Há uma voz que implora para que acordasse do sono que parece durar séculos, os sussurros ecoam por todo canto, mas eu não quero escutá-los.
Tudo que me rodeia é escuro e frio, apesar de conseguir enxergar perfeitamente por entre as camadas de escuridão que cobriam minha mente, mesmo que isso fizesse com que este lugar obscuro se tornasse mais reconfortante do que a própria realidade.
Algo que notei ficando tanto tempo parada na escuridão, foi que nada que acontece aqui segue uma linha simplória de eventos. Um exemplo é que não consigo sentir as lágrimas saírem de meus olhos, o que não impede com que elas deixem meu rosto molhado. Ouço também um choro baixo, não é meu, porém ainda assim sinto que o som sai de dentro de mim.
Qual o objetivo de acordar agora? Se eu abrir os olhos, sei que vou sofrer, sei que vou chorar por minha mente em pedaços. Eles deveriam saber que eu estava melhor em Paris, talvez estivesse melhor deitada na minha cama naquele pequeno apartamento, tomando meu café enquanto leio um livro qualquer sobre a jornada de um casal feliz. Eu quero minha vida de volta, morar nos Estados Unidos somente causou problemas para mim. Detesto as crises, desprezo das pessoas, não gosto da comida. Desejo esquecer de tudo isso
Talvez devesse ter ficado junto com Vittorio, ignorado o pedido de Thor e não ter escutado a curiosidade que me moveu até Asgard.
Onde está meu eu do espelho para me fazer companhia? Estou me sentindo vazia sem ela por aqui, oca de emoções e de ideias.
Cansada de fugir da consciência que me puxava para fora das grossas camadas de escuridão que me embalavam tento levantar, porém algo prende meus tornozelos, sinto o frio das correntes envolvendo todo meu corpo, uma mordaça impede que eu diga qualquer coisa, estava completamente imóvel. O escuro que anteriormente me trazia a sensação de paz, agora fazem com que o medo tome conta de meu ser. Entre suas camadas, passos foram ouvidos, ritmados e calmos, eles chegavam perto até que senti uma brisa suave arrepiar os cabelos da nuca.
A pessoa misteriosa estava atrás de mim, eu sentia sua presença.
Meu olhar se direcionou para a pessoa, encontrando uma jovem de cabelo escuro, pele pálida e olhos tão verdes que eram semelhantes aos de desenhos animados, apesar de seu olhar vazio como o de uma boneca de porcelana. Senti o arrepio subir pela minha espinha quando percebi que se tratava de uma outra versão de mim, ela continuava me observando imparcial enquanto eu estava desesperada na tentativa de sair das correntes. Gritei e implorei para que me ajudasse, ignorando tudo que havia dito, ela se virou e andou até a imensidão escura que nos rodeava.
Alguma coisa puxava as correntes, eu tentei lutar, mas era inevitável, logo senti que estava afogando.
Fechei os olhos. E quando os abri, não estava mais presa em minha mente.
Respirei fundo sentindo o ar penetrar meus pulmões, as batidas do meu coração estavam agitadas. Abri os olhos, fiquei admirada com o teto ornamentado de dourado acima de mim, havia a presença de um fino lençol cobrindo meu corpo, uma brisa entrou pela janela atrás da cama onde estava deitada mexendo levemente meus cabelos.
— Ravenna, você finalmente acordou.
Alguém falou, não sei de onde saiu a voz, uma melodia exasperada que encheu meus ouvidos.
Estava tudo confuso, não parecia eu mesma, o homem que me chamou se aproximou enquanto falava alguma coisa apesar de não ter escutado um palavra. Seu nome era Thor, reconheceria esta parede de músculos em qualquer lugar, mas não entendia o que ele fazia no meu quarto. Na verdade, olhando ao redor, percebi que este não é o quarto que me colocaram quando cheguei, tudo parecia mais dourado, mais brilhante. Quase perfeito, quase incômodo.

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Ravenna
Fanfiction• Em processo de revisão • Ravenna Beaumont sente sua existência ser questionada quando perde o controle de seus supostos dons ainda tão desconhecidos, fazendo com que segredos antigos tenham que ser revelados para uma possível ajuda divina.