XIV.

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A escuridão nunca pareceu tão ameaçadora quanto agora.

Era difícil dizer quanto tempo havia se passado desde que me isolei em um dos quartos do apartamento de Vittorio. Os ponteiros do relógio pararam de girar desde que deixei Thor sem resposta definitiva, poderiam ter se passado horas ou dias, não saberia dizer.

Meu cérebro parecia administrar uma piada cruel, me obrigando a pensar nos pequenos momentos que estive tão perto de perder o controle. Aqueles que aconteceram antes de deixar Paris; antes de começar a morar sozinha; antes de Marjorie morrer...

Eu não quero pensar nisso, eu não vou pensar nisso.

Almejava ser racional quanto ao pensamento de partir até Asgard, apesar de saber que não conseguiria evitar o sentimento estranho por buscar pelas pessoas que me abandonaram, talvez seja curiosidade ou uma vontade mórbida de saber o motivo de terem feito aquilo comigo.

Não havia escolhas. Possuía consciência da minha ineficácia em me manter calma sobre a situação, então decidi não pensar muito quando peguei o celular ao lado da cama, ligando para a Torre. No entanto, somente quando ouvi a voz grave de Thor falando comigo percebi o tamanho do passo que estava prestes a dar, me perguntando se deveria ou não pedir desculpas por atacá-lo.

Não pedi.

Aceitei o convite de ir até Asgard, e apesar dele não consegui conter a própria felicidade, eu não pude evitar o sentimento de estar traindo minha mãe. Marjorie sempre foi sensível quanto ao fato de não ser minha mãe biológica, odiando quando falavam que não tínhamos semelhanças físicas, detestava me ouvir questionar sobre meus pais biológicos e sequer suportaria a ideia de me ver buscando por eles.

— O que eu preciso levar para esse lugar?

— Nós lhe daremos tudo que necessitar.

Encerramos a ligação com minha promessa silenciosa de que o veria no dia seguinte.

Meu próximo passo era ligar para Pepper, já que mesmo odiando a ideia de atrapalhar o casal na lua de mel, não poderia desaparecer sem comunicar à minha madrinha.

— O quê? — questionou confusa quando contei sobre minha ida. — Até ontem tinha certeza de que o Thor estava brincando você, o que mudou?

— Nada de relevante — suspirei. — Eu só quero acabar com a curiosidade.

— Tem certeza? E não minta para mim.

— Eu preciso disso, Pepper — apoiei a cabeça mais fundo no travesseiro, fechando os olhos.

— Você é adulta, sabe tomar suas decisões — se rendeu, soltando um suspiro cansado. — Por favor, tenha cuidado, apesar de Thor está com você, aquele lugar parece meio brutal.

Prometi que ficaria bem, porém, após desligar a ligação não tinha tanta certeza se conseguiria cumprir minha promessa.

Permitindo-me fechar os olhos e tentar relaxar, quase não notei quando o sol subiu aos céus, me tirando daquele sono angustiado.

— Você vai mesmo com ele? — perguntou vittorio quando o encontrei na cozinha de seu apartamento. Os resquícios da destruição que causei, já não estavam aparentes e ele lutava para agir como se tudo estivesse normal, mas ainda mantém certa distância de mim.

Como posso culpá-lo por ter receio?

— Sim — apesar da minha afirmação, eu sabia que não era aquilo que ele queria perguntar. — Eu vou ficar bem, Vittorio, não precisa se preocupar.

— Não disse nada — após alguns segundos de silêncio, ele continuou. — Ravenna, você tem certeza disso?

—Sim, eu tenho. Por que todo mundo me pergunta isso? Se eu aceitei é por uma razão.

— Não desconte em mim — elevou o tom de voz. — Se você está estressada, não deve jogar sua raiva em mim.

— Eu não estou estressada.

— Ravenna, você vai basicamente viajar para outro planeta, estresse faz parte.

— Vamos parar de falar de mim. Conte-me alguma coisa nova.

— Nada de extraordinário para dizer.

— "Nada de extraordinário" ainda significa que há alguma coisa — tentei sorrir animada pela fofoca, apesar de ter certeza que pareceu mais uma careta.

— Naya virá até Nova York — soltou sem me olhar nos olhos.

— Que interessante, mas de quem exatamente estamos falando?

— Naya Guerrero.

Definitivamente eu não esperava por esta resposta.

Naya Guerrero foi uma intercambista que conhecemos no ensino médio, ela e Vittorio tiveram o que eu gosto de chamar romance de fanfic com um toque de realidade. Naya era maravilhosa, apesar de ser tímida, a garota tinha um carisma contagiante e não me surpreendi ao descobrir que ele estava apaixonado por ela.

— Faz anos que não falo com ela — foi só o que consegui dizer.

— Confesso que estou nervoso, eu não vejo ela há tanto tempo — bagunçou os cabelos. — O que é suposto que eu faça?

— Não tem como eu saber — parei para pensar no contexto do que estamos falando. — Como você sabe disto se não fala mais com ela?

Vittorio tirou o celular do bolso e abriu no que pareceu ser uma conversa. Ele entregou o aparelho e esperou que eu leia.

"Oi Vittorio. Não sei se lembra de mim, mas queria saber se gostaria de sair num encontro comigo quando eu for para Manhattan em alguns dias?"

— Gostei da ousadia dela — falei com um sorriso de canto de boca. — Ela pressupõe que você não esqueceu dela e ainda por cima estava certa.

Olhando para ele, notei seu rosto e aquele olhar de pessoa apaixonada estava estampado.

— Que fofo! — me levantei colocando os braços ao redor de seus ombros. — Você parece aqueles personagens de romance que nunca esqueceram o romance de verão. É agora que vocês se reencontram e percebem que nunca deixaram de se amar?

Silenzio — disse se desvinculando dos meus braços.

— Isso não foi legal, contudo prometo que não estamos de mal.

Eu e Vittorio ficamos juntos durante o dia todo, sendo que quando tive que encontrar com Thor na Torre, ele se ofereceu para me levar.

— Cuidado — ouvi a voz baixa de meu único amigo, enquanto me abraçava. — Não tenho como te convencer a ficar e nem quero, só peço que tome cuidado.

Seu abraço parecia triste, como se fosse uma despedida. Eu não gostei.

— Não tinha certeza que apareceria — o deus comentou assim que apareci no mesmo ambiente que ele.

Continuei em silêncio. E então fomos até a sacada do prédio, onde a vista para toda Nova York era magnífica. Thor levantou a cabeça, colocou sua mão envolta de meus ombros me segurando firme, e com um tom de voz autoritário falou um nome que não entendi.

Senti algo puxando meu corpo com força, minha respiração parou alguns segundos enquanto observava as cores formarem alguma coisa como um arco-íris bem diante de mim. Era como flutuar, não há mais o chão que meus pés devem tocar, a sensação, apesar de maravilhosa, também conseguia ser incômoda pois existia uma pressão me impulsionando para o céu.

Quando voltei aos meus sentidos, fechei os olhos com a tontura que me atingiu enquanto apoiava minhas mãos nos joelhos.

— Acontece com todos, a Bifrost pode ser bem desconfortável para os que não estão acostumados — ouvi a voz do deus.

Levantei a cabeça notando o excesso de dourado naquela cúpula familiar, virei o olhar para o lado encontrando com o homem do sonho que tive há tempos.

— Bem vinda à Asgard, princesa. — o homem dourado falou com a voz grave me observando com atenção.

O que estão achando de "Ravenna" até agora? Estou muito animada para escrever e desenvolver a história.

Não se esqueçam de votar e comentar. Beijos.

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