XII.

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Despertar não era uma tarefa tão fácil quanto imaginei, principalmente por causa daquela luz branca que dificultava minha visão.

Meus lábios estavam ressecados, cobertos por uma máscara que me auxiliava a respirar. Havia um cheiro forte de álcool hospitalar no ambiente, além de sentir uma fisgada no exato lugar onde uma agulha perfura a pele do meu braço.

Depois de muito esforço, consegui fazer com que meus olhos se abrissem e pude enxergar aquele teto branco que era típico de hospitais.

O medo preencheu com a possibilidade de estar sozinha naquele lugar. As memórias voltaram com tamanha brutalidade que minha respiração falhou por alguns segundos.

Senti-me novamente como uma criança, completamente sozinha em um quarto muito parecido com este, coberta por hematomas roxos causado por uma única pessoa: Amélie.

— Fique calma, Rae — ele segurou meu braço com delicadeza.

Me acalmei imediatamente quando avistei Vittorio entrar no meu campo de visão. Ele aproximou-se da cama onde eu estava deitada.

— Como se sente? — perguntou preocupado.

— O que houve? — tentei tirar a máscara de oxigênio, sendo impedida por ele. — Por que ainda estou usando isso?

— Ravenna, espere que alguma enfermeira libere...

— Por que estou aqui, Vittorio? — espero ter demonstrado minha inquietação no tom da minha voz.

— Você ficou semanas sem conseguir dormir direito, Ravenna — começou a dizer, sentando-se ao meu lado. — Está mais magra do que me lembrava, isso sem contar com a crise que teve ontem. Faz sentido que esteja aqui, não acha?

Nos silenciamos quando a enfermeira entrou no lugar, ela explicou brevemente os exames que havia feito. Aparentemente não tive nenhum problema grave, então poderia ir embora assim que terminasse o soro.

— O que mais aconteceu, Vittorio? — perguntei quando a mulher saiu do quarto, vendo-o jogado na cadeira desconfortável ao meu lado.

— Enquanto estava tendo a crise... Alguma coisa mudou em você — sua voz era sussurrada, não parecia querer manter contato visual comigo. — Seus olhos mudaram, Ravenna. Antes que pudesse notar, eu não respirava mais, pois você não respirava; não conseguia parar de tremer, porque você estava tremendo.

— Não consigo me lembrar, Vittorio — passei a mão pelo cabelo, sentindo os nós que se formavam nos fios escuros. — As memórias de ontem ainda estão nebulosas e nem sei se consigo lidar com o que está acontecendo comigo. Não quis te atrapalhar, Vittorio. Desculpe.

— Não há motivos para se desculpar, não foi algo que escolheu fazer.

Quando finalmente consegui ir embora daquele hospital, entramos em um carro que imagino ser o de Vittorio e passamos todo o caminho em silêncio. Não havia mais nada pudéssemos dizer um ao outro que apague o que houve na noite anterior.

Aos poucos, experimentei o sofrimento de tais lembranças, desde o casamento até a chegada ao apartamento de Vittorio, tudo voltava como uma avalanche. Sabia que estava perdendo o controle e as teorias mais malucas começaram a fazer sentido.

No caminho do estacionamento até a casa do meu amigo, percebi todos os moradores me observando como se eu fosse enlouquecer a qualquer momento.

— Eles que ligaram para a ambulância — ele respondeu, percebendo os olhares. — Ficaram assustados com os gritos. Acharam que você estava morrendo.

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