1.3. Enterro

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O dia seguinte começou mais cedo que o habitual. Ainda que o sol não tivesse raiado, e que todos se sentissem cansados e esmagados, Joaquim já estava acordado e reunido com a família no maior aposento da Casa Grande. Naquele horário, já deveria ser possível escutar o labor habitual dos escravos na Fazenda do Pombal, porém reinava o silêncio, e o sol parecia que não iria nascer nunca.

Às 6 horas, Domingos designa dois negros para cavar uma cova perto do oratório. Cerca de duas horas depois, o trabalho é concluído, e todos aguardam a chegada do padre. O sítio ficava a mais de 100 quilômetros da capital Vila Velha, mas a paróquia mais próxima fica na Vila de São João del-Rei, a menos de dezessete quilômetros de distância. Este percurso o sacerdote, galopando furiosamente, percorreu em pouco mais de duas horas, devido ao relevo sem estradas, com a necessidade de cruzar dois obstáculos: o temido Rio das Mortes, caudaloso e de águas escuras, e o rochoso Rio Santo Antônio. O peso do material levado pelo cavalo, bem como algumas lavras de mineração no caminho, também impunham intempestividade à marcha.

Os sete irmãos, bem como a maior parte dos escravos do sítio, estão preparados para a cerimônia. O pai, junto com o filho mais velho e um escravo, trazem uma caixa contendo os restos mortais de Antônia. Joaquim esboça um protesto: "Pai, aqui não é solo sagrado, mamãe merece um enterro digno". O pai, sem olhar ao filho, apenas diz: agora não é o momento, conversaremos depois.

O padre havia chegado pouco depois da cova estar cavada. O sol está a pino quando são concluídas as leituras de trechos dos SantosEvangelhos. Joaquim, que já havia assistido a outros enterros, percebeu que os ritos transcorreram de forma bem mais ágil que o normal.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora