JUJUBA: Conhecer

2.5K 323 177
                                    


Sentada em uma cadeira reclinável. De frente para um enorme monitor pendurado na parede. Folhas espalhadas pela mesa. Olhando para o vazio. Mordendo o fundo da caneta preta.

"Ultimamente preto virou minha obsessão. E é tão estranho isso porque sempre me encantei por cores claras, especialmente rosa. Mas agora parece que uma nuvem negra pairou sobre a minha vida"

Jujuba apertou os olhos por, no máximo, 10 segundos, voltando agitada do seu rápido transe como se tivesse emergido na água e de repente encontrou a superfície.

"Tudo que vejo quando fecho meus olhos é preto. O preto do seu cabelo. O preto dos seus olhos. O preto da sua calça. O preto do seu sutiã. O rastro preto que ela deixa por onde passa. O preto da sua alma. Eu desenvolvi..."

- Uma estranha obsessão por essa vampira.

Uma voz estridente e roca ecoou pelo enorme laboratório. Jujuba quase pulou da cadeira de susto ao olhar para trás e se deparar com seu mordomo parado a alguns centímetros de distância.

- Mentinha! Você me assustou.

- Desculpe, madame. Atrapalho?

- Não, não, de forma alguma. E eu não tenho "uma estranha obsessão por essa vampira". - Jujuba desdenhou se voltando para frente, fingindo estudar alguma coisa em sua mesa.

- Não estava me referindo a senhora, - o doce recebeu a atenção de Jujuba - estava me referindo a alguns doces. Mas pelo que vejo a senhora também desenvolveu o mesmo sentimento por ela.

- Por que está dizendo isso?

O doce desviou os olhos de sua ama e os focou no monitor atrás dela. Imediatamente Jujuba girou seu corpo e se envergonhou ao perceber que a imagem de Marceline sorrindo no show que elas foram preenchia toda a área da tela.

"Bom, podia ser pior. Ele podia ter visto a foto dela de sutiã"

A princesa doce permaneceu boquiaberta encarando a imagem e o mordomo se aproximou um pouco mais, ficando ao lado dela.

- Quer me contar alguma coisa madame? - ele perguntou sério.

- Não é nada disso que você está pensando... quer dizer... eu estou trabalhando... nela. Eu estou estudando toda a anatomia para saber que tipo de regência mágica atua sobre... sobre... sobre... ah!

A garota apoiou os braços na mesa, empurrando e amassando todos os papéis que haviam ali, de forma que criou um encaixe nem tão perfeito para afundar a cabeça. Ela respirava pesado.

- Estou obcecada por ela.

Quando essas palavras saíram da sua boca foi como se ela tivesse tirado um peso da sua cabeça. Uma sensação de alívio como arrepio correu por todo seu corpo e ela até quis chorar. E nem ao menos entendia o porquê.

"Eu não entendo diário. Não entendo esse meu gigantesco interesse por ela, nem o porquê sentia que precisava manter esse segredo a salvo de todo mundo. Mas finalmente levantei a cabeça e disse a Mentinha tudo que veio a mente"

- Sabe... ela é diferente. Eu sinto uma necessidade de entendê-la, de desvendar os segredos dela.

- Tem passado muito tempo com ela...

- Eu sei...

- Alguns doces disseram ter visto um monstro visitar seus aposentos.

- O quê?

- Naquele noite que fui ao seu quarto depois de ouvir seus gritos, não foi um morcego que invadiu seu quarto. Ela estava lá.

- Mas como você...

- Madame... eu a vi entrar.

Jujuba se sentia um livro desprotegido sendo tocada e lida nos mais mínimos detalhes pelo seu mordomo. Não era uma posição a qual costumava estar. Os outros eram os livros e ela era a leitora.

- Eu sei que a senhora não tem muitos amigos além da vampira. Entretanto não estou certo de que posso considerá-la sua amiga.

- Por que não?

- Por causa das variáveis.

- O que quer dizer com isso?
- Nada demais. - Mentinha procurou o controle do monitor na tela - Só estou dizendo que vocês não se conhecem tão bem assim - ele finalmente o encontrou - e não é assim que vai conhecê-la.

Ele desligou a tela e deixou Jujuba perdida com suas palavras, mas no fundo, ela compreendia o que ele queria dizer.

- Quando a senhora conhecer Marceline, talvez consiga conhecer a si mesma.

Mentinha alisou a mão de Jujuba e os dois compartilharam um olhar de cumplicidade. A princesa não poderia fazer outra coisa além de agradecer em seus pensamentos por ter perto de si alguém em quem pudesse confiar. Mas abruptamente Mentinha interrompeu o momento esboçando uma expressão séria e assumindo uma posição rígida enquanto marchava para longe de Jujuba.

- Não precisa ficar invisível na minha presença. - ele declarou mal-humorado - Eu não sou como os outros.

Gradualmente a imagem de Marceline se projetou próximo a entrada do laboratório. O mordomo passou por ela como se desconhecesse o ser tenebroso que estava ali e ela não fosse nada além de um mísero inseto. O desapontamento da vampira foi evidente.

- Qual é a desse carinha? - ela perguntou enquanto sentava na mesa de trabalho de Jujuba.

- Ele é diferente dos outros. Mais inteligente, eu diria.

- Ah, sim.

- Marceline, eu preciso te contar uma coisa.

Jujuba só se deu conta do que disse segundos depois que já tinha deixado a frase escapar.

"Mas eu não tinha nada para dizer a ela. Quer dizer, eu até tinha, mas... o quê? Minha mente ficou em branco e ela me olhava interessada no que eu tinha para dizer. Eu sabia que precisava soltar qualquer coisa"

- Meu nome é Bonnibel. - Marceline pareceu surpresa e confusa com a revelação - Eu nunca contei isso para ninguém, e eu pensei que como somos amigas agora você merecia saber.

- E por que você mente seu nome?

- Eu não sei. Acho que "Princesa Jujuba" combina mais que "Princesa Bonnibel". - sorriu.

- Não vejo muita diferença, os dois são bonitos.

- Você acha? - Jujuba se aproximou da amiga entusiasmada, mas Marceline recuou.

- Hum... eu te chamo de Bonnibel agora?

- Pode me chamar do que quiser.

- Acho que prefiro Bonnibel. Vou ser a única a te chamar assim.

"Eu queria tanto, mas tanto entender o que ela quis dizer com isso. Por que ela prefere Bonnibel? Porque é mais bonito ou porque ela quer exclusividade? E ela foi possessiva quando disse que ia ser a única a me chamar assim ou só gostou desse segredo que compartilhamos? A minha cabeça parecia que ia dar um nó de tantas dúvidas, mas aí ela deu aquele sorriso infantil tão fofo me fez esquecer das respostas que eu buscava"

Candy Girl (Bubbline)Onde histórias criam vida. Descubra agora