30. Energia

56 9 0
                                    

Mais uma noite mal dormida. Acordei com um sentimento péssimo. Dias se passaram após a má notícia que o Estevão me deu. Não nos falamos muito nesses dias por conta da correria do dia a dia, onde Estevão também só precisava de espaço e tempo e eu respeitei.

Ele disse que em poucos dias estaria aqui e eu o espero ansiosamente. É meio louco dizer isso, mas estou apenas na espera de um abraço, especificamente o dele, é tudo que eu quero nesse momento. Sinto que é isso que ele precisa agora também.

Na escola, os dias foram bem desanimados. Naysha e Valter estiveram presentes o tempo todo, dando forças para mim, pois sabiam que não estava sendo fácil lidar com tudo isso. E o tempo todo a minha cabeça não conseguia parar de pensar nele. Toda vez que eu me lembrava do toque dele, sentia meu corpo arrepiar por inteiro, da maneira mais ardente possível. E o mais estranho: ele nem estava ali me tocando, mas seu nome já me fazia incendiar.

Tocou o sinal, estou indo embora. E quando vou saindo da escola, um carro parecido com o dos tios de Estevão passa pela escola e eu olho atentamente. Aqueles cabelos e aquele formato de rosto na janela do carro não é e nunca vai ser estranho para mim. É o Estevão. Ele chegou. Ajeito minha mochila e sem pensar duas vezes saio correndo em direção à sua casa.

Eu corro, o coração acelera. Até que avisto a minha maior saudade saindo pelo carro e retirando os óculos escuros. Eu paro poucos metros dele, ele me vê e para também. Ali ficamos, cerca de seis passos de distância, nos olhando, sentindo a ardência das lágrimas nos olhos. 

- Eu falei que iria voltar - ele diz e se aproxima. E o que eu mais queria, finalmente aconteceu; nosso intenso abraço.

Nossas energias se uniram, carregaram-se. Todo sentimento que sentimos um pelo outro foi recebido e trocado só nesse abraço.

- Eu sinto muito. Queria muito estar lá com você - eu falo ainda o abraçando.

- Eu sei disso, tá tudo bem. Obrigado por se preocupar comigo.

- Eu sempre vou me preocupar.

Paramos de nos abraçar e olhamos um para o outro. Acabo desviando o olhar para o tio e a tia de Estevão. Eles acabaram de sair do carro e estão nitidamente muito abalados também.

- Meus pêsames - eu falo e abraço cada um deles tentando transmitir alguma força, mesmo eu também estando fraco.

- Obrigada, Pietro - a tia do Estevão diz enxugando as lágrimas. - Mas agora vamos entrar, vamos deixar vocês conversarem. Qualquer coisa estaremos lá dentro, Estevão.

- Obrigado, tia.

Observo eles entraram na casa e em seguida me viro para o Estevão.

- Eu queria tanto te abraçar. Nem consigo imaginar como sua cabeça deve estar agora - eu falo.

- Não vou mentir, estou quase surtando - ele enxuga as lágrimas. - Mas só preciso de um tempo, sabe? Tenho muito o que fazer e muito no que pensar ainda.

- Eu sei. Seu pai está te mandando toda força do mundo de onde ele está. Ele tem muito orgulho de você e em quem você tem se tornado.

- Tenho tentado pensar positivo. Espero que ele tenha ido sem nenhuma raiva de mim.

- Raiva? Seu pai te ama, ele jamais teria raiva de você. Algumas atitudes negativas dele aqui não define ele por inteiro. Você foi tudo pra ele nos últimos anos.

- Obrigado - Estevão dá um leve sorriso e respira fundo. - E você... - ele dá alguns passos a frente e se aproxima de mim. - Tem sido tudo pra mim nesses últimos meses.

Eu dou um sorriso bobo. Isso que ele disse entrou profundamente dentro de mim, foram as palavras certas para me confortar nesse momento.

- Você também tem sido essencial pra mim. Mas agora... - eu olho para baixo, pego nas mãos dele e depois volto o olhar para ele novamente. - Preciso que você entre, descanse e deixe essas inseguranças de lado. Pode me chamar sempre que precisar.

- Obrigado... por tudo - ele desliza seu dedo polegar nas minhas mãos como de costume.

- Agora vai lá. Se cuida, Estevão.

- Pode deixar, Pietro.

Ele sorri, solta lentamente suas mãos das minhas e entra para dentro de casa. Nesse momento meu coração dói, mas foi aliviante vê-lo. Ele significa muito pra mim.


De tarde, Naysha e Valter vão para minha casa. Ficamos no meu quarto e conversamos um pouco, eu estava precisando desabafar.

- Ele vai ficar bem. Ele tem você, tem os tios agora - Naysha comenta após eu desabafar sobre o Estevão e toda a situação.

- Eu só quero mantê-lo em seguro, sabe? Mais leve de alguma forma - eu falo.

- Nisso você é muito bom, relaxa - o Valter diz e eu solto um sorriso.

- Bom, agora vou tirar esse clima pesado... - a Naysha troca de assunto, o que foi mais confortante, não aguento mais o clima pesado. - Estamos quase na metade do ano e em algumas semanas já é seu aniversário, Pietro!

- Nossa, nem estava me lembrando - eu falo sentado na cama e encostado na cabeceira. Um sinal de desinteresse no assunto está estampado no meu rosto.

- Quem esquece do próprio aniversário? - Valter pergunta e dá risada.

- Eu! - exclamo. - Até porque, pra mim não é uma data tão especial como é para as outras pessoas, vocês sabem. Solto um "obrigado" ao universo e já sinto que fiz o bastante - dou uma risada na expectativa de mudarem de assunto.

- Não, não, não! Tira esse espírito pessimista agora! - Naysha se levanta e fica atrás de mim, me abraçando pelas costas. - Vamos para o boliche comemorar. O que acha?

- É, cara! Nem que seja só nós três e o Estevão - Valter também insiste.

- Não, gente.

- Sim!!! - Pietro e Naysha insistem.

Eu penso rapidamente por alguns segundos. Não gosto de comemorar meu aniversário porque perdi minha vó e meu avô perto do meu aniversário, e agora o pai do Estevão. Pensar em o que fazer no meu aniversário nunca foi uma questão na minha vida, pois sempre passei meus aniversários em casa, acho melhor. Mas talvez, só dessa vez, por eu estar no último ano escolar e estar ao lado de três pessoas que eu amo, pode ser um motivo de eu não desistir da ideia de comemorar esse ano.

- Tá, pode ser - eu me rendo.

- Ótimo, vai ser demais, você vai ver! - a Naysha diz.

Eu não sei se vai ser bom, mas só de fazer algo de diferente no meu aniversário, já é uma ideia boa.

Meu Pequeno UniversoOnde histórias criam vida. Descubra agora