Nathan não havia falado com Lis - e, consequentemente, com o resto do grupo - pelo resto do dia. Saíra da escola - já à noite - e fora para a parada furioso.
"Quem aquela garota pensa que é? O que ela acha que sabe sobre mim? Ugh, que raiva! Se pudesse, eu... ghah!" - ele pensava, fervendo de raiva, enquanto esperava o ônibus.
Ele era realmente o único que iria para aquele ponto, que era um pouco afastado do movimento dos alunos. Ficava em uma rua um pouco escura, bastante larga, com as paredes de folhas de um residencial de um lado e muros de uma fábrica do outro. Um lugar belo, ou pelo menos de dia. Talvez a ausência de outros estudantes se desse pela atmosfera sinistra da rua.
Barulhos não escutados por Nathan foram emitidos do meio das árvores. Ele batia o pé no chão, nervoso e ansioso. Provavelmente perderia o primeiro ônibus que passasse ali. Estava distraído demais para prestar atenção em qualquer ruído, movimento ou coisa.
Foi quando sentiu as duas orelhas serem puxadas para trás, como se alguém tentasse arrancá-las de sua cabeça. De repente, simplesmente não conseguia mais escutar nada.
Natan entrou em desespero, sua única reação era gritar. Afinal, mesmo que tentasse falar, não conseguiria sem poder ouvir. Com os olhos lacrimejantes ardendo, viu duas figuras masculinas à sua frente, aparentemente rindo. Ele não podia ouvir aquele riso, mas o sentiu na alma.
A primeira figura, sendo esta também a mais alta, o empurrou com força, fazendo-o cair ao chão. Nathan não conseguia reconhecer aqueles vultos - talvez pelas lágrimas nos olhos -, nem reagir a eles - talvez pelo medo. E aquela primeira figura gritava coisas obscenas, incompreensíveis para ele no presente momento, mas que doíam como se fossem escutadas. Logo, os dois vultos haviam se abaixado e, rindo, davam-lhe tapas, apontavam para o rosto do garoto de forma ameaçadora, empurravam-no com os pés.
Nathan já estava nervoso antes; agora, entrara em desespero. Tudo o que conseguia fazer era gritar, mas já nem mesmo tinha voz para tal, então gritava em silêncio. Os tapas eram fortes, mas sua ferida era no coração, na alma. Sentia-se completamente como um nada, inútil sem seus aparelhos auditivos - aquela sensação sempre fora seu maior medo, e agora tinha que encará-la daquela forma. Era como um pesadelo, mas a dor física o mostrava, impiedosamente, que estava acordado.
Por fim, um soco no rosto e uma cuspida; os vultos se foram, correndo. Nathan ainda permaneceu deitado por um tempo, chorando incontrolavelmente. Pôs as duas mãos no peito e abraçou seu pingente, antes oculto pela blusa da farda da escola. Sentia-se humilhado, em todos os sentidos.
Demorou para reerguer-se. Sequer conseguia procurar seus aparelhos auditivos. Estava tonto. Sua cabeça doía. Os olhos ardiam. O corpo estava trêmulo. Seu coração pulava e ele estava para vomitar. Relutante, conseguiu enxugar suas lágrimas, mas os olhos continuavam vermelhos e as dores ainda não haviam passado. Fungando, assoava o nariz na própria blusa, que já estava suja. Deu alguns tapinhas para limpar-se. Com dificuldade, pôs-se de pé. Abraçou novamente o pingente e, cambaleando, caminhou até a beira da avenida. Sentiu que fosse cair na rua e ser atropelado. O clarão amarelo dos faróis do ônibus pareceu quase cegá-lo, e seu braço pesou ao dar sinal. Subiu agarrado às portas e teria caído com o movimento do veículo, se não estivesse segurando-se. O corpo parecia pesar mais do que a mochila que carregava nas costas. Não passou logo pela catraca. Sentou-se e parou para respirar, ofegante. Sentiu sua cabeça girar e a visão ficar turva. Cerrou os olhos e recuperou a respiração normal. Ficaria bem logo, logo. Era forte. Tinha que ser.
______________________________________Lis ia com a cabeça encostada na janela do ônibus, pensando no plano de Adam e Sean, preocupada. Sabia que os dois iriam simplesmente executar o que planejaram, e o pior é que ela não conseguira ajudar a impedir nada.
"Como você está agora, hein?" - ela perguntou-se em pensamento, tirando seu pingente para fora e o abraçando com uma das mãos, dando-lhe um suave beijo.
_____________________________________________________"Eu... estou bem, agora", pensava Nathan, enquanto observava a paisagem que corria lá fora.
Por aqueles instantes, inconscientemente, os dois haviam feito telepatia pela primeira vez... mesmo que não soubessem.
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Yin & Yang | A Sintonia de Dois Opostos
Ficção AdolescenteNathan e Alisson não tinham nada a ver um com o outro. Eles sequer se conheciam. Não estava nos planos dela viajar para a cidade dele. Mas, como nesses típicos clichês de romance, a mocinha sempre encontra o mocinho. Nathan não é nenhum mocinho. P...