Prologue

1.7K 99 23
                                    

Abri os olhos. E lá estava eu a olhar, mais uma vez, para o teto do pequeno quarto que existia no barco de pesca do meu pai. Fechava-me naquele quarto para não ter de sentir o cheiro a mar que me dava repulsa. Desde pequeno que detestava água. Não tive nenhum trauma nem nada, simplesmente detestava aquilo tudo. Detestava estar enfiado numa merda de um barco que balançava por todo o lado, sem nada para fazer, rodeado de água, num fim do mundo qualquer, longe de tudo e todos, onde o meu pai gostava de pescar.

O meu pai quis que eu tivesse aulas de natação quando era mais novo e eu tive até aprender a nadar. Depois deixei de obedecer, e como só dava problemas e empatava as aulas, com muita deceção o meu pai tirou-me da natação. Toda a vida tinha sido pescador, não conhecia mais nada e queria arrastar-me para esse mundo que eu tanto desprezava. Como eu odiava aquele maldito barco onde ele me obrigava a viajar todos os santos fins-de-semana, com esperanças que eu me venha a interessar pela pesca e pelo mar. Fins-de-semana inteirinhos que podia aproveitar para me divertir, foder umas gajas e aproveitar a vida. Mas não, tenho de os passar aqui, completamente isolado do mundo.

Eu não quero pescar, eu quero seguir desporto, abrir o meu próprio ginásio. Em terra firme se possível!

- Harry! – Lá vem ele. A porta do quarto abriu-se e lá estava o meu pai, com o seu charme de pescador, olhando-me com o olhar reprovador que eu tão bem conhecia.

Eu limitei-me a olhar para ele sem me levantar da cama pouco confortável.

- Vem cá fora, quero mostrar-te uma coisa. Sem reclamar, vá! – ordenou o meu pai.

Resmunguei e sai cá para fora. Estávamos próximos de um ilhéu do qual eu não me recordava de todas as vezes que tínhamos vindo para o mar.

- Vês esta pequena ilha?

- Mau era se não conseguisse ver. – respondi com sarcasmo. O meu pai suspirou.

- Era para aqui que o teu avô me trazia para brincar quando era puto e era onde eu trazia os meus amigos anos depois. Divertíamo-nos á brava. – comentou com uma expressão sonhadora.

- Com tanta coisa para fazer aqui pergunto-me por que é que se davam ao trabalho de aqui vir. Ainda por cima pertinho de casa e tudo. – resmunguei sarcástico de novo. Na verdade estávamos admiravelmente longe. Levaríamos cerca de 5 horas para retornar ao porto.

- Ficavas surpreendido com o que se pode fazer numa pequena ilha deserta Harry. – disse o meu pai olhando para o meu cabelo encaracolado e para os meus olhos verdes como esmeraldas que herdara da minha mãe.

- Oh de certeza que vou ficar surpreendido. – disse revirando os olhos.

- Fazíamos de tudo, só precisávamos da nossa imaginação. Tínhamos um gosto especial por caças ao tesouro. Um de nós marcava um “X” num ponto qualquer da ilha e fazia um mapa e nós procurávamos. – comentou sorrindo.

- Eu encontro o “X” muita vez, nas aulas de matemática. – gozei.

- Quem precisa de álgebra? O “X” só vale a pena encontrar se fores um pirata. – respondeu á minha provocação com um novo brilho nos olhos.

Soltei uma gargalhada, literalmente.

- Tu não mudas mesmo pois não? – perguntou com um tom amargo na voz. Ele tinha o maior desgosto em ver que a conversa, mais uma vez, não estava a surgir efeito.

- Já te disse que não acho graça nenhuma a nada disto. Tu é que não queres ver. – encolhi os ombros.

- Pode ser que um dia te venhas a arrepender de não gozares a tua juventude da melhor maneira. – o seu tom era agora sério.

- Juventude? Qual juventude? Eu não posso aproveitar a minha juventude porque tu me obrigas a vir para esta merda deste barco! – atirei frustrado.

- Isso é porque a tua ideia de juventude está profundamente errada! Devias apreciar as coisas boas do mundo em vez de te fechares em discotecas e em bares! Sei lá podias fazer algo diferente com o teu tempo livre! Eu sou teu pai e estou só a tentar ajudar-te! – o tom de voz era duro.

Eu queria ripostar mas ia levar a mais uma inútil discussão entre nós. Era sempre assim. Por isso voltei para dentro do quarto e deitei-me de novo na cama. Ouvi-o suspirar e momentos depois ouvi o barulho dos comandos do barco. Estava a dar a volta, íamos regressar. Graças a deus!

Tinha poucos amigos. Ok, de momento só tinha o meu melhor amigo Nathan. Ele era literalmente a pessoa mais importante para mim. Porquê? Porque me compreendia como ninguém.

O meu pai era como uma criança em ponto grande. Caças ao tesouro? Que brincadeira de bebés mais estupida. E pior, ele acredita mesmo em piratas? Às vezes pergunto-me se serei mesmo filho dele. Somos tão diferentes, tão opostos.

Nasci cético. E estava farto que tudo e todos tentassem mudar-me em vez de tentarem gostar de mim como sou. Ele acreditava mesmo que ele ou alguém podia mudar o meu modo de pensar e de ver o mundo. Estava enganado.

*

“Mas estaria mesmo?”

*Hiiiii! Tive uma ideia para uma nova fic e não consegui não publicar para vcs verem xD Chamou a atenção? O que acharam? Vou começar a editar esta quando acabar a DITNN ou se me inspirar antes mas não prometo nada!

LOVE Y'ALL <3

The Pirate Ship || h.s ||Where stories live. Discover now