28.

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As memórias mais recentes relacionadas ao meu sequestro se repetiam diversas vezes na mente que ainda estava nublada pela perda da consciência. Eu falava com Pepper quando tudo aconteceu, as mãos daqueles homens segurando meu corpo e impedindo que respirasse corretamente pela pressão que faziam no meu pescoço, logo depois facilitando que forçasse um líquido prateado por minha garganta causando o desmaio.

Tentei mover minhas mãos, mas elas estavam presas por correntes, meus pés também estavam acorrentados, comecei a me desesperar por minha total falta de mobilidade.

Abri os olhos com dificuldade devido a escuridão do ambiente, exceto pelas luzes que vinham das velas atrás de mim. Eu não conseguia enxergar nada à minha frente, tentei chamar por alguém, quis me soltar, tudo que fazia parecia inútil perante a minha situação catastrófica.

Ouvi o som alto de uma porta de metal se abrindo, virei meu rosto tentando achar de onde vinha o barulho, encontrando somente o escuro que cercava o lugar.

— Pensei que a poção fosse durar mais tempo. — a voz grave ecoou. — Parece que ela é mesmo resistente, a bruxa tinha razão.

— Quem é você? — perguntei insegura. — Por que estou aqui?

— Eu, princesa, sou seu pior pesadelo. — ele riu. — Sempre quis falar isso, mas agora é sério, nós temos algumas perguntas e você vai nos responder.

O homem caminhou lentamente até onde a luz iluminava seu rosto, pude ver a máscara que cobria toda a face dele, ele também usava roupas escuras e luvas de couro. Antes que pudesse pensar muito naquela aparência assustadora, recebi um chute no estômago causando tanta dor que quis me curvar, sem sucesso, acompanhado com outros em diversas partes do meu corpo como o peito, pernas e um soco forte na minha cabeça.

— Eu tenho só uma perguntinha, princesa. — ele sussurrou no meu ouvido. — Qual o plano de Hela?

— Vocês se enganaram, não sei quem é Hela, eu juro. — falei desesperada.

— Mentirosa, assim como o pai. — afirmou sorrindo. — Bom, agora podemos nos divertir um pouco mais até que decida contar as verdade.

— Não!

Depois de tantos chutes, socos e tapas, senti o gosto metálico de sangue na minha boca com tanta violência, queria me defender, porém tudo foi inútil contra ele.

Acho que se passaram horas desde que acordei, não havia janelas no lugar, então estava completamente perdida, sentia meu rosto inchar junto com meu corpo que estava dolorido.

Ouvimos uma batida na porta, outro pessoa entrou no cômodo, se aproximou do homem ignorando totalmente minha presença.

— Temos que ir embora.

O homem na minha frente concordou, meio contrariado, riu enquanto apagava a única vela que iluminava o ambiente.

— Te vejo mais tarde, princesa de lugar nenhum.

Sem conseguir ver nada ao redor, me encolhi no canto tentando amenizar o medo que sentia de ficar naquele lugar escuro, não entendia o motivo pelo qual estava acorrentada, eu não sabia quem era Hela, nem sequer sabia quem eram os homens que me prenderam.

Fechando os olhos lentamente senti a consciência sumindo, fazendo com que eu entrasse num estado de sonolência, perdendo assim a noção do que era real.

Eu não estava mais presa por correntes, sentia que o chão estava repleto de água, o suficiente para para molhar a sola do meu pé. Caminho em passo lentos pelo lugar escuro que era tão familiar, não sei por quanto tempo fiquei andando naquele lugar, logo encontrei um espelho que era estranhamente familiar, no meu reflexo estava uma garota que reconheci como sendo eu, deitada no chão molhado, ela não parecia bem, tremia e também estava presa por amarras.

— Oi?

Tentei chamá-la, e meu reflexo se virou para mim, olhando nos meus olhos eu vi a dor que estava refletida na garota.

"Vejam só, quem voltou! Desculpe pela minha total falta de disposição, mas nós duas sabemos que estamos na merda."

As palavras aparecem escritas com letras de tinta fraca no frente do que deveria ser um espelho, enquanto ela tentava se levantar, sem sucesso.

— Eu... O que aconteceu com você?

"Muitas coisas, o bracelete causou uma dor do inferno aqui, mas as correntes em que estamos presas foram mais violentas, elas não só prendem nossos poderes, na verdade o objetivo é fazer com que esse poder se acumule até que a gente se destrua,"

— Como é suposto você saber disso?

"Eu sou muito maior que esse corpo, ma chérie. Mesmo que agora nós estejamos presas por esses correntes ridículas, honestamente pensei que depois da quebra do bracelete, estaríamos livres."

— Acho que nunca vamos estar livres de verdade, sempre que tentamos algo pior acontece.

"Eles devem estar nos procurando."

— Quem? — falei irônica. — Ninguém está nos procurando, porque ninguém se importa.

"Tenha esperanças..."

Antes que pudesse encerrar o que queria falar, senti o impacto frio me fazendo acordar assustada, tentei achar quem era o responsável, porém o escuro ainda reinava com exceção da vela que estava na mão de um dos homens, agora ambos estavam me observando, um deles sendo o que eu vi anteriormente.

ㅡ Descansou, princesa? — ele disse. — Pois hoje nossa diversão vai ser bem mais intensa.

Não saberia dizer quanto tempo se passou desde que fui sequestrada, tentava contar os dias através das vezes em que o homem misteriosa deixa o cômodo, totalizando três possíveis dias. Tinha esperanças de que alguém me achasse nesse fim de mundo, no entanto cada vez mais perdia qualquer esperança de sair daqui, todas as vezes que ele aparecia, gostava de me bater perguntando se eu sabia sobre os planos de uma tal de Hela, eu estava desesperada dizendo que não conhecia ela, entretanto não adiantava, ele gostava da tortura.

— Ei, você está acordada? — um garoto entrou no cômodo, ele estava sem máscara, carregando uma jarra de água. — Sei que não deve está muito afim de conversar agora, mas trouxe um pouco de água e pão.

Não neguei quando ele ofereceu o pedaço de pão, assim como bebi um longo gole de água, minha mandíbula doía pelos inúmeros socos que recebia todos os dias, olhei para o jovem cheia de perguntas.

— Desculpe, eu juro pelos antigos e novos deuses que não queria que isso acontecesse com você, mas não tenho poder para mudar isso. — ele disse. — O máximo que posso fazer é te dar um pouco de dignidade.

— Eu... — respirei fundo, engolindo o mínimo de orgulho que ainda me restava. — Obrigada.

Antes que possamos sequer falar mais, escutamos o som alto vindo do lado de fora, o garoto se levantou com rapidez, me deixando sozinha novamente.

•••

Dois capítulos. Tudo que falta para acabar com o primeiro livro de Ravenna são dois capítulos que provavelmente postarei de uma vez já que estão finalizados. Assim que terminar as postagens, vou entrar em revisão até o fim de janeiro, sendo que o segundo livro vai sair em breve também.

Tenho que confessar que estou bem feliz de conseguir desenvolver essa ideia que tive, sendo ela algo que penso há quatro anos, porém somente tomei coragem de iniciar no começo de 2019. Agora, olhem para mim, escrevendo na plataforma que uso desde 2015, onde ativei meu gosto para leitura e para fanfics.

Planejo também novas fics, além da sequência de Ravenna, então esperem para me ver muito por aqui ainda. 

RavennaOnde histórias criam vida. Descubra agora