Tiradentes Jovem contra os Vampiros

2.3. Segunda carta do Seminário

Mariana, Minas Gerais, 11 de janeiro de 1768. Ao Meu Estimado irmão Joaquim José.

Caro irmão Joaquim José,

Saúdo você e reafirmo, por meio desta carta, a imensa saudade que bate em meu peito quando lembro de você, dos nossos irmãos e de nossos queridos pais. Rememoro com prazer a dádiva que foi nossa convivência na nossa Fazenda! O Todo-Poderoso é bom, e tudo acontece por uma razão, devemos agradecer pelo que temos e confiar no Plano Divino.

Faltam apenas dois meses para a minha graduação no Seminário! Quantos bons momentos vivi neste território sagrado, convivendo com tantos homens que beiram a santidade e que escolheram o ofício de se aproximar do Altíssimo. Aqui rezamos para expiar os pecados do mundo. E me sinto feliz!

Aprendemos inúmeras formas de purificação, e um dia a Santíssima Trindade há de me dar a chance de usá-las para purificar estas terras em que vivemos! Ainda não tive a chance de testar, mas hei de fazê-lo!

A Igreja, nos ensinamentos que temos, não apresentou a existência dos monstros sugadores de sangue. O cônego disse que Deus não permitiria que o mal assolasse esta terra. Em algum momento fiquei confuso, mas as orações e os dias de júbilo espiritual me confortam.

Travei com o Padre Toledo alguns diálogos sobre os vampiros. Ele me proibiu de falar disso em voz alta e de mencionar a qualquer outra pessoa. Mencionar este tema é pecado e eu poderia ser desligado desta sagrada vocação.

Mas o Padre Toledo tem me ensinado muito. Orações e armas físicas também. A purificação da água, transformada em benta, será um artifício que usarei para limpar e proteger os que amamos.

Nosso irmão Antonio está estranho. Tu acreditas que nas últimos três dias ele não respondeu aos meus chamados de bom dia, minhas bênçãos e trocas de palavras? Aceita-se que o silêncio, e o voto de silêncio, podem aumentar o poder do sacerdote, mas no caso dele parece ser um comportamento errático e anti-social.

O irmão Damião, que dormia no mesmo dormitório que nós, desapareceu. O Padre Toledo falou para eu não comentar com ninguém, e fizemos um grupo secreto para procura-lo. Não achamos qualquer pista.

Vi que há irmãos com a letra A tatuadas nos punhos. E essas marcas são assustadoras, e não são santas. O que mais me assustou é que vi Antônio conversando com pessoas com estas marcas.

Faltam apenas dois meses para concluir o Seminário. Então poderei ir ao Rio de Janeiro, onde serei ordenado oficialmente como Padre! Com todos as grandes responsabilidades que este grande poder traz.

Expressei minha vontade de, após graduado, voltar a Minas, com o ofício de Capelão, para atuar nessa terra querida. Acho que serei atendido.

Em breve estaremos juntos.

Um grande abraço,

Seminarista Domingos Filho