Amélie estava morta. E eu a matei.
Depois de tantos avisos, eu perdi o controle sobre meu emocional fazendo com que causasse algo que pensei que me arrependeria, porém aconteceu o oposto, parecia que finalmente me sentia viva, uma falsa sensação de liberdade do meu passado. Esse alívio fazia com que confirmasse a ideia de que estava perdida entre emoções antigas que, obviamente, não superei.
A notícia que a matriarca dos Beaumont morreu foi desoladora para Paris, pois ela sempre foi um dos pilares da burguesia do país, mesmo que não comandasse a empresa que leva seu nome, a mulher ainda tinha reconhecimento por ser extremamente bem-sucedida em seus projetos externos à empresa.
Minha avó era vaidosa, adorava ser exaltada e glorificada, então quando disseram que ela desejava fazer um grande funeral onde toda a elite de Paris comparecesse para endeusar sua morte, nem sequer fiquei surpresa com suas vontades extravagantes. Pessoas que não conhecia apareciam para tentar me consolar, causando estranhamento porque Amélie não possuía amigos, foi uma surpresa ver que seu funeral tinham aqueles realmente pesarosos pela morte dela.
Eu não queria estar entre eles, ficando assim afastada do resto do grupo, sentada embaixo de uma árvore próxima de um dos túmulos, olhando para a infinidade de covas que cercavam o luto daquelas pessoas.
— Bonjour, Ravenna. — disse Antonella, sentando-se ao meu lado. — Acho que deveria dizer que sinto muito, mas não sinto.
— É bom te ver também, Ella. — sorri levemente. — O que te traz aqui?
— Você. — olhei para ela, seu rosto estava marcado com um sorriso discreto. — Você está bem? Mesmo que seja horrível, ela ainda era sua avó.
— Honestamente, não faço ideia do que estou sentindo, é só muita coisa para pensar.
Ficamos sentadas o máximo de tempo possível sem que falássemos nada, porém logo alguém me chama para eu ouvisse os discursos em homenagem à Amélie. Preferia estar longe daquele lugar, pois aqueles hipócritas mentiam descaradamente na tentativa de canonizar a mulher, eu tive que escutar Pierre falando sobre como ela era caridosa e empática, fazendo com que ficasse encarando o homem durante toda sua fala.
Fechei as mãos em punhos, minha cabeça começou a doer quando senti a irritação daqueles que ignoravam tudo de ruim que aquela mulher fez. Lágrimas de ódio saiam de meus olhos, pensei que poderia finalmente ficar em paz, mas ela não me deixava sozinha, o espírito de Amélie parecia me rondar, nunca me livraria totalmente dela. E é por isso que chorava, a morte dela não me comovia, achei que tudo se resolveria, eu precisava que se resolvesse.
— Ravenna? — ouvi a voz de Antonella, enquanto levava as mãos até os olhos para conter o choro. — Vamos sair para tomar um ar, talvez...
— Não! — interrompi ela, tentando me recompor. — Eu não vou fugir mais um vez.
— Não é uma fuga, ela morreu, não pode te machucar de novo.
— Você acha? — eu ri irônica. — Ficaria surpresa.
Voltamos assim para o silêncio, ninguém me olhava, acho que nem sabiam que eu estava no funeral. Quando Pierre encerrou seu discurso, tão comovidos, quase chorando por suas palavras doces e ingênuas, e antes que ele pudesse encerrar, me levantei chamando atenção de todos, comecei a andar até o microfone onde Pierre ainda estava olhando fixamente para mim.
— Ravenna, o que você vai fazer? — ele falou temeroso.
— Acho que vocês não me conhecem, certo? — disse tirando o microfone de suas mãos. — Não importa, pois eu era filha de Marjorie, ou seja, neta de Amélie. E quando cheguei aqui, notei que muitos realmente sofrem pela morte dela, sinto muito pela perda de todos aqui, pois eu não derramo lágrimas por pessoas como Amélie.

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Ravenna
Fanfiction• Em processo de revisão • Ravenna Beaumont sente sua existência ser questionada quando perde o controle de seus supostos dons ainda tão desconhecidos, fazendo com que segredos antigos tenham que ser revelados para uma possível ajuda divina.