O grupo sai do mosteiro e caminha até a área do estábulo. Joaquim apressadamente prepara a cela de Mano e diz:
- Obrigado, daqui sigo sozinho.
- Nada disso, temos ordens de garantir sua segurança – responde um dos padres.
Ao menos quatro monges preparam cavalos para seguir com ele. Mas ele não espera e sai em disparada.
- Perdão, irmãos, mas meu pessoal precisa de mim agora!
Ele nota que os quatro cavalos já estão em seu encalço, e em um deles há duas pessoas.Ainda bem que Mano, um belo corcel marrom considerado o mais veloz do trem de Joaquim, vai despistar esses padrecos em poucos quilômetros. Após seguir alguns minutos pela estrada de pedras, ele salta por um arbusto e começa a cavalgar uma campina. O caminho irregular, cheio de cactos espinhosos, certamente irá facilitar a fuga.
Joaquim segue na direção de uma colina. Após aquele obstáculo volto à Estrada dos Pajés, pensa ele, lembrando do mapa que analisou por várias semanas seguidas. Ao chegar no cume, pela primeira vez reduz o ritmo, para descansar e reavaliar a situação. As pernas de Mano estão ensanguentadas, mas infelizmente os quatro perseguidores continuam na missão, levantando poeira e mantendo um bom ritmo.
Ele volta a cavalgar, mas do outro lado da colina não há estrada alguma, apenas pedras. Maldito mapa! – pragueja.
Transcorrer pedras irregulares não é uma missão nova para a dupla Joaquim e Mano, mas a velocidade é seriamente prejudicada. Joaquim prossegue, mas fica assustado ao perceber que três monges saltam pelas rochas, rodeiam, usando as mãos naquele parkour selvagem e medieval.
- Raios, vai ser difícil permanecer à frente deles, o cavalo não é eficiente neste terreno. Mas tenho que tentar...
Em um declive, uma das pernas de Mano afunda em uma saliência invisível, e o animal faz um som que provoca um choque no cérebro do Mascate. Ele percebe que a pata está quebrada e vai ter que se despedir do amigo...
- Calma, que demônio é esse no seu corpo? Venha conversar, irmão! – O monge grita, a menos de cinquenta metros de distância. Joaquim começa a correr a pé.
A corrida continua e o sol está se pondo. Não posso voltar a terreno aberto e plano ou serei alcançado pelos cavalos, ele pensa. A área rochosa está próxima de se esgotar, e ele se direciona a uma área cerrada, com árvores irregulares.
Neste mato fechado, à noite, vai ser difícil eles me acompanharem. Corro mais riscos também. – Ele pensa, mas infelizmente o som dos monges mostra que ainda estão próximos.
A mata fica rala, até que se abre para uma enseada de areia e um grande rio. Joaquim não pode parar: se joga, cruza a nado e, na outra margem, tenta seguir uma direção diferente. Poucos minutos depois, o som de várias pessoas afoitas mostra que a distância é mínima...
De repente, um grito. Parece haver uma pancada, algazarra, algo aconteceu com os monges. Ele não quer descobrir o que foi e, ainda que tomado pelo cansaço e próximo ao esgotamento, mantém seu ritmo máximo.
A noite está cada vez mais escura, e aumentam o número de nuvens que cobrem a lua e as estrelas. O som dos perseguidores parou. Joaquim chega a outro riacho e resolve se sentar na areia para beber água e descansar.
Alguns minutos depois, uma voz firme, ofegante diz:
- Joaquim. Não sou do mosteiro! Vamos conversar?
A parca luz dificultava a visão. A poucos metros de distância, um sujeito de batina está com as mãos espalmadas e desarmadas. O rosto angulado não parece nenhum sacerdote que ele tenha visto antes, mas não dá para ver direito nem ter certeza.
- Sou o Padre Rolim. Tenho informações sobre os seus dois irmãos.
- Padre, estas informações são tudo que preciso. Posso confiar em você?
- Pode, diz o estranho, dando dois passos à frente.
Nesse momento, Joaquim atira areia e pólvora no rosto do padre, e corre na velocidade máxima! A pólvora não iria servir mesmo, pois está molhada, mas certamente o olho de seu sinistro oponente vai arder por algumas horas, inviabilizando a continuação da perseguição.
Bastante tempo depois, ele constata que não está mais sendo seguido. Está difícil se guiar pelas estrelas, pois o Cruzeiro do Sul está totalmente encoberto pela neblina. Para não indicar onde está seu acampamento, ele galopou na direção contrária à Vila dos Aymorés, e agora terá que caminhar dezenas de quilômetros, à pé, numa floresta, no breu e sem rumo aparente.
Gotas de chuva começam a cair e se tornam progressivamente mais espessas.
- Vai ser uma noite longa...
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Tiradentes Jovem contra os Vampiros
VampireJoaquim José é um menino de nove anos que vive feliz com a família na Fazenda do Pombal. Porém tudo que ele sabe sobre a realidade está prestes a mudar. Venha viver uma aventura diferente, aprender sobre história do Brasil e enfrentar diversos tipos...