3.14. Confronto sagrado

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Ego sum umbra!

Tenho dois minutos para percorrer o trajeto antes de ser detectada. Gosto de transitar pelas sombras, mas sinto a angústia e o vazio me preencherem.

Abrir o alçapão é a parte mais arriscada. Assim que o faço, eles começam a gritar e três monges armados adentram o túnel. Conto até vinte e salto para o interior do mosteiro. Corro, tentando ser silenciosa, escolho paredes, sombras e brechas no trajeto previamente planejado no Mosteiro do Buraco Sagrado.

Nas memórias de Joaquim, vi que esta escada leva ao meu objetivo. Os sacerdotes e guardas da igreja estão alertas, alguns nervosos, mas não deixam seus postos. A confusão ajuda e eles não me notam. Tenho que ser rápida, a magia das sombras está quase acabando.

Aquela porta está selada e é intransponível. Mas sempre há outros caminhos. Por meio daquele vão de ventilação, consigo sair do mosteiro. Ah, como é bom respirar este ar puro. O risco agora é ser vista escalando este telhado lateral, mas não me importo. Em breve não poderão fazer nada a respeito.

Estou a poucos metros de meu objetivo. O plano está traçado. O momento pelo qual tanto esperei. Mas por que continuo lembrando de Joaquim? Eles agora devem estar em apuros. Eu não causei isso, mas talvez tenha agravado a situação, ainda mais depois que abri o alçapão principal de conexão entre a mina de ouro e o Mosteiro do Buraco Sagrado.

Aquele tolo parece gostar de mim. Ele é legal, mas eu... eu não sei o que sinto. Não devo sentir. Treinei mais de dez anos para ser uma arma, tudo para este momento. Preciso esvaziar minha mente de quaisquer pensamentos que não sejam esta batalha. Chegou a luta que coroará tantos anos de guerra.

***

- São quatro invasores, Vossa Santidade. Inclusive o Joaquim Xavier. Também estão no grupo o escravo, o Padre Rolim e uma bruxa que não conseguimos identificar.

- Excelente – diz o bispo Silva, unindo as mãos e fazendo um movimento com os dedos. – Ele está exatamente onde queremos. Ele não é uma pessoa comum. Será muito útil tê-lo a nosso serviço.

- Que bom que está tudo dentro dos planos de Vossa Santidade. Mas as últimas notícias não são boas. Conforme vosso comando, enviamos dois epíscopos e dez legiões de rabones... Mas nossas tropas recuaram, um epíscopo e incontáveis rabones foram eliminados. E três dos quatro seguem vivos. Um dos disparos telecinéticos do epíscopo atingiu o escravo, já deve estar morto a esta hora.

- A perda desses rabones e do epíscopo foi um gambito... – o bispo pausa por alguns instantes, antes de continuar falando. – Um sacrifício planejado, perda aceitável. Diminuir parte dos vampiros de nossas tropas alivia o ônus de alimentá-los. O estoque de fiéis e índios não é infinito. E fico feliz de saber que o escravo do Tiradentes está morto.

- Mantém a ordem, Senhor Bispo? Matar o padre e a bruxa e capturar com vida o Tiradentes?

O bispo fechou os olhos e ficou em silêncio..

- Senhor bispo, vossa santidade está bem?

O som agudo de vidros se partindo apavora o assistente. O líder religioso segue com os olhos fechados.

***

É agora ou nunca. Aquele belo vitral será facilmente partido por minhas botas de couro. Seguro uma adaga na mão esquerda e um pergaminho na mão direita. Pego impulso e com as duas pernas rompo o vidro.

Cacos voam e tenho menos de dois segundos até cair no chão. Tempo suficiente para avaliar a situação e iniciar o ataque. Vejo quatro pessoas na sala: o Bispo Silva, um sacerdote magro e idoso à frente dele, e dois monges fortemente armados perto da porta. Grito um encanto: ostium obstruxit!

Antes de cair no chão, atiro uma adaga no assistente do Bispo. O velho cai morto.

O bispo está imóvel, de olhos fechados. Não parece ter se assustado com a quebra da janela.

Os dois monges sacam espadas e correm em minha direção. É a hora de usar o que preparei.

Ignis combussit eos!

O pergaminho em minhas mãos se queima, queimando-me. Coloco as duas mãos à frente, e delas saem poderosas chamas. A força é tremenda, caio com um dos joelhos ao chão, o outro segue firme. Mais um pouco... E os monges estão mortos, tostados.

O bispo pela primeira vez esboça reação. Ele fica de pé, abre os olhos e espalma a mão direita. Sou atingida por uma força invisível, que me arrasta descontroladamente até eu me chocar com a parede. Sinto gosto de sangue na minha boca.

Silva está andando em minha direção

- Tola. Você gastou energia inutilmente ao lacrar a sala. Ela já estava bloqueada por fora. A magia que usou contra os dois guardas foi interessante, mas consumiu seu pouco mana restante. Vejo que não sobrou quase nada em você.

- Você sabe quem eu sou? – Pergunto, ofegante.

- Não... Mas vou gostar de saber...

Ele passa a língua nos lábios lentamente. Escutoo som de um chocalho. A sombra nojenta dele cobre meu corpo, e estamos a menos de ummetro de distância.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora