Se eu apareci nesta história? Bem, só em espírito ou em flashbacks. Eu não pareço ter sido muito importante, mas você não faz ideia do papel que eu tive nesta trama.
Eu era um garoto fofo, de sardas no rosto, cabelos claros e olhos escuros. Nasci em Vancouver e tinha meio que a idade de Alisson... quando eu tinha vida. Isto é, agora eu estou numa espécie de "não-vida", algo como um Limbo ou um estado de espírito sem uma "casca". Eu poderia ser só uma luz, mas não ia ter graça. Assumi a minha forma humana, só que com umas asinhas e uma auréola, algo bem angelical mesmo.
Qual a minha relação com Alisson? Ah, por favor, não é possível que você ainda não tenha descoberto. Eu sou Christian. Christian Coke Winsum. Você lembra de mim, não é? Eu fui o garoto que conheceu Alisson primeiro, na cidade natal dela, e que morreu de câncer no pulmão. Parece triste, não é?
E foi. Eu vi o mundo de Alisson desmoronar e virar pó, enquanto os batimentos cardíacos da minha "casca humana" haviam parado. Eu chorei junto com ela. Era desesperador. Não queira saber como é a sensação de tentar tocar alguém que você ama e simplesmente atravessar-lhe a pele, como nos filmes onde os fantasmas atravessam os humanos. Foi terrível. Eu sequer pude abraçá-la, e ela gritava, aterrorizada.
Eu sei que Alisson é muda, mas todo mundo tem uma voz interior -- tipo, a maioria das pessoas a usa para ler. O bom de ser um anjo é que você consegue ouvir a voz interior de todo mundo. Quer dizer, isso é meio perturbador às vezes, mas com o tempo você se acostuma a focar em uma só voz. Eu ainda não tinha me acostumado, mas o grito silencioso de Alisson berrava mais alto que qualquer outra voz do hospital.
Ela sentia a minha presença enquanto abraçava meu corpo. Eu chorava tanto quanto ela. Queria voltar à vida, mas eu não podia. Não tinha volta.
Mas eu não estou aqui para lembrar das nossas dores. Essa nem foi a msior influência. Muito depois da principal, ainda tive outra. Eu criei uma ilusão na mente de Alisson, mostrando como seria a vida dela sem os pingentes e Nathan.
Mas vamos logo para a melhor parte, porque eu estou louco para contar!
Eu percebi que Alisson parecia sentir-se sozinha quando chegou em Winnipeg. Em Vancouver, ela pelo menos conhecia tudo e vez ou outra entrava em alguma brincadeira pelas ruas do nosso bairro. Ela tinha alguns primos dos quais era amiga e costumava sair com sua tia para museus, cafeterias, sítios, fazendas... enfim, ela passeava bastante.
Em Winnipeg, todos estavam mais longe. Ela ainda não conhecia ninguém e e não ia entrar em uma escola "especial" como em Vancouver. A cidade nova era repleta de pontos turísticos, paisagens belíssimas e natureza ilustre... mas com quem ela iria para aqueles lugares? Karl Waston, sua mãe, era escritora e passava cerca de metade do dia no trabalho. Seu pai, Phoenix Phill, era gerente em uma companhia de turismo -- quando se trata de Winnipeg, turismo é o que mais dá lucro.
Eu, como um anjo experiente, já sabia que ela sentiria-se assim na cidade nova. Tomei as providências quase de última hora. Consegui materializar um pingente de Yang e escrevi, em seu verso, a seguinte frase: "That what destiny want togheter, no Universe force is able to tear apart". Eu sei que em português há uma modificação, mas é que precisava caber no pingente! Soltei à vista dela e meu plano funcionou. Ela leu e o pôs. Agora eu só precisava encontrar a outra metade...
Ela estava indo para Winnipeg naquele momento, mas eu cheguei antes, na verdade num piscar de olhos. Comecei a procurar. O tempo no "meu mundo" corre diferente, então digamos que eu visualizei todos os garotos da cidade em poucos segundos. Conheci tanta gente... Nathan foi um dos últimos.
Conheci um garoto chamado Richard. Ele era um burguês rebelde e arrogante. Talvez desse certo com Lis, mas lembrei que uma pessoa não pode mudar outra. Ele não escondia nada por trás de seu jeito desprezível, então ela não poderia revelar nenhum outro lado dele.
Conheci Sean, o nosso quase antagonista. Pensei em escolher ele. Tinha muitos motivos para ser como era, especialmente seu passado. Por que não? Quase lhe dei o pingente de Yang. Foi quando lembrei que ele precisava saber a língua de Alisson. Eu não queria dificultar para ela. Por quase errar minha escolha, Sean e Lis sempre sentiram uma conexão esquisita entre eles, como se soubessem que algo poderia ter acontecido. Também foi pelo meu quase erro que ela viu Sean como "seu garoto" na ilusão.
Quando eu vi Nathan Raccon Meyd pela primeira vez, ele estava brigando com o irmão mais velho, Bryan Meyd. Pelo que entendi, Bryan havia mexido no material de Nathan e estragado algumas coisas. A voz interior dele parecia ser de quinhentas pessoas. Senti pena.
O mais novo, furioso por levar a culpa injustamente, saiu de casa bufando e foi passear na estação de trem mais próxima.
Eu não fazia ideia de quem era o pai de Nathan, mas a mãe dele não parecia a melhor mãe do mundo. Digo, ela parece estar sempre descontando estresse e injustiça nas costas dele. Parece estar em um julgamento quase perpétuo. Srta. Lessie é super gentil às vezes e costuma tomar as decisões certas, mas perde facilmente a razão. Bryan é como quase todo irmão: implicante, insuportável. Eles brigavam menos depois do tumor que Nathan teve no ouvido.
Não mencionei antes? Ele quase morreu! Que sorte a nossa, hein, Alisson? Sua outra metade apenas perdeu parte da audição e felizmentetem condições financeiras suficientes para comprar aparelhos auditivos.
Quando Nathan bateu a porta, percebi que era a minha hora de agir. Segui-o o caminho todo -- ele só parou de resmungar quando viu as gramas nos trilhos, que ficavam depois de um pequeno campo de areia. O engraçado era que Nathan parecia sentir-se observado. Era divertido estar bem ao lado dele e vê-lo olhar para trás me procurando.
Quando vi os trilhos, corri na frente e deixei ali o pingente. Nathan o viu e imaginou que alguém o tivesse deixado cair do trem. Leu minha letra. Nunca esqueci os pensamentos dele.
"Aquilo que o destino uniu, nem as forças do Universo podem separar. Pff, que coisa brega! Quem ainda usaria isso? Um viajante no tempo do século 17? Uma reencarnação de Shakespeare?", e parou um pouco. "Bem, achado não é roubado. Ao menos o símbolo é legal. Meh, vou ficar com isso. Quem sabe o viajante no tempo venha atrás de mim e me dê algo por esta coisinha aqui?", brincou consigo mesmo.
Nathan escondeu dentro da blusa. "A mãe não pode ver isto", pensou. Ele andou mais alguns metros e sentou no chão da plataforma da velha estação, com os trilhos ao seu lado acerca de um metro e meio. Olhou para baixo e pensou em diversas dores. Quase chorou, mas não se permitiu. Eram tantas vozes berrando que eu desisti de tentar ouvir todas.
Foquei na voz mais baixa. "Eu não me sinto amado...", dizia ele. "Eu preciso de amor...".
Bryan o chamou para comer e ele cortou todas as suas vozes. Correu com o irmão até em casa. Senti que aquele pingente havia trazido a ele um pouco de esperança...
Descansei e esperei ansiosamente o momento em que eles ficariam juntos. Aqueles meses pareciam uma eternidade! Mas, enfim, Setembro chegou, trazendo o outono consigo e o amor aos corações. Era um clima tão gostoso... vê-los juntos me trouxe uma paz interior inigualável.
Me peguei descobrindo que eles não eram só opostos: eram complementares. E foi assim que eu mudei e juntei a vida de Alisson Phill Waston e de Nathan Raccon Meyd. Eu sou o começo de tudo.
Eu era o tão enigmático, misterioso e anônimo -- embora famoso -- portador dos pingentes.
Eu criei Yin & Yang.
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Yin & Yang | A Sintonia de Dois Opostos
Teen FictionNathan e Alisson não tinham nada a ver um com o outro. Eles sequer se conheciam. Não estava nos planos dela viajar para a cidade dele. Mas, como nesses típicos clichês de romance, a mocinha sempre encontra o mocinho. Nathan não é nenhum mocinho. P...