3.8. Planejamento tático

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O mascate Joaquim José da Silva Xavier ainda sentia a pulsação cardíaca altíssima. Ele não sabia bem onde estava, nem se era um local seguro, mas aquela garota era mesmo muito bonita.

Olhou em volta e percebeu paredes empoeiradas, com cheiro de mofo. Na sala praticamente sem móveis, reparou em uma cama de palha no chão. Não havia janela visível. A luz entrava por frestas na lateral do telhado.

Ana aparentava estar relaxando mais rapidamente. A moça dirige-se para o lado oposto do aposento, onde havia garrafas, potes, folhas e objetos estranhos. Ela acende o fogareiro, despeja água e uma infusão dentro de uma panela e começa a contar:

- Aqui é minha residência. Ou pelo menos assim será até o fim deste mês, quando pretendo concluir minha missão... Neste local você pode ficar tranquilo.

- Essa sua roupa. Vejo uma marca estranha na lateral – Joaquim apontou para um símbolo circular desenhado em ambas as mangas da camisa de Ana, perto dos cotovelos.

- Esta é a espiral da luz e vida. É o símbolo de um grupo de que faço parte, chamado Luz da Verdade. Somos mulheres e homens, praticantes da magia do bem, nossa missão é varrer a existência dos vampiros.

- Aquela magia do fogo foi legal... Mas será que ainda estão nos perseguindo? Como pode ter certeza de que não fomos seguidos? Hoje tive a prova de que esses monges são não apenas agressivos, são assassinos! Temo pelos meus irmãos. Ontem estive com o bispo e já senti algo sinistro.

Ao terminar de falar, Joaquim nota um incômodo na garota, uma insegurança que ela ainda não havia demonstrado. Ela se recompõe e explica:

- Eles não param até achar. Por isso que temos que tomar a iniciativa. Mas aqueles dois não nos seguiram, as visões do fogo não desaparecem tão rápido.

- Iniciativa nesse caso é arriscado... eu vim para cá, não achei meu irmão mais velho, e meu outro irmão não quer falar comigo. Preciso finalizar meus negócios comerciais antes de voltar para casa.

Ana despeja o chá em duas canecas, e, antes de servir, diz em voz mais baixa:

- Eu sei onde está o seu irmão.

O coração de Joaquim volta a ganhar velocidade. A primeira pista do irmão! Mas será que a garota era confiável? Não havia outra opção, pensou. Ela continou:

– Se ele foi preso, só pode estar nas masmorras da mina abandonada, atrás do mosteiro.

- Você conhece essas masmorras?

- Não. Mas já encontramos pessoas que escaparam de lá. É uma prisão no subterrâneo. Temos um mapa da região, vamos fazer um plano para observar a mina, sem chamar atenção. Com sorte, resgataremos seu irmão furtivamente.

O mascate cheirou a bebida, que parecia chá de camomila. Ele provou, sentiu falta de açúcar, mas preferiu não falar nada.

Ela retira de um tubo um cone marrom. Joaquim desenrola o artefato e vê que é um mapa. Ele examina e diz:

- Hmmm... Este mapa está mais atualizado que o meu. No meu, aqui havia uma estrada que na prática não existia! – disse ele, apontando para trás da representação da colina. - Eis o plano – pigarreou - vamos agora encontrar meu escravo Pedrinho para dividir a equipe e iniciar os preparativos. Entraremos com força total na mina!

- Calma! É mais prudente prospectar a área, além de adquirir material adequado. Que tal se o seu escravo vasculhar os arredores da mina? Eu e você vamos observar o mosteiro e adquirir defesas, provisões e armas adequadas.

- Conheço operações de ataque e penso que devemos entrar com tudo– disse Joaquim – mas desta vez concordarei com sua prudência. Amanhã faremos observações, e no dia seguinte o ataque.

- Você disse que esteve com o bispo. Sei que ele não ficaria em um local de acesso fácil. Conheço uma magia para acessar suas memórias e observar os caminhos internos do mosteiro por onde você passou. Você concorda em permitir que eu veja tudo que você viu lá?

Ele hesitou, mas fez o sinal de positivo com a cabeça. Ficaram alguns instantes em silêncio e terminaram o chá antes de prosseguir.

Fique sentado, ela disse.

Ana López levanta-se e toca suavemente as têmporas do Tiradentes, e ele sente um arrepio agradável que não parece relacionado à magia. As mãos eram macias e quentes. De repente, ela fala de forma decidida: memoriae regis!

Joaquim sente um choque em todo o corpo. Mais que um mero deja vu, era a vivência repetida dos fatos no mosteiro. Poucos segundos depois, ela retirou as mãos.

- Pronto, vamos agora ao seu acampamento?

- Antes de prosseguirmos, me conte sua missão. Você disse que até o final do mês vai sair desta casa? E, se vamos visitar uma mina abandonada, por que você está preocupada com a localização do bispo no Mosteiro?

- Minha missão é procurar uma pessoa que também foi capturada por eles. O bispo é o líder das atividades da masmorra. Tenho que garantir que ele ficará longe de nós durante a busca de seu irmão. Não há tempo para explicar tudo, vamos sair para encontrar seu servo antes que anoiteça.

Tiradentes Jovem contra os VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora