3.12. Masmorras, minas e vampiros

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Os quatro prosseguiram até chegar a uma nova decisão: desta vez havia três caminhos, nenhum com trilhos. O Padre Rolim tomou a iniciativa:

- Que tal se desta vez pegarmos o túnel central? Ele parece ser ascendente, e pode ser útil ficar próximo à superfície. Provavelmente são interligados e chegaremos ao calabouço de prisioneiros.

- Se não sabemos para onde vamos, esse caminho é tão bom quanto qualquer outro. Acho sensato subir e está de acordo com o que me lembro dos mapas – respondeu a maga Ana López.

- Estou de acordo. Vamos seguir o túnel que sobe. Mas prestem atenção! – afirmou Joaquim, apontando para o chão.

Havia pegadas e não eram poucas. Todos os caminhos aparentavam ter movimentação recente no chão. Assim que entraram no túnel central, notaram que ele era sólido, como uma construção de pedra que se alargava, mas havia barro e sujeira para todo lado.

Forte odor de amônia e fezes começou a incomodar. Havia lixo espalhado: moscas e baratas se acumulavam em restos de alimentos, dejetos humanos e o que pareciam ser corpos. O eventual barulho de ratos assustava o grupo.

O padre falou:

-Vejam, minha tocha já está apagando.

- Isso significa que estamos aqui há mais de uma hora. O sol já deve ter nascido, lá fora é dia. Temos que nos apressar, nossas tochas...

Antes de completar a fala, Joaquim foi interrompido por um empurrão de Pedro, que gritou:

- Cuidado!

Uma rocha brilhante, em trajetória veloz, por pouco não atingiu o mascate, agora caído no chão.

Barulhos, passos, gemidos e gritos foram se intensificando.

- Vejam! São vampiros!

À frente, era possível ver dezenas de rabones bloqueando o caminho do túnel. Rabones são os vampiros menos inteligentes e mais numerosos do mundo.

- No teto também!

Alguns rabones rastejavam no teto da caverna, se agarrando a estalactites e fazendo caras ameaçadoras. Pareciam uma estranha mistura de lagartixa, morcego e rato.

Joaquim nunca havia visto uma aglomeração tão grande de monstros e ficou receoso.

- Aquelas luzes... Epíscopos! – Disse Ana.

Apertando os olhos, o mascate viu, em meio aos rabones, duas figuras que se destacavam. Dois vampiros longilíneos, sérios, altos, com orelhas pontiagudas. Um deles aparentava ter sido mulher. Agora não tinham mais gênero, eram monstros. Na mão de cada um deles, um brilho mágico que se intensificava.

- Aqueles são epíscopos? – Ele perguntou.

Antes de haver resposta, os brilhos foram disparados e eles tiveram que se esquivar. Foi possível ouvir dois impactos explosivos ao fundo do túnel, onde os projéteis se chocaram.

Iniciou-se uma batalha insana na caverna. Padre Rolim segurava uma cruz na mão esquerda e um longo sabre na mão direita. O artefato religioso emanava um calor tranquilo que atordoava as criaturas da noite, que eram rapidamente decapitadas pelo sabre.

Ana assumiu posição defensiva e partículas vermelhas se concentravam entre suas mãos, enquanto ela disse:

- Epíscopos são vampiros que atacam a distância. Alguém os achou parecidos com padres, por isso o nome..

Das mãos de Ana López, o que aparentava ser uma bola de fogo cruzou os ares e incinerou um dos epíscopos. Também evaporaram vários dos vampiros que o cercavam.

Joaquim segurava a tocha com a mão esquerda e a balançava para manter distância dos agressores. Com a outra mão, segurou a espada Luz do Pombal, cujo brilho eliminou vários rabones. Também conseguiu dar golpes no coração ou decapitar monstros.

De repente, o Tiradentes escorrega em uma pedra solta e perde o equilíbrio, indo ao chão. Três rabones que estavam no teto pularam ao chão se aliaram às tropas terrestres. Ele percebeu que estava cercado por quase incontáveis monstros. Não havia escapatória.

Com o cabo da arma, Pedro abriu caminho e se posicionou à frente de Tiradentes. O escravo pegou a massa e, soltando um grito grave e contínuo, realizou um movimento giratório completo, que estraçalhou uma dúzia de crânios dos agressores. Joaquim levantou-se e assumiu posição ofensiva com sua espada.

O epíscopo restante percebeu que o número de vampiros estava declinando rapidamente. Ele recuou, e os rabones os seguiram. Aos poucos o túnel foi esvaziando, até que apenas os quatro amigos ficaram na câmara escura. O silêncio estabeleceu-se e nem os ratos faziam barulho.

O Tiradentes observou que a última tocha acesa estava caída no chão. Sua chama se esgotaria em menos de um minuto.

O negro dobrou um dos joelhos no chão e se abaixou. Emitiu um gemido.

- Pedro! – gritou Joaquim. - Ele está ferido na barriga!

Abaixo das costelas, um rasgo na camisa revelava profunda queimadura, com uma incisão.

- Não há como ele sobreviver. – Pensou o Padre. - Se houvesse mais luz, talvez pudéssemos ver os órgãos vitais.

A última tocha se apagou, e o escuro pareceu devorar o grupo. O escravo, inconsciente, caiu ao chão.

***

- Rápido, acenda mais uma tocha – disse Ana.

Tiradentes estava abraçado a Pedro. Rolim esforçou-se para realizar o comando da maga.

- Só temos mais cinco tochas, disse o Padre.

Iluminada pela chama, ela terminou de pegar algumas substâncias em sua bolsa. Ana López apertou as mãos e disse:

- Quia vita navitas.

Ela abaixou-se e tocou o ferimento de Pedro. Ele deu um sobressalto de dor.

- Ainda está vivo! – disse Joaquim – mas não vai poder continuar com esse machucado.

- Calma, espere – ela disse.

Ela manteve a pressão por alguns minutos. Depois, sentou-se.

O Padre aproximou a tocha. O ferimento parecia cicatrizado.

- Milagre! – gritou Joaquim .

- Ou bruxaria? – disse em voz baixa Rolim.

Demorou até que Pedro abrisse os olhos. Ele levantou-se, colocou a mão no abdômen e falou:

- Estou pronto, temos que continuar.

- Preocupa-me termos poucas tochas. Ana, pode fazer o feitiço da iluminação de novo?

- Não. Estou sem mana. Vai demorar até eu conseguir fazer qualquer magia.

Pela primeira vez desde que tinham se conhecido, a voz dela parecia muito fraca.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora