Tiradentes Jovem contra os Vampiros

3.1. Adulto

Em 1766, aos 20 anos, Joaquim José da Silva Xavier escreveu uma carta à Coroa portuguesa solicitando uma mudança de sua situação.

A lei da época estabelecia que a maioridade só era alcançada aos 25 anos. E ele suplicou o entendimento do Rei que ele precisava ser considerado legalmente adulto. Assim poderia gerenciar sua parte da herança deixada por seus pais e poder realizar comércio oficial, o que significava geração de taxas.

Esse argumento era irresistível e, para arrecadar mais imposto, o Rei Dom José aprovou a medida. O Ministro de Estado do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, assinou pessoalmente a carta de emancipação do jovem Joaquim José.

Assim ele se tornou adulto. Sua primeira ação foi reclamar a parte devida no testamento deixado por Antonia e Domingos, seus pais. Isso incluiu tomar posse dos escravos que lhe pertenciam. Um dos escravos que lhe coube foi dona Nena, que vinha com o amigo de Tiradentes, Pedro, agora um rapaz de feições africanas, da região etíope. Ele havia se torneio maior e mais forte que Joaquim. Joaquim prometeu ao amigo que, quando este completasse 25 anos, e caso permanecesse leal, ganharia sua carta de alforria.

Joaquim alugou uma casa em São João del Rey. Além de moradia, o local servia de armazém para seus produtos. Com a inclusão de seis escravos recebidos pela concretização da herança, ele começou a realizar operações maiores de comércio. Intensificou a atividade como como mascate, um caixeiro viajante que vendia produtos nos pontos remotos de Minas Gerais.

Mas um fato o incomodava. Fazia mais de seis meses que ele não recebia uma carta de seu irmão mais velho, Domingos Filho. Após se tornar Padre, Domingos Filho veio trabalhar como Capelão no Rio das Mortes, ao lado das cidades de São João e São José del Rey. Mas, após menos de um ano como Capelão, ele pediu transferência para uma missão mais difícil: catequizar uma tribo de índios botocudos em Cuieté, na divisa com o Espírito Santo. O plano dele envolvia descobrir a verdade sobre os padres com a tatuagem sinistra. E principalmente reencontrar o irmão do meio, Antonio. Ainda no Seminário, Antonio cessou as comunicações com a família e agora estava na catequização em Cuieté.

Já em Cuieté, o Padre Domingos Filho mandava cartas para Joaquim com frequência no mínimo mensal. Agora, o longo hiato de comunicação tornou o irmão tão preocupado que ele resolveu fazer a viagem até o remoto local em que o trabalho estava ocorrendo.

Como a viagem era cara e penosa, o mascate enviou algumas cartas a comerciantes locais, prometendo vender e comprar materiais de cada região. Assim a longa tarefa de buscar o irmão seria complementada com pequenas trocas que faziam a viagem ser financeiramente viável.

O principal objetivo comercial da longa expedição era obter o sal de ouro do sertão, um ingrediente raro típico daquela região. Este sal era um insumo de magia utilizado em escudos e proteções corporais.

Para vender, ele levava carne salgada, legumes, couro e roupas de algodão. As roupas eram manufaturadas ilegalmente, no subúrbio de Vila Rica. A coroa portuguesa proibia, em todos os territórios da colônia, esta manufatura, mantendo um monopólio dos produtos oficiais, vindos da Europa.

Todos os produtos foram carregados por Pedrinho, em uma pequena carruagem. Os dois cavalos eram não apenas o motor do transporte, mas podiam ser usados em missões especiais, pensou Joaquim.

Escondido no fundo da carruagem, levava também espadas, escudos, poções e outros objetivos que ele pretendia trocar naquela região.

Não poderia faltar, claro, o ouro, moeda universal daquela época, mais valiosa que os contos de réis utilizados pelos órgãos oficiais. Era transportado em pequeníssimas barras, derretidas ilegalmente nas forjas que escaparam da contagem oficial dos quintos.

Joaquim e Pedro partem de Vila Rica às quatro da manhã, para aproveitar o frescor e ganhar uma parte da longa distância a ser percorrida. Mais do que isso, essa seria a maior aventura de suas vidas.