Yin & Yang | A Sintonia de Dois Opostos

35 | Despertar

Eu entro no meio deles, com os braços abertos. Estamos num galpão enorme, eu os segui até aqui. Matt caiu no chão e Annie caminhava até ele, empunhando o canivete com aquela mesma expressão macabra de antes. Essa garota é louca...

"Não."

"Toque."

"Ele."

Faço três gestos bem precisos, de forma bem lenta e bem clara, para que Annie compreenda mesmo sem entender os sinais. Eu a encaro com uma expressão ameaçadora e firme, e ela parece me desafiar. Minha expressão se desmancha quando vejo um pingente de "Yang" balançar em seu peito, por fora de sua roupa. Me sinto estremecer, paralisar.

— O que faz aqui, mudinha? — ele fala, claramente de forma pejorativa.

Eu levo um tiro no peito. A voz que havia dito aquelas palavras soara fria e impiedosa, me atingindo intencionalmente. "Mudinha". Naquele momento, a única coisa que eu conseguia sentir era nojo. Nunca achei que alguém pudesse ser tão desprezível a tal ponto.

  A garota à minha frente me observa em silêncio, já sem sorrir, aparentemente também assustada com tais palavras.

  Me viro de costas. O olhar de Matt de ódio é repugnante. Ainda caído no chão, meio que sentado, apoiado sobre os próprios braços, ele me encara, mantendo firme sua expressão de fúria.

  "Queime."

  "Inferno."

  "Odeio você."
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  Tudo parece ficar escuro de repente, e eu só consigo ver ele em meio ao bréu. Não há extremidades em nenhum ângulo, é como se estivéssemos em meio ao vazio. Matt se levanta em súbito, tão assustado quanto eu. Olhamos ao redor, em várias direções. Nada à vista.

  Repentinamente, começamos a ouvir vozes e paramos para escutá-las. São nós dois, como se flashbacks estivessem passando por nossos subconscientes ao mesmo tempo. Um delírio compartilhado? Que sintonia estranha é essa?

  Escuto falas de Matt e risos meus. Nós rimos, choramos e conversamos. Em flashes, várias versões de nós dois passam pela gente, cada uma mostrando um momento diferente da nossa vida... juntos? Mas tudo parece ser passado, e não futuro.

  Há momentos de risos e choros, de graça e de dor, de brigas e brincadeiras. Há também momentos um tanto íntimos, que eu prefiro não revelar. Nós dois estamos tão vermelhos quanto tomates maduros, ao ver todas aquelas supostas "lembranças" correrem por dentre a nossa mente.

  Os flashes, então, começam a cessar, junto com as vozes. Olhamos um para o outro, sem entender o que estava acontecendo.

  É quando uma luz começa a ascender-se e a brilhar no meio de nós dois. Ao diminuir seu brilho, ela começa a girar circularmente, e percebemos que forma o símbolo Tei-gi — o clássico e famoso símbolo de Yin & Yang —, girando infinitamente em perfeita sintonia, brilhando e completando-se em uma relação mútua.

  No mesmo passo e ritmo, nós dois nos aproximamos daquela luz, estendendo aos poucos nossas mãos para tocá-la. Ao nos percebemos perante o símbolo, que paira à altura do tronco, hesitamos. Depois de segundos, nos encaramos e, confiando um no outro, tocamos ao mesmo tempo. Ele pára de girar.

  A luz se expande e nos lança para bem longe. É tão brilhante que eu prefiro fechar os olhos firmemente, cerrando-os.
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  Lis abre novamente os olhos. Está novamente em seu cantinho escuro da escola, sentada, com o rosto ainda um pouco úmido por conta das lágrimas, além de uma forte dor de cabeça e uma leve tontura.

  "O que... onde eu estou? O que aconteceu? O que eu estou fazendo aqui? Ai, minha cabeça..." — ela pensa, colocando a mão na testa e massageando-a de leve, enquanto tenta entender o que acontecera.

  Ao passar da tontura e o amenizar da dor de cabeça, Lis consegue enxergar melhor o lugar, e olha primeiro para o chão — por já estar sentada e de cabeça baixa.

  Aos seus pés, há um pequeno pedaço de papel. Nele, está escrito:

  "Aquilo que o destino uniu, nem toda a força do Universo é capaz de separar. Assim como Yin e Yang: não só opostos, mas complementares. Porque um depende do outro para existir, e vice-versa, porque há uma relação mútua entre os dois. E a sintonia é inabalável e imortal, e durará por gerações e gerações, e cruzará séculos e séculos, mas nunca se extinguirá, porque nunca deixarão de renascer e existir. Falta um pontinho no lado Yang, e seu nome é Yin. Falta um pontinho no lado Yin... você sabe o nome?"