2. Primeiro Beijo

309 42 148
                                    

Quando você passa do 6° ano, que entra na pré-adolescência, entra em fases de mudanças e então começa a ser cobrado até mesmo pelos seus próprios amigos.

Me lembro da primeira semana de aula. Eu ainda nem tinha me adaptado às matérias e a escola, mas já haviam muitas pessoas se beijando na saída, na quadra, no banheiro, ou até mesmo debaixo da escada ao lado da secretaria. Eu estava surpreso com tudo aquilo, eu nunca tinha visto tanta calor humano em uma escola. Mas aí eu aprendi que era tudo um desenvolvimento, hormônios a flor da pele, mudanças no corpo e etc. Mas eu sempre vivi como uma criança ainda, não queria me preocupar com nada disso, apenas jogar o meus jogos e de vez em quando ainda lembrar da Luna.

1 ano se passou e eu estava em processo de amadurecimento, como muitos da minha idade. Mas, tudo mudou quando criei meu grupo de novos amigos na sala de aula e aquilo que me dava vontade de ir pra escola. Eu e outros três garotos fora do padrão de beleza, rejeitados pelas garotas e amantes de jogos de celular. Éramos muito parecidos, tínhamos os mesmos pensamentos, humor na dose certa e era incrível nossa convivência. E em poucos meses conheci a Julia. Ela era linda. Cabelo curto acima dos ombros, já tinha um corpo super desenvolvido pra própria idade, olhos escuros e bem redondos, e todos os caras tinham, nem que mínima, a vontade de ficar com ela. Porém, ela era uma garota bem reservada e dona de si, não queria saber de garoto nenhum, por isso eu descartava todos os olhares que trocávamos pelos corredores da escola.

Um belo dia, sua amiga Jô (é assim que a chamam), chegou em mim no intervalo e perguntou se eu tinha alguma atração pela Julia.

- Oi, garoto - ela diz quando se aproxima de mim e senta no banco ao meu lado. - Meu nome é Jô, prazer!

- Oi! Prazer, Pietro - respondi.

- Então, desculpa a pergunta mas, você teria algum interesse pela minha amiga?

- O que? - eu fiquei todo vermelho e sem reação. - Quem? A Júlia?

- Sim, ela mesma.

- Ah, eu acho que sim - eu fico constrangido, mas continuo. - Eu acho ela bem bonita e atraente, mas... acho que ela não quer muito ficar com garotos aqui da escola. Ou quer?

- Isso você só vai descobrir se tentar - ela disse com sorriso de canto no rosto. - Vamos lá comigo, você pode conversar com ela.

E eu fui. Com vergonha, mas fui.

Chegando lá, logo me sentei ao lado dela e a cumprimentei com muita educação. Conversamos bastante. E chegando em casa ela me mandou uma mensagem no Facebook pedindo meu número e eu rapidamente passei. E nós conversamos por longas semanas, eu estava realmente gostando dela e ela de mim, e todos os caras da escola ficaram surpresos por logo eu estar ficando com ela.

Porém, em Setembro ela me chamou de canto na escola perguntando bem rapidamente e sem papas na língua: "Você já beijou?". Eu travei por alguns minutos, mas respondi que não. E ela também disse que ainda não tinha beijado. E naquele momento meu coração acelerou e eu fiquei sem ter o que falar, até que ela soltou: "Quer ficar comigo? Hoje. Saída da escola". E eu todo bobo e perdido, logo respondi que sim.

Sinal de saída tocou. Saímos na frente, atropelando as pessoas para evitar que muitas pessoas vissem aquela cena e fomos para a árvore do beijo (é assim que os alunos da minha escola chamam, pois é uma árvore enorme que fica atrás da escola, onde todos dão o primeiro beijo ali). Eu e ela estávamos nervosos, mas isso não atrapalhou. Respiramos fundo e o beijo aconteceu. Foi um beijo bom, mas ao mesmo tempo estranho, eu não sabia muito bem como descrever, até porque era meu primeiro beijo e não é muito comum a sensação de sentir outra lingua junto a sua. E enfim, após o beijo nos olhamos profundamente e eu disse pra ela: "Eu te amo". Sim. Essas malditas palavras. E logo após isso, ela escondeu o sorriso aos poucos, deu uma respirada funda e me disse:

- O que? - ela questiona com uma cara de indignação.

- Eu disse que te amo - eu repeti com a voz tremula.

- Pietro, eu... não sei o que dizer... me desculpe.

- Como assim não sabe o que dizer? - eu disse já com os olhos de lágrima.

- Eu não posso fazer isso, ainda não estou preparada.

- Tudo bem... é que...

Enquanto eu terminava de falar, ela pegou a sua mochila, deu um beijo na minha bochecha e saiu.


Eu realmente não sei o porquê eu disse aquilo, mas foi do fundo do meu coração, eu não tenho culpa de ser tão sentimental.

Ela me mandou mensagem. Perguntou se eu estava bem, começou a se desculpar e disse que eu estava indo rápido demais. Por alguns segundos pensei que o problema era eu, até que percebi que não era. Ela então disse que era melhor darmos um tempo para pensarmos sobre isso, mas eu não queria. Eu gostava bastante dela, porém, não queria ser preso pela incerteza dela, eu só tinha 13 anos, não podia me prender dessa forma tão cedo. E foi aí que terminamos tudo o que tínhamos juntos e eu tive que lidar com a dor novamente, e mais uma vez aprender que toda essa minha intensidade me machuca.

Eu não pedi desculpas por ser quem sou. Eu sou assim, ela que não conseguiu entrar na mesma velocidade que meus sentimentos. Eu era muito novo, não podia me prender daquela forma, e eu não tenho culpa por apenas... sentir. Este sou eu.

Meu Pequeno UniversoOnde histórias criam vida. Descubra agora