23 | Sonhos

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  Por mais que não admitisse, a noite sem Lis estava um saco. Podia repor as energias da noite anterior -- e que noite! --, mas não conseguia descansar direito sem ela. Sentia falta.

  Daya já havia conversado com ele. Falara sobre opostos, sintonia, magia, essência... mas ela já estava no terceiro sono, enquanto ele mal piscava os olhos. Imaginava se no quarto de Sean ela estava fazendo com ele o que fizera consigo na noite anterior. Esse pensamento o deixou apavorado... cogitou que poderia perder a sua menina, e que não havia percebido isso.

  "Alisson... você é totalmente diferente de mim. Mas acho que essa é a nossa essência", pensa ele. "Estou com saudade de ter você aqui do meu lado, cuidando de mim. Queria que você estivesse aqui, para que eu pudesse te abraçar, te beijar, de deixar cansada...", e suspirou, lembrando-se da noite passada.

"Alisson... volte, por favor. Eu amo, quero e preciso de você...", pedia Nathan, em pensamento, abraçado ao travesseiro, que estava com o cheiro dos cabelos de Lis. Ele segurava a vontade de abrir a porta, ir até o quarto de Sean e buscar o seu anjo de volta.

-- Aí, Lis! Tá a fim de ver um filme? - pergunta Sean, sentando-se ao lado dela em sua cama, ambos já de pijamas.

"Filme? Hum, pode ser. Mas sobre o que é?" -- ela escreve em seu caderninho, em seguida arrumando docemente os cabelos.

-- Sobre uma garota normal e um garoto que tem câncer no pulmão. O nome é "O Tempo Roubou de Mim".

"Ah, pensando bem, é melhor nós irmos dormir cedo hoje..." -- Lis entrega o caderno a Sean, cabisbaixa.

- Por quê? Você não gosta ou já viu esse filme? Podemos assistir outro...

"Não gosto desse tipo de história e... é melhor não... boa noite, Sean. Durma bem." -- ela entrega-lhe o caderno e, ao ver que ele terminou de ler, pega-o de volta e o põe embaixo da cama.

Nervosa, Lis apaga as luzes e se deita, cobrindo-se com o lençol. Sean, confuso, desiste e vai para sua cama depois de lhe dar um beijo na testa e acariciar-lhe os cabelos lisinhos, ainda molhados do banho que ela havia tomado.

-- Boa noite, pequena...

A respiração de Lis se torna ofegante, mas esta consegue disfarçar. Ela lembra de Nathan. Por um instante, desejou que aquele idiota estivesse ali com ela, para abraçá-la e protegê-la de seus medos. Sentiu medo de tê-lo perdido...

  "Nathan... você está bem sem mim?", ela pensou, e tremeu. Não queria que ele fosse embora assim. Não podia deixar que o orgulho dos dois os perdesse.

  Depois de muito pensar naquilo, ela finalmente cai no sono.
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Eu abro os olhos. Há um vasto campo de flores amarelas ao vento. É tardinha, o sol está quase se pondo. No meio do campo, vejo um menino agachado, brincando com as flores. Ele tem cabelos castanhos-claros, bagunçados. Sua pele é clara e delicada, e seus olhos são brilhantes.

Eu caminho até o menino, e à medida que me aproximo, ele vai se tornando mais velho, como se nele, o tempo passasse mais rápido e fosse, consequentemente, mais curto. Ao chegar perto, ele olha para mim e sorri, me oferecendo uma flor. Eu a aceito, e ele me diz:

-- Esta flor era igual a todas as outras deste campo; mas eu a dei a você: agora ela é única no mundo.

Eu percebi sua inspiração no livro "O Pequeno Príncipe", e junto com ele, eu rio em resposta, fechando os olhos por um instante. Mas, quando abro os olhos novamente, nada mais está lá, exceto a minha flor. O som de sua risada se dissipa no ar de uma forma assustadora...

Yin & Yang | A Sintonia de Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora