu sei que ela não o fez porque achava que eu estava morta. Felizmente, o caminho para casa dela foi algo que se cravou na minha memória e nunca de lá saiu.
Eu só com estas três pessoas é que sou eu mesma. Com os outros eu escondo-me, eu protejo o meu coração de qualquer coisa que possa vir na minha direção. Mesmo que seja uma palavra. Há palavras que trazem uma pequena agulha que ao atingir, magoa. É dessas palavras que tenho medo. E mais medo ainda de gestos violentos como um estalo, um pontapé.
Eu levava muitos estalos e pontapés no orfanato. A dona daquilo não gostava de mim porque eu tentava fugir dali em busca dos meus pais e então comecei a levar e a perceber que nunca iria conseguir sair dali. Comecei a perceber que os meus pais nunca me viriam buscar. Eu era uma criança que queria os pais, era inocente, não sabia nada da vida. Até crescer e levar quase todos os dias chicotadas nas costas.
Havia uma sala com paredes à prova de som, eu podia gritar, berrar mas a pessoa que estivesse do outro lado da porta não ouvia nada. Eu lembro-me de perguntar o que era aquilo mas nunca me diziam o que era e como eu era a curiosidade em pessoa, um dia fui lá ver e encontrei uma rapariga aos gritos a levar com o chicote.
Eu gritei com a dona daquilo, a Mrs. Stewart, para parar mas quando a pobre rapariga saiu dali, mal eu sabia que eu era a próxima. Fiquei com as costas horrivelmente marcadas, mal dormia com as dores, até a camisola me magoava. A partir daí, eu tentei fugir dali a todo o custo e já levava tantas chicotadas que já nem as sentia.
Quando fiz os meus 15 anos, dei mais problemas. Faltava às aulas porque os meus colegas chamavam-me órfã e gozavam comigo. Mrs. Stewart não gostava quando alguém faltava às aulas e eu, pela primeira vez, fiquei inconsciente com a quantidade de pancada que levei. Lembro-me perfeitamente de começar a ver tudo distorcido.
Depois de acordar, perguntei a uma amiga, a única amiga que tinha no orfanato, Amy, o que tinha acontecido. Ela disse-me que Mrs. Stewart inventou que eu tinha caído das escadas abaixo. Eu e a Amy éramos muito diferentes, eu arranjava problemas e ela ficava longe, bem longe deles.
Eu prometi-lhe que se eu saísse dali, trazia-a comigo. Porém, foi tarde demais. Um dia, eu estava fraca depois da pancada que levei e voltei a tentar fugir. Amy viu-me e tivemos uma pequena discussão. Ela tentou puxar-me para dentro do orfanato porque eu ainda estava muito ferida e eu estava a insistir que tinha de sair dali, assim como ela.
Mrs. Stewart apanhou-nos e a Amy disse que a culpa era dela e que eu não tinha nada a ver com aquilo. Eu ainda tentei negar mas a Amy começou a fingir que estava a discutir comigo por eu estar sempre a assumir as culpas de tudo. Mrs. Stewart caiu que nem uma patinha e levou Amy para a sala de pancada e acho que ficaram até de manhã porque quando Amy saiu de lá, estava morta.
Chorei dias e dias seguidos, culpei-me por tudo. Ainda fui falar com a Stewart e disse-lhe a verdade. Ela não acreditou mas pelo sim pelo não, levei mais umas quantas chicotadas por ter acordado o seu sono de beleza que não tinha qualquer efeito. São memórias que ficam a atormentar-me.
Olá! Espero que gostem deste pequeno flashback da Charlotte! Beijinhos!
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Charlotte |H.S|
FanficEla é uma rapariga bonita e inteligente. Tem a sua casa e não confia muito nas pessoas, exceto nos seus dois melhores amigos, Zayn e Perrie. Foi abandonada num orfanato pelos pais mas conseguiu sair de lá aos 18 anos. Agora com 22, tem um trabalho...