Artur me olhou de cima a baixo, ainda estava sem a minha camisola. Mas logo pareceu espantar seu próprio pensamento.
- Podemos conversar! - Artur disse, se arrumando sobre os travesseiros.
- Sobre o quê? - eu me arrumei, sentando em sua frente.
- Como era no Brasil? Confesso que achei lindas algumas fotos que vi, mas onde você morava não tinha muita coisa do que eu vi nas fotografias.
- O Brasil é maravilhoso, você só viu a parte feia de São Paulo, porque as praias de lá são de tirar o fôlego. - me deitei sobre um monte de travesseiros, trazendo à tona as lembranças que tinha das praias que havia ido com a minha então família.
- As praias daqui também são lindas, mas nunca pude andar muito por elas. - Ele disse, colocando os braços em volta dos joelhos.
- Por quê? - perguntei.
- Posso não ser grande coisa para a princesa, mas para as plebeias eu ainda sou um príncipe. - Artur mudou seu tom de voz, mostrando certa tristeza.
- Você é grande e maior que eu. - Eu ri da minha própria piada. - Mas a questão não é o que você é e sim a forma como me trouxe até aqui. - Falei, falhando um pouco a voz.
- Eu sei que a princesa não queria estar aqui, mas precisa cumprir o seu dever diante do povo. - Seu olhar brilhava sempre que falava do povo.
- Mas como eu vou fazer isso se eu nem conheço o meu povo? E falando nisso, por que eu fui enviada para o Brasil e não um país mais próximo? - eu me sentei novamente.
- Não escolhemos para onde os bebês serão levados, é pela sorte. - ele me respondeu.
- Eu o olhei confusa. - A sorte?
- Sim, seus pais acreditam na sorte e nos seus ancestrais. - Ele me pareceu bem familiarizado com aquilo.
- Como assim?
- Eles jogaram a sorte, eles colocaram todos os países dentro do crânio do antigo rei, pois ele era mais experiente que todos e o país que lhe saísse pela boca era o escolhido. - Artur falou sem expressar nojo algum.
- Como eles faziam para colocar o papel no cérebro e sair pela boca? - perguntei, mas já enojada.
- Um pequeno caminho feito à mão, obra de artesão.
- Eu creio em apenas um Deus, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó.
- Eu acredito em um único Deus, em Alá, e Maomé é seu profeta.
- Você é sunita? - perguntei, desacreditada.
- Sou! - Artur usou um tom defensivo.
- Aí, meu Deus, vai ser mais difícil do que eu pensei. - Pensei alto.
- O que vai ser mais difícil?
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Uma Rainha sem Coroa
RomanceMeu nome é Alice, cresci em São Paulo, um dos lugares mais especiais do mundo para mim. Fui criada em uma família bastante tradicional, com mãe, pai e uma irmã. No entanto, recentemente, descobri algo que transformou minha vida de maneira radical: f...