37 | "Obrigado"

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— Lis... o seu pingente... — diz Nathan, já sentado no chão, ainda com o corpo da garota sobre o seu.

  Os dois olhos se encaravam fixamente, bem próximos. Estavam abertos depois de um longo beijo, terno e quente naquele fim de tarde que já começara a esfriar. O Sol ainda se punha; o céu, cheio de cores pinceladas num mosaico louco de cores vivas com tons pastéis.

  Um casal sentado na grama, rodeado por flores, sobre um pequeno pátio onde sempre é primavera. No batente, um garoto quieto observa o que é o amor, com os olhos azuis brilhando e os cabelos vermelhos voando. Uma lágrima lhe molha a bochecha, ao perceber tamanha beleza naquele sentimento. Ele sorri, encantado.

  Os cabelos de Lis, longos e soltos, balançam com o vento como a juba de um leão monarca e exuberante. A boca de Nathan, lisa e corada, brilha à noite como o pêlo do lobo sob a luz da Lua.

— O nosso pingente. Somos um só, lembra?

  Ela agora tinha voz. Baixa, mas suave. Tão docee terna, exatamente como Nathan outrora sonhou.

— Somos opostos. -- ele responde, fitando-na.

— Somos complementares.

— Somos só você... — e ele coloca-lhe o pingente, como quem premia alguém com uma medalha — ...e eu.

— Para sempre? — ela pergunta, de forma doce e inocente.

— Até que as forças do Universo nos separem. E você sabe o que diz o pingente...

— Aquilo que o destino uniu, nem toda a força do Universo pode separar... -- ela abaixa o olhar num curto silêncio, que logo se quebra -- ...mas para sempre é muito tempo.

— E ainda é pouco para nós.

— Nathan...

— Lis... sua voz é tão doce e suave... tal como eu sonhei

-- Você sonhou com a minha voz? -- ela sorriu.

-- Foi a única coisa boa daquele pesadelo... -- havia certo medo em seu olhar, como se ele ainda estivesse assustado com a ideia de perdê-la.

  A expressão dela mudara de apaixonada para aflita. Ela ergueu docemente seu queixo, fazendo com que ele a olhasse nos olhos. Em seu olhar verde, estava escrito: "me fale sobre esse sonho, eu vou te consolar. Vai ficar tudo bem..."

  Ele suspirou.

-- Eu queria chegar até você. Eu queria... te abraçar, sentir seu cheiro, saber que você estava do meu lado... -- os olhos dele brilhavam, molhados -- Rosas te tiravam de mim. Sean te tirava de mim... e você ficava cinza. Sem o pingente, Lis, sem mim... você era cinza. -- ele abaixou a cabeça e deu uma pequena pausa, enquanto ela ainda o observava atentamente -- E eu... eu estava desvanescendo. -- disse, reerguendo o olhar, aos prantos.

  Ela o abraçou, confortando-lhe a cabeça em seu peito. Ele desabava sobre ela, chorando como uma criança, e a abraçando como se não quisesse soltá-la nunca.

-- Lis... eu não quero te perder... eu não quero te perder nunca... -- ele apertou mais o abraço, reciprocamente.

-- Não vai me perder, pequeno... -- ela sussurrava-lhe ao ouvido -- Ninguém vai me tirar de você, tá bem? Nada, nem ninguém, vai me tirar de você... -- Lis beijava-lhe a testa, acariciando seus cabelos.

-- Me diga uma coisa...

— O que é?

— Você é um anjo?

— Depende do seu ponto de vista.

— Como assim?

— Alguns dizem que anjos têm asas. Outros, que não existem. Há ainda quem diga que anjos são pessoas muito boas. Eu digo que um anjo é todo aquele que sente amor, porque esse sentimento pode vencer qualquer coisa.

Yin & Yang | A Sintonia de Dois OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora