3.7. Ana Lopéz

40 13 31
                                    

- Será que este vinho está envenenado? Não vou arriscar tocar minha boca neste líquido, ele pensa.

A garota dá um sorriso. Ele tenta esboçar um sorriso para responder, mas os músculos faciais não parecem estar sob seu controle. A barba postiça está torta. Alguns segundos depois, ela se levanta e vem caminhando em sua direção. Ele se treme, olha para ela sério. Ela senta-se na mesa de Joaquim.

- Senhora, vossa senhoria deveria perguntar para saber se pode se sentar. Aqui não é lugar para mulheres. Não se deve oferecer bebidas a estranhos também, eu não vou beber isso.

Ela pegou a taça, intocada, e virou metade do líquido.

- Você está correndo grande risco, rapaz. As perguntas que você fez nas outras tabernas chamaram atenção indesejada.

- Do que você está falando? – ele disse.

- Estou falando dos dois fanáticos que estão escondidos, aí fora do bar, esperando você sair bêbado para te pegarem – ela respondeu, com ar de superioridade.

- Como assim? Eu nem te conheço, por que está falando tudo isso?

Ela pegou o copo de chopp, tomou o restante do líquido e disse:

- Meu nome é Ana Lopéz. Eu... – ela silenciou por uns instantes, baixou a cabeça e a voz antes de continuar – eu também estou procurando alguém que eles pegaram. A organização deles é forte, e algum olheiro deles delatou sua conversa nas outras tabernas. Imagina se eles souberem que você é o mesmo maluco que gerou terror no mosteiro ontem...

Ele chacoalhou a cabeça, mas não disse nada. Ela continuou:

- Temos que sair daqui logo, antes que cheguem mais acólitos agressivos. Podemos escapar de dois deles, mas se houver mais, estaremos encrencados. Bora?

- Como sei se posso confiar em você? - Ele perguntou, sem saber o que fazer.

Ela levantou e disse: vamos sair agora. Você vai ter que confiar e descobrir o restante no caminho.

Joaquim José também ficou de pé e caminharam lado a lado. Antes de abrirem a porta, Ana diz: eles estavam escondidos do lado direito da porta. Vamos sair rapidamente pelo lado esquerdo, nosso plano é correr para despistá-los. Eu vou na frente?

- Como vamos fazer isso?

Não houve tempo para resposta. Ela abriu a porta e saiu decidida. Ele correu atrás.

Após dez segundos correndo em velocidade média, Joaquim notou três coisas: a primeira, realmente havia duas pessoas, com roupas de frade, os perseguindo, mantendo distância constante; a segunda é que a garota que corria à sua frente era bem diferente do vulto que ele tinha visto inicialmente. Correndo sem a capa, dava pra ver que ela estava fisicamente treinada e conseguiria fugir de forma mais ágil que ele, e possuía cabelos vermelhos e cacheados como um furacão de goiabada; a terceira coisa é que ele estava um pouco bêbado e correr e notar tantas coisas, ao mesmo tempo, estava perigoso.

Eles não haviam conseguido despistar os acólitos. Chegando a uma área iluminada, o casal diminuiu o ritmo e foi alcançado pela outra dupla. Joaquim coloca a mão em sua lâmina, pronto para sacá-la.

Um dos padres já chegou falando, com voz monocórdica:

- O senhor vem conosco, ouvimos sua pergunta sobre a nossa ordem. Está nos questionando em lugares públicos? Seu irmão Domingos Filho desapareceu por conta própria, não adianta nos difamar. O cônego irá entrevistá-lo. Ele está capacitado a tirar o seu demônio.

- Não iremos, diz ela.

- Eu não te convidei, mocinha. Mas vamos levar o rapaz, são ordens... – ele pega uma faca, e completa – superiores. O outro padre também pega um sabre.

Joaquim ficou preocupado. Caramba, eles já sabem que sou eu? Ele arranca a barba postiça e também faz uma menção de pegar sua lâmina.

O líder dos monges diz: a menina nós vamos picotar, e você terá um fim mais lento.

Porém a mais rápida a de fato usar sua arma foi a moça. O instrumento de ataque, no caso, era um saco de pano que ela retirou da bolsa. Num movimento rápido, ela tirou o laço, e de dentro do invólucro retirou um pé, que atirou ao chão e gritou: linea accendi! Perdant!

Uma linha de fogo de formou na frente dos dois padres. Um deles derrubou o sabre no chão e bate no próprio braço, tentando apagar chamas ilusórias. A ruiva disse: vamos correr agora!

Desta vez, não foram seguidos, e, após caminhar mais de 20 minutos, chegaram a uma região cheia de casas geminadas. Ela abriu a porta de uma e eles entraram.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora