ATENÇÃO: contém cenas de violência doméstica, além de violência psicológica e a discussão sobre traumas em crianças. Se você possui sensibilidade com algum destes temas, este capítulo não é recomendado.
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Buscava as palavras perfeitas para descrever o momento, uma sensação contagiante de estranheza, enquanto observava ao redor procurando alguma coisa que me entregasse as respostas que precisava, contudo somente enxergava a opressiva escuridão que me rodeava como um manto. Mesmo com o extremo escuro, ainda conseguia ver com clareza, tocando o chão senti um líquido viscoso e também de cor preta que cobria todo o lugar, o cheiro era familiar e no fim do que se assemelhava a um corredor, havia uma porta de madeira escura. Cheguei perto o suficiente para sentir a maçaneta fria em contato com minha pele, abrindo a porta com delicadeza por não saber o que havia dentro daquele quarto, no entanto, o choque me abateu quando vi que o lugar era um cômodo infantil com paredes rosadas, ursinhos de pelúcia espalhados e uma janela que mostrava a escuridão que havia do lado de fora.
Aquele era meu antigo quarto, o único lugar da casa que poderia chamar de meu.
Havia uma pequena garota, uma miniatura de mim, entrando rápido no quarto e se escondendo embaixo da cama, conseguia ouvi a respiração acelerada dela e seu choro baixo.
Poucos segundos depois, Amélie Beaumont passou pela porta, seus olhos arregalados e respiração agitada demonstravam que ela estava irritada.
Tentava mover meu corpo para afastar a mulher da criança, porém algo tirava minha voz e fazia com que fosse incapaz de me mexer. Senti-me fraca, as lágrimas agora caiam lentamente por meu rosto, a respiração entrecortada fazia com que o ar chegasse aos meus pulmões com dificuldade. O medo congela, eu estava totalmente paralisada com a imagem tão vívida daquele momento, queria ter feito alguma coisa enquanto a velha puxava a garota para sua frente.
ㅡ Acha que pode fazer o que quiser na minha casa? ㅡ gritou me assustando. ㅡ Se sua mãe não consegue ensiná-la, eu faço isso.
Minha avó estava sempre com tanta raiva por qualquer coisa que fizesse, nesse dia sua fúria se transformou em violência física sendo algo que ela não fazia com frequência, preferindo usar suas palavras para machucar.
Somente notei a gravidade do que acontecia quando o primeiro impacto do cinto de couro que tirou da cintura foi escutado por mim, evoluindo para socos, chutes e tapas.
ㅡ Não. Não. Não. ㅡ repetia chorando. ㅡ Eu não quero ver isso, por favor, alguém me tira daqui!
A mulher que deveria chamar de "vovó" não parou, nem pelo choro infantil desesperado, muito menos pelo barulho alto que cada impacto criava. Em algum momento daquela sessão de agressão gratuita, minha pequena eu, parou de chorar e não se mexeu mais. Ela havia perdido a consciência, me desesperei, chorei e gritei com a aquela mulher que ainda permanecia parada olhando para o corpo inconsciente de sua neta.
Nós ouvimos uma voz feminina, era minha mãe, a porta se abriu lentamente e poderia ver nos olhos dela que se arregalaram pelo completo choque.
ㅡ O que você fez? ㅡ perguntou correndo até a garota. ㅡ QUE MERDA VOCÊ FEZ?!
Estava ajoelhada ao meu lado acariciando o rosto manchado de sangue, o pescoço da menina estava vermelho com marcas de dedos.
ㅡ Não pode ligar para ninguém. ㅡ falou assim que minha mãe tentou discar o número da emergência. ㅡ Se ligar causará muitos problemas, eles farão perguntas, Marjorie.
ㅡ Você acha que eu me importo com isso? ㅡ não olhou para ela. ㅡ Só pedi para cuidar dela, eu implorei para que entendesse, mas você não consegue ter empatia com nada.
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Ravenna
Fanfiction• Em processo de revisão • Ravenna Beaumont sente sua existência ser questionada quando perde o controle de seus supostos dons ainda tão desconhecidos, fazendo com que segredos antigos tenham que ser revelados para uma possível ajuda divina.