Capítulo 1: Descoberta

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Martin~

Olho o relógio e marca 23h30min, já devia estar dormindo para a aula de amanhã. Mas estava tão entretido na leitura de um livro que não prestei atenção nas horas. Saio do quarto em direção à cozinha, para tomar um pouco de água, mas paro e fico no canto da parede assim que escuto uma conversa.

-O que vamos fazer? O aniversário deles é daqui a cinco dias. - Ouço minha mãe falar do alto da escada. Seu tom de voz emana uma grande preocupação.

-A outra escola ainda não deu respostas, o que temos que fazer agora é esperar. Não os deixe ir para escola que frequentam mais essa semana. - Meu pai diz. - Até lá devemos ter uma resposta.

Ambos tentavam conversar baixo, mas dava para entender tudo nitidamente.

-Temos que cuidar disso rapidamente. - Minha mãe se senta nos sofá e passa as mãos no cabelo.

- Sabemos como funciona a matrícula, o diretor tem que resolver como será tudo com a chegada deles e também resolver todas as papeladas com o conselho.

Meu pai vem em direção à escada e eu corro para o quarto da minha irmã, quase escorregando pelo corredor por causa das minhas meias.

-O que você quer?- Minha irmã perguntou tirando os fones de ouvido. ­­– Pelo menos bata na porta antes!- Marina não gosta quando entram no seu quarto de surpresa, e eu sei que estou errado. Mas o quarto dela é o mais próximo da escada.

- Eu acho que o pai e a mãe querem nos mudar de escola. – Digo e me sento na beira de sua cama.

- Eu acho que você entendeu errado, eles falariam com a gente primeiro. - Ela pareceu não se interessar no assunto.

-Os ouvi falarem na sala. E tem outra coisa que também não entendi, os dois estavam falando do nosso aniversário e que não é para nossa mãe nos deixar ir para escola. - Minha irmã senta na cama e fica pensativa.

- Talvez ele nos explique amanhã, você vai dormir aqui comigo?- Ela diz dando espaço no cobertor. Com certeza pensando em como seria deixar seus amigos da escola.

Dificilmente durmo em seu quarto, mas sempre gostamos da companhia um do outro. Apesar de todas as brigas entre irmãos, claro.

Deito-me junto a ela.

A Marina é minha irmã gêmea, é muito bonita, com cabelos longos e negros, pele clara pouco bronzeada, apesar de ela estar mais pálida que o normal, e olhos castanhos claros e eu, assim como ela, tenho cabelos negros na altura dos ombros, pele também clara, ainda mais clara por falta de tomar sol e tenho olho heterocrômico azul e castanho. A Marina sempre foi muito simpática com todos e sempre fomos bastante próximos. Nosso fenótipo foi herdado da nossa mãe, já o meu pai tem pele bem bronzeada, seus cabelos castanhos e olhos pretos.

-Você está com frio?- Pergunto assim que percebi que a Marina está tremendo. Toco seu braço e ela está com a pele fria.

Ela apenas balança a cabeça em confirmação.

Fecho as janelas e pego também outro cobertor e a cubro, desligo as luzes e depois volto a me deitar.

Agora a Marina já tremia menos. Não demorou muito para que eu acabasse dormindo.

Marina~

Acordo ainda com frio então decido tomar banho de água quente. Me peguei pensando no que o Martin disse, nos mudar de escola, se for verdade para onde iríamos? Mudaríamos de cidade ou seria perto de casa? As aulas acabaram de começar, então, academicamente não estaríamos perdendo muita coisa. Termino o banho, visto um vestido com alguns girassóis e coloco um casaco por cima.

Vou em direção à cozinha onde encontro minha mãe.

- Por que não nos chamou para ir ao colégio? –Pergunto. Coloco um pouco de café numa caneca e me sento numa cadeira.

-Essa é a semana do seu aniversário e do seu irmão, então eu pensei em deixá-los em casa está semana. -Minha mãe responde sem olhar para mim.

-Você quer nos mudar de escola?- Sou direta. Tomo um gole do meu café.

Ela olha para mim pela primeira vez desde que cheguei à cozinha com um olhar interrogativo.

-Você está com frio? Mas está fazendo quase 30° graus. - Ela diz mudando de assunto e também sua feição muda.

-Sim, estou. - Me limito a apenas responder isso.

Já estava prestes a me levantar e sair da cozinha quando meu pai entrou na cozinha com alguns papéis em mãos.

-O que é isso?- Pergunto curiosa apontando para os papéis em sua mão que ele lia atentamente.

-É melhor esperar seu irmão acordar. - Meu pai responde e assim que ele fecha a boca o Martin aparece na porta, coçando os olhos e bocejando. Seus cabelos completamente bagunçados.

-Acho que não vamos ter que esperar. - Falo um pouco baixo, mas o suficiente para meu pai ouvir.

Martin pega uma xícara com café e se senta.

-O que foi?- O Martin pode ser mais inteligente que eu, mas às vezes ele é bem burrinho para entender as situações.

Olho para o meu pai esperando resposta.

- Vocês mudarão de escola. - Ele deu uma pausa. - Eu sei que vocês não querem isso, mas no momento certo entenderão. - Olha para o papel como se estivesse fazendo uma leitura rápida.

-E porque a mamãe e você não nos contam o motivo agora?- Falo mais alto que deveria.

O Martim fica apenas observando a situação.

Meu pai olha para a mamãe.

-Eles saberão em algum momento e eu acho que não terá um momento certo a não ser este. - Minha mãe também se senta.

Me ajeito na cadeira.

- No sábado vocês fazem 16 anos e com isso vocês despertam algo dentro de vocês.

-E o que seria esse "algo"?- Martin pergunta.

- Um tipo de poder, que nós chamamos de Quirk, quando um jovem filho de alguém que também tem poderes, uma semana antes ou uma semana depois do seu aniversário de 16 anos, eles despertam esse poder, já alguns outros não os herdam. Também há casos em que mesmo os pais não tendo poderes seus filhos despertaram

- Vocês têm poderes?- Pergunto curiosamente. - Mas e como vocês podem saber que teremos poderes também. - Isso é loucura.

-Sim, nós temos poderes. - Meu pai chama a minha atenção e a de Martin também. - E vocês dois tem grandes chances de acontecer, talvez com você, Marina, já esteja acontecendo.

- Você está com frio num dia que está bastante calor. - Minha mãe diz indo até mim. - Talvez isso seja por causa do seu poder.

-E seus poderes, quais são e como nunca vimos vocês usarem?- Martin entra novamente na conversa.

- Meu poder é telecinese, eu consigo levitar as coisas. - Minha mãe demonstra levitando a xícara de café.

Nós nos levantamos com o susto que tomamos.

-O meu é fitocinese, o poder de controlar as plantas. Por isso o nosso jardim está sempre bonito. - Agora foi a vez do meu pai explicar e brincar da situação, como ele sempre faz. - Nós estudamos na mesma escola que vocês vão. Não foi fácil, mas conseguimos aprender a controlar nossos poderes e vocês também irão controlar o seu.

Tudo aquilo estava estranho demais, poderes? Isso realmente é possível?

Então quer dizer que todos os desenhos tem seu lado de realidade?

DEZESSEIS (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora