Após o almoço, o adolescente Joaquim José da Silva Xavier, de 15 anos, e o Doutor Sebastião Leitão chegam a uma rua bem arborizada da Vila de São José, sem calçamento e com uma casa branca de tinta descascada. Um cachorro triste, fora da casa, está deitado roendo o próprio rabo.
O adolescente aprendiz carrega uma mala que contém todos os itens que seu preceptor e professor do ofício de dentista prático utilizará no trabalho de hoje.
- Dona Tita, aqui é o vosso tiradentes, o senhor Sebastião Ferreira Leitão – disse ele, após bater três vezes na velha porta de madeira ressecada pelo tempo.
- Quem éé? – uma voz lenta, aguda e fraca diz lá de dentro.
- É o senhor Leitão, dentista, vim lhe atender, abra por favor.
Eles esperam, e após alguns segundos notam um vulto na cozinha, iluminada por um candeeiro. É a Dona Tita, olhando pela janela. – Estou indo -, a voz aguda repete duas vezes a frase.
Ela desaparece e alguns minutos depois abre a porta.
- Doutoooor Bigooooode, é o senhoooor? - Ela grita, alguns segundos após abrir a porta.
- Sim, recebi a mensagem de sua empregada Milê. Ela disse que a senhora precisa tirar dois dentes, vamos fazer esse serviço.
- Que bom que o senhooor veio, e acompanhado desse belo rapazinho! Não fique tão sério, rapaz. O que fico triste é que a maldiiita escrava milêê deu o recado errado. Eu nããão quero tirar dois dentes, eu quero é colocar! E o senhor demorou, por culpa dela!
- Senhora, para colocar, primeiro vamos retirar os que estão podres, e medir para que eu possa fazer os moldes.
Eles caminharam até a cozinha da casa, onde havia uma cadeira de madeira, com costas grandes.
Dona Tita sentou-se e começou a se queixar do sotaque português do dentista. Ela era uma portuguesa que adorava falar mal dos portugueses. Depois, praguejou contra o dentista, a escrava mensageira, os índios, os quintos cobrados por Portugal e os padres.
Joaquim apanhou na mala uma toalha branca, que Sebastião colocou em volta do pescoço de dona Tita.
- Aaai, - tem manchas de sangue nessa toalha – alardeou a velha.
- Calma, Dona Tita, a toalha foi lavada, isso são manchas de uso porque lavamos com produtos químicos para esterilizar o material.
- Aaaaai, nada de química heim? Só ouro! Os dois moldes têm que ser de ouro, tal como meus outros dentes aqui.
- Tá bom, senhora, mas lembre-se que a senhora teria que fornecer o ouro para os moldes, ou pagar adiantado por ele.
Depois de mais meia hora de discussão do contrato da extração de dentes e preparação dos implantes, o dentista começou o serviço. Dona Tita reclamou dos ferrinhos que entravam em sua boca, e ele explicou que eram apenas para examinar. Ela mostrou com o dedo os dentes que doíam.
O Doutor Leitão disse ao sobrinho:
- Joaquim, apanhe a chave de garangote.
- Ahn, a ká? – foi o som que Dona Tita gritou nesse momento.
- O quê? Disse o jovem.
- É o boticão, Joaquim. Aquele grande.
Naquela caixa com mais de cinquenta ferrinhos, o aprendiz pegou a peça de cabo gordo, parecida com a letra T, e entregou ao tio.
- Dona Tita, eu e meu ajudante vamos segura-la por um momento, ok?
- Nãããoooo, peraí. O dente não é desse lado!! – gritou ela.
- Calma, não mostrei nenhum lado. Realmente há dois dentes comprometidos, um de cada lado, conforme a senhora nos mostrou.
Quando o doutor está presentes a tirar o dente, ela começa a se debater e gritar – pera, pera, peraí!!
Eles a soltam para que ela possa falar: Esse dente não está doendo não, acho que é do outro lado só.
A risada gostosa e forte do aprendiz ressoa na velha casa.
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Tiradentes Jovem contra os Vampiros
VampireJoaquim José é um menino de nove anos que vive feliz com a família na Fazenda do Pombal. Porém tudo que ele sabe sobre a realidade está prestes a mudar. Venha viver uma aventura diferente, aprender sobre história do Brasil e enfrentar diversos tipos...