3.16. Regeneração

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Meu braço está ferido pelo impacto. Sinto a dor próxima ao cotovelo direito. Algum osso deve estar quebrado e vai doer mais tarde. Se houver mais tarde...

- Olá, bruxinha ruiva, nós já nos conhecemos? – diz o Bispo, com voz grave e oscilante, conforme caminha em minha direção.

Apesar da pancada, reúno forças para dar um salto. Tento respirar, descansar e restaurar minha magia, mas ele segue em meu encalço.

De mãos desarmadas, ele se aproxima de mim, mas não vou deixar que me segure. Não vou deixar que me toque.

Dou mais um salto e escuto a risada dele.

- Eu já perguntei e vou repetir. Quem é você? Diga-me ou morrerá sem me contar sua história.

- Saia daqui - eu grito, correndo até atrás da mesa, tentando ganhar mais tempo. Não vou deixar que me segure. Não posso deixar que me toque!

- É a sua última chance, garotinha infiel. – O bispo caminha até um tapete e continua – Salve sua alma e sua vida. Venha até mim, ajoelhe-se e peça perdão, e te pouparei.

- Nunca vou me ajoelhar para você.

- Então vai sofrer as consequências...

Ele se agacha e apanha a espada de um dos monges mortos. A arma parecia pesada, porém o religioso a manuseia com experiência e destreza.

- Como o senhor é tão ágil e forte, sendo um velho obeso?

- É a última vez que pergunto: quem é você?

- Eu é que pergunto: o que é você? Que tipo de monstro...

Os músculos do rosto do Bispo se contraem, as sombrancelhas cerram-se. Os lábios não mais sorriem, e as bochechas murcham com a extrema pressão maxilar. Ele vem em minha direção.

- Acho que me lembro de você. Internato em Vila Rica, certo?

- Não sou mais aquela garota – digo em voz lenta e arrastada, tentando circular pela sala e ganhar tempo.

Mas agora, com essa escrivaninha, ele bloqueou a outra diagonal da sala. Não tenho como recuar, estou ficando acuada, a espada aumenta o alcance dele.

- Que bom. Vou gostar de conhecer essa nova garota, como fiz com sua antiga versão. Eu já te toquei antes, menininha?

Meu braço direito lateja, e em um relance olho para o ferimento. Volto imediatamente a visão ao inimigo, e tento racionalizar o que percebi: o osso quebrado está exposto.

O bispo agora está muito perto.

- Vai me obedecer ou terei que usar a espada?

- Jamais vou te obecer – Eu grito - Não vou recuar nem desistir!

O bispo segura a espada com a mão esquerda. Com a direita, em um movimento rápido, ele agarra meu pescoço e trava minha respiração.

- Agora feche os olhos, garotinha... OBEDEÇA!

A última palavra não foi humana. Não foi natural.

Meus pensamentos começam a se escurecer. Um instinto ordena o movimento mecânico e minhas pálpebras se cerram.

Ele afrouxa minha garganta por alguns instantes, e faço força para respirar, engasgando.

- Agora vamos ver o que temos aqui...

Ele aperta de novo meu pescoço. Olha para as minhas pernas e movimenta o braço direito em direção a elas.

Era o que eu estava esperando.

Com minha mão esquerda, retiro um minúsculo recipiente.

Do canto de minha boca, com a garganta travada, solto as palavras da derradeira magia:

Tandem gladio!

A poção se consome e uma lâmina espectral, com precisão cirúrgica, realiza um corte no ar, que atinge a região próxima ao ombro do Bispo Silva. Um jorro vermelho é acompanhado de um grit de terror do religioso. Seus olhos do religioso se abrem revelando espanto. No instante seguinte, ele não tem mais o braço.

Silva cai no chão. Vejo uma enorme poça de sangue.

Finalmente. Consegui.

Caio para trás, sentada no chão, com a força do embate. Esse feitiço me deixou com uma grande dívida de energia magica. Tive que sacrificar um pouco da minha energia vital para realizá-lo.

Não vou conseguir realizar novas magias, e estou muito cansada para correr ou fugir. Esse foi meu último golpe.

Se ao menos ele ficasse no chão... Se morresse...

Mas...

O sangue parece escurecer e não está mais escorrendo. Vejo algumas bolhas surgindo no líquido.

Ele também se movimenta...

Ele se senta... Olha para mim, e fica de pé.

- Sua maldita! Vai pagar por isso! Desta vez não vou ter misericórdia!

A voz dele soava cada vez menos humana. É como se ele não tentasse mais esconder...

Eu ainda estou sentada no chão, a dois metros de distância dele.

De repente, surge uma pequena massa no local do braço decepado.

Vejo mais matéria se acumulando ali... Até que, de repente, uma pequena explosão de vapor amarelo preenche o corpo dele.

Quando o vapor se dissipa, vejo que, no lugar do braço dele, surgiu um enorme tentáculo verde!

Essa estrutura corporal está coberta de ventosas pegajosas, pequenos mecanismos que se grudam ao solo quando o tocam.

O tentáculo realiza um movimento ondular, e vejo que das ventosas escorre um líquido transparente e viscoso. Quando suas gotas tocam o chão, a pedra do piso se corrói e pequenos pontos de fumaça surgem no local.

- E agora, menininha, como vai ser?

Ele dá um passo em minha direção.

- Agora lascou... – Digo.

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⏰ Última atualização: Aug 20, 2019 ⏰

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Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora