3.15. Confronto profano

43 4 20
                                    

O Tiradentes Joaquim, seu escravo Pedro e o Padre Rolim estão em um túnel de uma antiga mina de ouro que deveria estar abandonada. A realidade é outra: como formigas atraídas por um bolo no jardim, centenas de rabones caminham enchendo os caminhos à frente e atrás do trio, que está totalmente cercado. Até no teto há monstros.

Um Rabone é o tipo mais comum, e mais burro, de vampiro. Normalmente ele ataca humanos de forma quase irracional. Mas desta vez os monstros se agrupam em fileiras, de forma organizada, bloqueando os caminhos, mas sem ações ofensivas.

Abre-se um espaço e, do meio da multidão, anda um jovem loiro, elegante e com finas roupas de seda. Está sério, mas de repente abre um sorriso, revelando caninos vampíricos que parecem ansiosos por infligir sofrimento. Seus olhos azuis brilham de maldade.

O coração de Joaquim bate mais forte enquanto seu estômago se contorce. Aquele vampiro é um turrino. Mais do que isso: ele reconhece o mesmo branquelo afrescalhado, o playboy vampírico do século XVIII que havia liderado um ataque à Fazenda do Pombal. Foi o dia da morte de Domingos, pai de Joaquim.

- Você deu sorte, Tiradentes. A bispo querr Joaquim viva, mas não deu orrdens sobre a negrro. Tenho orrdem de matarr a padrre.

- A sorte não existe, és idiota? Deus não joga dados! Venha enfrentar-nos em uma luta justa! – gritou Rolim, empunhando o sabre.

- Não exxista mesmo. Se uma achidente acontecerr e o Tirradentes morrerr, vou botar a culpa nos rabones... E o escrrava.. Não me exqueci quanda voxê derrubou a água em nós na Fazenda do Pombal e acabou com meus planas.

- O que você quer? – Perguntou Joaquim.

- Quero todos vocês mortos... Ataquem – disse o vampiro. Em suas mãos, uma pequena bola elétrica crescia.

Os vampiros caíam do teto e avançavam por todos os lados. Pedro, com o cabo da maça, tentava manter os monstros afastados, enquanto Joaquim e Rolim usavam suas lâminas para perfurar o coração dos inimigos.

O trio estava cansado e a batalha seguia de forma insana. Muitos vampiros foram eliminados, mas o estoque de monstros parecia infinito.

Quando um vampiro se pendurou na arma de Pedro, o peso fez com que ele não conseguisse defender o perímetro do grupo. Outros o agarraram pela perna, até que ele caiu.

Quando tudo parecia perdido, Joaquim acionou a energia mística de sua espada, gritando:

- Luz do Pombal!

Um brilho instantâneo fritou dezenas de rabones.

O playboy vampírico soltou uma gargalhada e disse:

- Hah! Essa trruque não vai funcionarr de novo. Vejo que sua espada estar descarregada!

Pedro se levantou, mas o espaço de poucos metros, aberto pelo brilho da espada, logo se fechou com nova ofensiva das criaturas da noite.

- Precisamos de um plano – disse, ofegante, o Padre Rolim. Ele segurava, na mão esquerda, uma cruz, que parecia assustar alguns vampiros, mas não era suficiente para matá-los. Evitando o símbolo religioso, os monstros pareciam procurar outros ângulos para ferir o sacerdote.

- Concordo com um plano – emendou Joaquim, golpeando dois rabones enquanto falava – Mas qual? Não temos como escapar, e não temos qualquer tipo de força mágica.

Pedro, com movimentos de grande amplitude, dilacerava a cabeça de vários vampiros, permitindo a manutenção de uma linha defensiva. Ele sugeriu:

- Vamos voltar para a escada?

- Não vejo como – disse Joaquim – os caminhos estão tomados.

- De novo, irrmãos – Gritou o dândi turrino – Ataquem o negrro, derrubem a arrma dele!

Dois vampiros grudaram na maça de Pedro, e ele teve que soltar o cabo.

Com apenas uma faca na mão, o escravo subiu em uma pilha de corpos de vampiros pulou e segurou em uma estalactite. Do alto, ele sugeriu:

- Vamos fugir pelo teto, aqui quase não tem vampiros. Pendurem-se nessas coisas!

Joaquim e Rolim estavam quase se entregando. Havia muitos monstros e as forças para seguir na luta se esvaíam. A sugestão de Pedro parecia maluca, mas o Padre Rolim, rezando e falando palavras estranhas em latim, não viu alternativa. Tomando impulso em uma lateral da caverna, ele conseguiu se grudar em outra estalactite.

Joaquim lembrou-se da mãe. Ela não iria aprovar a desistência em um momento desses. O mascate subiu na mesma pilha de cadáveres que Pedro havia usado instantes e se pendurou em outra estalactite.

Os vampiros pulavam, tentavam alcançar o trio, mas faltava sagacidade para isso.

Neste momento, um pequeno som de rochas paralisou por alguns segundos os monstros, que pouco

- Cuidado, um desmoronamento! – Gritou o Padre.

A estalactite a que Joaquim estava agarrado se despreendeu do teto, indo velozmente para o solo. Pedras e terra caíram sobre o mascate.

Uma luz acima do túnel se acendeu. O rompimento da cobertura da antiga mina de ouro abriu caminho para superfície, permitindo a entrada de raios do sol. Muitos vampiros que se aglomeravam morreram queimados.

Os poucos monstros que sobreviveram fugiram rapidamente do local, agora iluminado pela janela recém-aberta.

- Isso não vai ficarr assim!! – gritou o playboy vampírico, afastando-se do local. Ele usava uma capa para se proteger da iluminação.

Pedro e Rolim desceram do teto, e verificaram que Joaquim estava completamente soterrado.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora