3.6. A taberna do Pão Queijado

30 13 40
                                    

Joaquim chegou à Vila dos Aimorés antes de amanhecer. Ao alcançar o acampamento, deitou na grama, fechou os olhos e sentiu os primeiros raios de sol. O irritante barulho das aves parecia disparar pontadas na cabeça do Tiradentes. Após descansar por duas horas, ele levantou e ordenou a Pedro que fizesse café extra forte.

- Hoje a missão é longa, Pedrinho. Esta é a área mais perigosa em que já estivemos, então tome cuidado. Você vai à Paróquia da Vila dos Aimorés e fale com as pessoas comuns. Finja que seu mestre irá chegar em breve para ir ao Mosteiro do Buarco Sagrado. Observe a reação das pessoas. Não revele nada. Eu vou voltar a Cuietés para investigar mais.

- Como, patrão? Cadê o Mano?

Joaquim baixou a cabeça, triste, e chacoalhou para as laterais, num sinal de "não". O escravo entendeu o recado.

- Vou disfarçado a Cuietés, mas não pretendo voltar ao Mosteiro por enquanto. Algo sinistro ocorre lá, e se eu for descoberto, pode ser que não saia com vida.

- Essa roupa de mascate chama muita atenção, patrão. Use umas roupas minhas, e coloque esta barba postiça.

A ideia era ridícula, mas, como não havia outra melhor, Joaquim começou a se disfarçar. Retirou as roupas suadas, sujadas e rasgadas de mascate, e colocou os trapos fedorentos que Pedro lhe forneceu.

Pegou o outro cavalo e seguiu para prospectar informações em pontos da cidade. Pedro ficou organizando os produtos antes de partir para sua própria tarefa de investigação. Sentiu-se triste ao pensar não precisaria cuidar dos cavalos hoje, pois um estava morto e o outro com o chefe.

***

A missão era informal e Joaquim pensou que seria interessante começar pelas tabernas e bares de Cuietés. Em função do Mosteiro do Buraco, a cidade havia crescido, e o mapa indicava três tabernas principais. Deixou o cavalo fora da cidade, num ponto mais fácil para a fuga e que não colocasse o animal em risco desta vez.

Resolveu começar pelo menor estabelecimento, que era a Taberna do Mineiro Cego. Pediu uma cerveja, cujo sabor era de meia suja e fermentada. Falou com o taberneiro e com alguns clientes, mas não obteve informações relevantes. Ele estava tão cansado e maltrapilho que as pessoas não lhe dirigiam o olhar

Após a segunda bebida, seguiu para o Bar dos Três Patos. Lá pediu um vinho temperado. Matutou: "Bebo porque é útil no relacionamento com esses populares, e não porque gosto de duas bebidas a cada ponto de verificação". Ficou pensando se esse pensamento era verdade ou uma mentira útil e perigosa. Não descobriu nada neste bar, mas um dos vadios ali presentes ficou exaltado com as perguntas de Joaquim, então ele saiu, sentou-se abaixo de uma árvore e descansou, enquanto o álcool baixava para ele ir ao ponto principal e mais movimentado da missão.

***

O terceiro bar a ser visitado seria a Taberna do Pão Queijado. Finalmente ele poderia tomar uma cerveja de melhor qualidade, e apreciar a tradicional receita de pão queijado em formato de pequenas bolas. Esta iguaria era encontrada em toda a capitania de Minas Gerais naquela época.

Mas o que Joaquim não imaginava é que um encontro decisivo ocorreria fora da taberna. Ele desceu uma ribanceira para buscar o local indicado no mapa da cidade, mas notou que nos arbustos atrás dele havia um vulto. Ele olhou e viu que a sombra era rápida e esguio.

Resolveu continuar andando, e sente o vulto, com roupa preta e olhos ferozes. "Droga, estou bêbado e não quero ser atacado agora, não sei como estarão meus reflexos numa batalha com vampiros. Bom, eles não me atacarão num local público". Bateu com força o sino colocado na entrada da Taberna do Pao Queijado e empurrou a grossa porta de madeira.

Após entrar na taberna, ele senta de costas para a janela e de frente para a porta, numa postura atenta. Nada acontece, até que, cinco minutos depois, um rude garçom, peludo, lhe traz o cardápio. Ele pede uma cerveja e meia dúzia do pão típico que ali é servido.

Após dar o primeiro gole, sente o grosso bigode postiço coçar, como se houvesse formiga saúva. Um risco preto cruza a cabeça e uma má sensação lhe atinge. É a percepção de que a porta não era a única entrada, e um ser inesperado havia entrado por outro caminho e sentado em uma mesa próxima. E ele não pode virar a cabeça de forma brusca para olhar, porque isso pode abrir alguma brecha nova para o ataque.

Ele vira a cabeça lentamente, e percebe que é o mesmo vulto que o seguiu do lado de fora da Taberna. Olhando com calma, ele percebe que parece ser humano usando um estranho capuz. O perseguidor bebe uma taça de vinho escuro.

Ele mantém a visão central na porta, mas estabelece uma olhada de leve, com o canto de olho, para o vulto. Até que percebe que a figura está tirando o capuz. Após a remoção do pano da cabeça, ele senter um leve choque ao perceber que é uma moça mais jovem do que ele.

Cada um se mantém sentado em sua mesa, até que Joaquim termina sua cerveja. Nesse instante, o garçom para ao lado da mesa. Joaquim o encara, e o tosco garçom lhe dá um desdentado sorriso e diz:

- A senhorita ali pagou esta bebida para o senhor.

E lhe serve um vinho escuro.

A barba postiça volta a formigar.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora