12 | A Dança dos Opostos

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  Lis se dirigia para seu ponto de ônibus, sozinha, porém feliz, quase saltitando. Aquele dia havia sido maravilhoso. Não esqueceria nunca a sensação e o momento que tivera com Nathan. Pegou-se pensando nele, mas apenas riu disso, sem repreender a si mesma. "Lis, você parece uma boba!", ria-se.
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  A turma inteira aplaudira ao ouvir o toque calmo que dava início a "Someone Like You", de Adele. A voz incrível da cantora tocou o coração de todos ali presentes.

  A dança começava com os dois de mãos dadas, com passos clássicos — o popularmente chamado de ioiô, em algumas regiões; a valsa; os giros e rodopios sincronizados, sem nenhum ensaio prévio.

  O início do refrão. Lis corria até Nathan. Ele a segurava pela cintura, a erguendo frente a si, enquanto ela esticava seu corpo e estendia seus braços abertos como um cisne mágico; e girava, em sintonia perfeita.

  De volta ao chão, um giro solitário de Lis, então ela senta-se com os joelhos para o lado, descendo lentamente seus braços; enquanto Nathan, atrás, move seu corpo segundo a letra da música, representando-a com gestos e movimentos, até chegar próximo de Lis e deslizar com um pé na frente do outro, graciosamente, de braços abertos.

  Em um instante, ela está de pé. O clássico movimento em que o garoto a segura pela cintura e por uma das mãos enquanto ela se lança para trás; fora executado impecavelmente, e ao seu término, Lis segurara Nathan pela cintura, abraçando-lhe com as pernas como na primeira vez que dançaram. Lentamente, ele a soltava, deixando-a praticamente suspensa, deitada no ar. A cena puxara aplausos histéricos da platéia, que assistia atônita a tudo aquilo.
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  Terminaram a apresentação exaustos, mas orgulhosos e contentes por aquele ato maravilhoso e impecável. Deram um forte abraço antes de se despedirem, e foram cada um para um lado.

-- Você foi incrível, Lis!

  "Nós fomos incríveis!".

  Mas Lis ainda continha um mau pressentimento dentro do peito. Sabia que Sean não ia deixar aquilo passar impune.
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-- Ugh, mas quem pode ser? -- indagou-se, levemente estressada.

  Selly estava deitada na cama de seu quarto, agarrada aos head phones e ao celular. Estava escutando tranquilamente suas músicas, e odiava quando a interrompiam. Era uma ligação de Daya.

-- Selly! Você viu o vídeo que eu enviei?

-- Não, eu... agh, eu mal vi minhas mensagens hoje. -- respondeu, indiferente.

-- Ah, vê lá, vai! Você vai adorar a dança que a Lis e o Nathan fizeram hoje!

-- Espera... -- e seu tom mudou para surpreso -- Lis não ia dançar com Sean!?

-- Sim, ia, sim! Mas você sabe como é o Sean, não é? Ele tentou fazer uma daquelas trapaças dele... só que, né, com a Lis não funciona.

-- Entendo... -- e respirou fundo -- Deve ter sido uma bela dança.

-- Foi a melhor dança de todas! Eles dançaram Someone Like You. Estavam tão sincronizados, pareciam ser um só...

-- Ah, imagino! -- ela riu.

-- Você não acha que o Nathan tem algo com a Lis?

-- Você acha!?

-- Selly, acorde! Você conhece Nathan muito melhor que eu, sabe que ele não é gentil com ninguém... quer dizer, não era, até Alisson Waston aparecer na escola.

-- Bem, é verdade... mas não sei. Ele sempre é assim com gente nova.

-- Ah, por favor, Lis não é mais "gente nova"! Muito menos para Nathan...

-- Talvez ele só esteja animado em ter uma amiga, digamos, parecida com ele. Afinal, os dois são fluentes em ASL...

-- Não acho que seja só isso, mas se você diz...

-- Se fosse por gentileza, Daya, eu diria que Nathan namora Sean há muito tempo! -- riu Selly.

-- Sean!? -- Daya quase gritou ao telefone -- Mas Sean não é homofóbico!?

-- Ah, Daya, você sabe de tão pouco...

-- Então trate de melhorar para me contar tudinho!

-- Haha, está bem! Acho que amanhã estarei de volta...

-- Mas como vai ficar a sua nota!?

-- Bem, como eu tenho um atestado, posso pedir para o professor me dar a nota média.

-- Sete!? Heh, isso deve ser um desespero para a garota que só tira dez...

-- Nem tanto, depois eu recupero!

-- Como você consegue tirar notas boas mesmo com o seu, uhm... problema? -- Daya disse aquilo com uma voz receosa.

-- Ora, você não sabia? A mente de um esquizofrênico e tão complexa quanto a de um gênio intelectual*...

-- Hah, só você para saber dessas coisas...

-- É, eu sei, eu sou incrível... mas, com licença, será que eu posso voltar a ouvir minhas músicas? -- pediu desengonçadamente.

-- Haha, claro que pode! Até amanhã, garotinha louca...

-- Até amanhã...

  Click...

  "Heh, então o casal está junto. Bem, felicidades aos dois...", pensou, tentando mentir para si mesma. "Ah, a quem estou enganando? Isso é terrível. Nathan e Lis podem até ser um belo casal, mas... onde eu entro nesta história? Selly, a figurante. Selly, a esquecida. Selly... quem é Selly?".

  "Não vou deixar isso ficar assim".

  Logo, o quarto de Selly estava preenchido por gritos ensurdecedores de mil vozes, todas saindo de sua boca. Ela não ouvia. Seus ouvidos estavam tapados pelo som estrodoso de Queen Of Mean que estourava pelos fones.
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  * Referência a uma frase do autor Augusto Cury.

Yin & Yang | A Sintonia de Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora