14 | Amizade Verdadeira

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  Lis estava cabisbaixa no dia seguinte. Sentia-se como se fosse um nada para Nathan. Tudo o que ela fizera por ele, agora fora por água abaixo. Mas não podia ficar assim. Alisson Waston era forte demais para sofrer por alguém como ele. Tinha que ser forte, mas a dor de perder um amigo era muito dura para ela, principalmente em dose dupla.

  Chegara melhor na escola, de queixo erguido, como em alguma música de Pitty. Nathan cruzara várias vezes com ela no corredor, mas os dois apenas trocavam maus olhares. Ele com raiva, ela decepcionada.

  Em uma aula em que ficara com Daya em sua sala, esta questionou o motivo do mau humor de Lis.

  "Ontem tivemos uma briga. Sean queria que Nathan parasse de falar comigo, mas eu o defendi. E para quê? Para ele dizer que Sean é seu único amigo verdadeiro nesta droga de escola." - Lis escrevera em uma página do seu caderno - "Por que eu me preocupo tanto com aquele idiota!?"

– Olha... o Nathan é assim mesmo. Ele sempre foi de dar valor a quem quer o mal dele, sabe? O ruim é que ele vai sofrer muito, se continuar assim...

  "Eu não quero ver ele se machucar..."

– O que podemos fazer? Ele vai ter que aprender, e pelo visto, essa é a única forma. – dizia Daya, observando a expressão triste de Lis -- Sabe, eu vi a dança de vocês ontem. Pareciam ser um belo casal... e, sabe, todo casal tem seus desentendimentos.

  "Eu não vou deixar. Não vou deixar que ele se machuque! Eu vou... defendê-lo até o fim... não vou desistir por causa de uma briguinha tão insignificante", escreveu, ignorando a parte em que Daya os vira como um casal.

– Mas para quê? Isso não vai mudar nada no jeito dele de valorizar as pessoas.

  "Pode ser que não... mas eu não quero deixar por conta do destino. De novo, não."

– Como assim? – pergunta Daya, arrumando seu cabelo.

  "Eu não quero falar sobre isso... tudo bem pra você?" – Lis estava cabisbaixa.

– Tudo bem. Ei... – Daya tocou-lhe o queixo, erguendo sua cabeça – Sempre que precisar, eu estou aqui, tá bem?

  Lis sorriu, ainda triste, e a abraçou ternamente. Aquilo era o que os humanos chamam de amizade verdadeira.
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– Anda, diz logo, o que foi que houve? – perguntava Selly, encostada na parede, sentada em sua carteira.

– Eu tive uma briga com a Lis... – disse Nathan, sentado com os braços cruzados sobre a mesa e a cabeça baixa, apoiada na mesma.

  "Briga? Então o casal já tem até brigas? Puxa, esta é para casar!", pensou Selly.

– Hein? Por quê? – pergunta, sorrindo curiosa.

– Porque ela está tentando me afastar do Sean, sendo que ele já era meu amigo há muito mais tempo... – Nathan estava tristonho.

  "E eu não era sua amiga há mais tempo que ela, Nathan!?"

– Lis não faria isso... ela deve ter seus motivos. – afirmou Selly, pondo um dos pés sobre a cadeira.

  Selly já estava com o psicológico afetado. O veneno de Sean, as informações de Daya, a aproximação de Lis...

– Isso é o que você diz. Sean é meu único amigo verdadeiramente confiável nesta escola, e de repente, chega uma garota e diz: "um dia você vai enxergar quem ele realmente é". Isso me deixou tão p*to, que-..

  Selly era agora nada mais que uma bomba-relógio.

  Tick-tack, tick-tack, tick-tack...

  Ca-boom!

– Hahah, então você realmente acha que só o Sean é seu amigo verdadeiro? Pois bem, vá desabafar com ele então, seu babaca de merda! – Selly dizia, rindo psicoticamente – Você realmente não sabe quem ele é...

– Quem é você para me dizer isso, sua doente mental!? – Nathan levantou-se da cadeira.

– Ha! – ela punha-se de pé também, empurrando-o de volta para a cadeira – Sou uma amiga verdadeira, não é isso que você considera como amigo de verdade? Oh, então deixe-me ser a amiga verdadeira que você não teve! – Selly tentava agarrar-lhe o pescoço, sendo detida por movimentos rápidos dos braços de Nathan.

– Sai de mim! Você é louca! – ele tentava empurrá-la, mas de alguma forma, Selly era muito forte.

– Tão perdida quanto a Alice, tão louca quanto o Chapeleiro... – ela dizia, sempre sorrindo.

  O sinal soou para o início da aula.

– Isso não vai acabar assim. Guarde minhas palavras... Nathan Meyd, você não pode escapar de mim.

-- Você precisa muito se tratar, Selly. -- dizia ele, saindo daquela sala.

  Nathan cambaleava atordoado pelos corredores. De onde aquela garota tirava tanta força!?

  A caminho de sua sala, cruzou com Sean, que o cumprimentou.

-- Nathan... você está bem? -- ele abriu os braços, como se o garoto estivesse prestes a desmaiar.

-- Sean! É você... que bom... -- balbuciou Nathan -- Você... não está mais com raiva de mim, está?

-- Não, não estou, amigo. Sei que só quis ser justo. Agora, eu vou cuidar de você, está bem?

-- Ah, Sean... me desculpe... -- Nathan deixou-se cair no abraço dele.

-- Está tudo bem, tudo bem...

-- Você é o meu único amigo verdadeiro... sabia?

-- Nathan... -- ele sorriu, sem deixar que o outro percebesse -- ...me sinto honrado por isso.

  Um quarto de Sean estava comovido. Os outros três queriam terminar o serviço e destruir aquele -- segundo Sean -- deficiente auditivo medíocre de uma vez por todas.

  A maioria estava ganhando...

Yin & Yang | A Sintonia de Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora