19.

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O sol ainda não brilhava no horizonte quando o trabalho na cozinha começou, as cozinheiras corriam para preparar a refeição dos deuses, sendo ignoradas por todos aqueles viviam no palácio acima de suas cabeças. Com a proximidade do café da manhã, todas se inquietaram iniciando uma corrida frenética para terminar tudo no tempo certo. Entre elas, Lena e Gyda cortavam frutas com a maior rapidez que conseguiam, ambas com suas roupas rotineiras e seus cabelos trançados. Ao redor, outras servas faziam seus respectivos trabalhos enquanto aguardavam que seus amos precisassem do auxílio delas.

Não havia homens no lugar, na verdade quase não tinham homens trabalhando como serventes do palácio, eles eram escolhidos para serem guardas, passando por um árduo treinamento, enquanto as mulheres eram designadas somente para as tarefas domésticas.

ㅡ Será que Lady Sif irá treinar os rapazes hoje? ㅡ perguntou Lena entusiasmada.

ㅡ Novamente com essas ideias, Lena? ㅡ respondeu Gyda entediada. ㅡ Esqueça, conhece as regras, mulheres não treinam.

ㅡ Mas Lady Sif é uma guerreira. ㅡ retrucou ela. ㅡ E as Valquírias ainda são consideradas as maiores guerreiras que já pisaram sobre Asgard.

ㅡ E olhe o fim que as Valquírias tiveram, grandes guerreiras que foram mortas cruelmente por nada. ㅡ falou Gyda. ㅡ Peço perdão por destruir seus sonhos, no entanto, você nunca poderia ser uma guerreira como Sif, lembre-se que ela é parte da nobreza.

ㅡ Você é tão pessimista, Gyda. ㅡ disse sorrindo. ㅡ Talvez devesse sorrir mais e se preocupar menos.

ㅡ Quem deseja enganar? ㅡ se virou para Lena. ㅡ Nós duas sabemos que não podemos fazer isso, não sonhe alto com coisas que obviamente não podem acontecer.

— Dá para parar? — se irritou. — Não é porque seus sonhos não deram certo que os meus seguirão pelo mesmo caminho.

— Meninas! — exclamou uma das cozinheiras mais velhas do lugar. — Eu não quero brigas na minha cozinha, já está na hora de subirem para ver a princesa.

Subindo as escadas até o andar dos quartos, pensaram na amizade que já foi forte entre as duas, restando agora era somente um fio que segurava todo o carinho e respeito que sentiam uma pela outra.

Gyda queria dizer alguma coisa, porém seu orgulho a proibiu, ao invés disso recordava com afeto dos momentos de infância em que brincavam com espadas de madeira que já haviam sido de seu irmão mais velho. Corriam pelo vilarejo em que moravam, contavam piadas, riam das travessuras que suas mentes juvenis já permitiram realizar.

Tudo desmoronou quando chegou a adolescência, tanto seu pai quanto seu irmão faziam parte do exército de Odin, eles eram apaixonados pelo que faziam, adoravam dizer que nunca iriam perder se lutassem em nome de Odin. Isso não era totalmente verdade, pois houve uma batalha contra rebeldes de Jotunheim e eles lutaram bravamente, contudo foram sequestrados pelo líder dos rebeldes, os Jotuns deram a opção de resgate e o general do exército não quis barganhar, e assim os homens mais ferozes que Gyda já haviam conhecidos foram assassinados pelo fogo.

As lembranças do jovem soldado chegando na porta de sua casa com a notícia que ela e sua mãe perderam os homens que mais amavam na vida era devastadora demais.

Depois disso, sua mãe nunca mais foi a mesma, ela começou a beber e gastar todo o dinheiro que seu pai havia economizado, chegou ao ponto dela vender itens da casa para comprar mais e mais bebida. Perder o único filho homem foi demais para ela.

Gyda, sem opções, começou a trabalhar para sustentar a casa, costurava vestidos para as mulheres simpatizantes de sua condição, vendia pães que fazia durante a madrugada para os vizinhos e contava com a ajuda dos amigos de seu irmão.

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