23.

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O sol de Asgard trazia uma sensação reconfortante em minha pele, a brisa suave que movia meu cabelo abrigava recordações sobre o único lugar que já chamei de lar.

A mansão dos Beaumont era horrível, tanta hipocrisia afogava a casa em mentiras, porém ainda me sentia acolhida quando adentrava os portões dourados que separava minha suposta família do resto da realidade.

Há dias que sinto um vazio existencial rondando minha mente, conceitos como tranquilidade e paz sumiram da minha rotina desde que colocaram este maldito bracelete grudado no meu pulso. Tenho pesadelos, alucinações e constantes dores que fazem com que deseje arrancar minha pele, todo meu corpo estava marcado por roxos e arranhões causados pela intensidade da contenção da pulseira.

As meninas tentavam me ajudar como manda a função delas, mas eu conseguia enxergar o medo nos olhares que lançavam para mim. Agora, Gyda e Lena estavam parados logo atrás da cadeira onde eu permanecia sentada num dos bancos espalhados pelo jardim que, de acordo com Gyda, foi um presente de Odin para Frigga assim que se casaram.

Aliás, isso é algo que não consigo compreender, por que Frigga se casaria com alguém como Odin? Todos sempre a descrevem como sendo uma mulher altruísta, compreensiva e, nas palavras empolgadas de Lena, à frente de seu tempo. Como uma pessoa assim poderia se apaixonar pela definição de frieza que é Odin? Mais uma incógnita que faz com que minha mente se distancie do sofrimento.

— Precisamos conversar.

As meninas deram um pequeno pulo de susto pela presença repentina de Loki, ambas olharam para ele apreensivas. Compreensível, considerando que ele tentou fazer um golpe de Estado, miseravelmente falhando nesta tarefa.

— Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? — falei sorrindo de maneira sarcástica. — Ou nem tanto. Quantas vezes você já "morreu"?

— Muito engraçada. Como você sabe disso?

— Thor gosta de conversar. — suspirei irritada. — O que você quer, Loki?

— Já disse que precisamos conversar.

— Então fale de uma vez, nem eu, nem ninguém aqui quer ficar muito tempo no mesmo ambiente que você.

— Que fofo, sabe aqueles filhotes que tentam te morder, mas a mordida não possui nenhuma força? É exatamente como você tentando me afetar com essas tiradas infantis.

— É talvez esteja certo, porém, diferente de você, eu não me escondo atrás de uma falsa superioridade que, convenhamos, ninguém acredita. Então, sim, minhas tiradas são infantis, no entanto esse seu veneno é somente sua mente tentando te convencer que é superior para não admitir que é um mimado que chora quando não consegue o que deseja. — retruquei fazendo o silêncio reinar no ambiente. — Agora, por favor, saia da porra da minha frente.

Levanto da cadeira forçando meu corpo a manter um equilíbrio, caminho até o palácio com ambas as garotas andando logo atrás de mim. Ouço os passos bruscos de Loki se aproximando, me mantive alerta quando senti sua mão segurando meu braço e fazendo com que olhe para ele.

— Acho que você não entendeu, essa conversa é completamente de seu interesse, então não faça com que me arrependa por sequer tentar te ajudar.

— Cinco minutos. Pode começar.

— Não aqui, vamos até a biblioteca. — ele começou a andar pelo corredor, enquanto eu olhei para as meninas e o segui.

A caminhada não é longa até a biblioteca, surpreendente eu nunca tinha visitado esse lugar, por isso não deixei de ficar surpresa quando entrei no cômodo sozinha, já que pedi para as duas ficarem do lado de fora. A biblioteca era enorme, assim como o resto do palácio, a maior parte do local era dourado, as estantes cheias de livros começam no chão e cresciam até o teto, olhando para cima notei que haviam milhares de ilustrações do que pareciam ser a história de Asgard.

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