MARCELINE: Pensamentos

2.6K 325 130
                                    


Marceline avaliava seu braço esquerdo procurando pelo dano causado. Dano este que era fruto do seu psicológico, mas como ela ainda não sabia disso, permanecia na sua busca frívola.

"Eu juro que essa princesa maldita me causou alguma alergia ou implantou alguma coisa na minha pele"

Ela sentia a parte do braço tocada por Jujuba na noite do show arder, doer, embora não houvesse mancha vermelha ou hematoma que comprovasse isso. Era estranho o fato de que sua pele permanecia na mesma tonalidade, porque, a cada vez que seu cérebro reproduzia a cena de Jujuba puxando seu braço, um incomodo formigamento e queimação se fazia presente em sua pele. Talvez Jujuba tivesse realmente implantado algo na vampira, mas não no braço.

"Ok, cansei de procurar a merda que ela fez. Mais tarde vou confrontar essa metidinha. Eu já ia de qualquer jeito porque preciso pedir uma coisa. Não sei de onde raios me surgiu a necessidade de ter um espelho. Isso mesmo: um espelho! Parece loucura, né? Porque é. Mas eu sinto a necessidade de olhar meu reflexo e descobrir o ser triste e deprimido que sou agora. Talvez isso dê a letra de uma canção"

Marceline observava o acampamento doce escondida nas moitas. Um forte clarão de uma fogueira alta, as risadas estridentes dos cidadãos, os guardas bananas fingindo que faziam o patrulhamento da noite, mas sendo amedrontados até pela própria sombra. Nesse momento ela se perguntou como Jujuba aguentava viver rodeada desse tipo de coisa. Se fosse ela e não tivesse o fardo da imortalidade escolheria a morte em vez de uma vida dessas.

Marceline aguardou até que o movimento de doces cessasse, para voar até o novo dormitório de Jujuba, que agora ficava na parte mais alta de uma torre recém construída. Primeiros passos para o que futuramente seria um castelo.

A enorme janela de madeira da torre ficava com ambas partes abertas, o que facilitava o seu acesso. Despreocupadamente, ela flutuou para dentro do quarto sendo iluminada pela luz da lua que banhava uma parte do ambiente. Mas onde a lua não conseguia tocar, foi onde Marceline escolheu ficar. Tudo estava em silêncio, com exceção do som do vento que invadia o lugar e fazia as cortinas balançarem. A cama de Jujuba estava impecavelmente arrumada, o que significava que ela ainda deveria estar no laboratório.

"Eu devia ter imaginado que ela não estaria no quarto. Quer dizer, ela passa a vida naquele laboratório ou fiscalizando o que o povinho dela faz. Não estava com a mínima vontade de descer, então resolvi esperar"

Enquanto aguardava tranquilamente Jujuba voltar, Marceline começou a vistoriar o quarto e observar os objetos da princesa.

"Predominância: rosa", pensou.

As paredes, os lençóis de cama, o tapete do quarto, as roupas em cima da cadeira, a mobília, ela... Aquilo dizia muito sobre como eram os gostos pessoais e a vida da garota. E isso fez com que a vampira não resistisse a se comparar com tudo que havia naquele quarto. Eles não tinha a mesma essência. O que para Jujuba era motivo de afeição, para Marceline era apenas almoço. Em outras palavras, ela poderia destruir o mundo íntimo da princesa doce com apenas uma bocada. Não é como se elas fossem diferentes, do tipo que uma gosta de bolo e outra de sorvete, porque você pode ter as duas coisas ao mesmo tempo. Elas eram extremos opostos, como o dia e a noite, onde para ter um você precisa abrir mão do outro. Constatar isso a deixou chateada.

Mas do outro lado do quarto, ela avistou algo que lhe arrancou um sorriso.

"A minha camisa, quer dizer, minha ex-camisa estava misturada com as roupas dela. Sei lá, eu achei que fez um contraste legal preto com rosa. Aí eu fui flutuando pra dar uma olhada mais de perto. E antes não tivesse ido"

Marceline gostaria de ter visto Jujuba com a camisa naquela noite, mas se contentou em apenas idealizar em sua mente como ficaria. Ela via a princesa com a camisa preta e o short branco com listras amarelas na horizontal de lã. Era uma mistura que não combinava, mas ainda assim bem engraçada. No momento em que ergueu o braço para pegar a camisa ela acabou derrubando sem querer uma peça de roupa de Jujuba que fez seus olhos se abrirem mais do que o normal.

"Eu simplesmente derrubei a CAL CI NHA dela no chão. E do nada minha mente começou a imaginar ela com a camisa e aquela calcinha rosa. Meu Glob que visão horrível! Como faz para apagar esse tipo de coisa da cabeça? Vou pedir a ela um desmemorizador também"

Na tentativa de cortar contato visual com o objeto que induzia pensamentos que ela dispensava, Marceline acabou derrubando as outras roupas que estavam na cadeira. Desesperada, tentando colocar tudo de volta ao lugar, ela nem notou que Jujuba passava atrás dela, caminhando em direção a cama. Jujuba também não percebeu a presença de Marceline devido ao seu grau de exaustão. Ela simplesmente afastou o edredom, deitou na cama e se cobriu.

A última peça de roupa a ser posta no lugar era justamente a calcinha que a vampira abominava. Ela a colocou por cima da camisa que tinha dado a Jujuba, para em seguida se arrepender e colocar por baixo.

"Quando terminei de arrumar tudo senti um cheiro doce e enjoativo, olhei para trás e encontrei a princesa dormindo como um anjo. Não sei como eu pude ter esse tipo de pensamento em relação a ela. Então eu me aproximei devagar da sua cama e sussurrei seu nome. Não sei porquê ela acordou assustada"

- Aaaaaaaaaah!

- Calma aí, sou eu.

- MARCELINE?!

- Te assustei? - debochou.

- Mas o que você está fazendo aqui uma hora dessas?

Antes que tivesse a chance de responder, alguém bateu na porta.

- Madame? Ouvi seus gritos, está tudo bem? - Mentinha transperecia tranquilidade na voz.

- Tudo bem sim, Mentinha.

- Tem certeza?

- Claro! Eu só... eu só... eu só me assustei com um morcego que entrou no meu quarto. - ela olhava dura para Marceline.

- Quer que eu cuide disso para a senhora?

- Não! Muito obrigada, mas você pode ir descansar. Amanhã teremos um longo dia.

- Sim, senhora. Boa noite.

Jujuba aguardou alguns instantes para garantir que Mentinha já tinha ido antes de se virar para Marceline.

- Então, o que quer aqui Marceline?

- Nossa parece que nem está feliz em me ver.

- Desculpa, eu tive um dia difícil.

- Tá bem. Eu vim te pedir um espelho.

Jujuba encarou Marceline em silêncio como se não acreditasse que por causa de um espelho ela quase morreu de susto. Mas ela estava cansada até para ficar brava.

- Ha... tem um ali naquele baú. - ela apontou.

- Você não entende mesmo nada de vampiros, não é? - Jujuba pareceu confusa - Eu não tenho reflexo princesa, preciso que crie um para mim.

- Mas para quê você precisa de um espelho?

- Hum... você pode criar ou não?

- Posso, claro que posso. - ela respondeu bocejando.

- Beleza. Então to indo nessa.

Jujuba caiu novamente na cama, mas chegando perto da janela, Marceline teve um lampejo.

- Escuta. Naquele dia em que fomos no auditório fantasma, você colocou outro rastreador em mim?

- Não. Por que acha que fiz isso?

Não houve resposta.

- Marceline?

Ainda deitada Jujuba se virou para a janela, mas quando abriu os olhos a vampira havia desaparecido e ela conseguiu ver somente a luz da lua que entrava nos seus aposentos.

Candy Girl (Bubbline)Onde histórias criam vida. Descubra agora