O Emprego

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- O que você vai fazer? - Lisa perguntou, enquanto se olhava no espelho, retocando a maquiagem.

- Não faço ideia, eu preciso dessa grana ou serei expulsa do apê - eu estava deitada na cama, usava uma camisa branca, empréstimo de Lis para passar a noite em sua casa.-

 Eu comentei com o papai, pedi pra ele ver se não tem alguma coisa pra você fazer na empresa. 

- Sério? - disse me ajoelhando na cama. Ela se virou para mim e sorriu. Lisa era linda, diferente de mim, tinha um corpo escultural que provocava olhares maliciosos quando passava. 

- Ele disse que ia pensar, não se empolgue. Depois tem seus pais... - completou revirando os olhos.

- Se ele for consultar os meus pais, estou ferrada. Desde que saí de casa, eles fazem de tudo para me boicotar para que eu retorne ao lar. - Voltei a deitar na cama, desanimada.

 - Vamos dar um jeito. Agora eu tenho que ir porque o meu gato está me esperando - ela abanava pela janela para o garoto do outro lado da rua, escondido entre a vegetação para não ser surpreendido pelo Senhor Spencer. Os pais de Lisa não concordavam com o seu namoro com o rebelde John, por isso os encontros as escondidas. 

- Tchauzinho! - respondi abanando a mão e enfiando meu rosto no travesseiro. Antes que começasse a pensar no fracasso da minha vida, ela voltou assustada.

 - O papai quase me pegou na escada. Droga, desce e enrola ele enquanto eu saio. 

- Eu não posso descer assim, espera eu trocar de roupa - resmunguei enquanto era puxada pela mão e empurrada para o corredor do segundo piso da casa dos Spencer. 

- Não dá tempo - já estávamos na escada. 

- O que eu digo pra ele?

- Inventa, só não deixa ele voltar para o quarto até ter certeza que eu saí. 

- Ok, não precisa me empurrar - sussurrei de volta. Eu não sei onde estava com a cabeça quando concordei com aquela ideia ridícula de passar a noite na casa dela para que seus pais não desconfiassem do seu encontro amoroso. Lis já tinha dezoito anos, mas os pais, principalmente a mãe, a tratavam como se tivesse doze. Caminhei devagar, Lis ficou para trás. Ele não estava na sala, tentei o escritório, também não. Fui em direção à cozinha. Lá estava ele, de costas, usava um pijama e estava sem camisa. 

Robert Spencer era um homem atraente, eu o conhecia desde criança, éramos vizinhos. Meus pais ainda são, eu que, num ímpeto de rebeldia, resolvi sair de casa. Agora estava desempregada, falida e prestes a voltar.

- Droga! - deixei escapar quando bati o dedinho no canto de um armário. 

- Melissa? - Droga de novo, pensei que podia ficar ali quietinha até a doida da Lis sair, sem chamar a atenção do Senhor Spencer, mas agora aquele homem de 45 anos, cabelos levemente grisalhos, olhos azuis, um corpo definido pela academia me olhava curioso. - Você se machucou? - perguntou caminhando em minha direção, tinha um copo na mão, ainda vazio. 

- Não - falei me afastando. Ele parou. 

- E a Lis? - seu olhar foi para a porta, instintivamente eu caminhei em sua direção dificultando a sua visão para o corredor. 

- Dormindo - respondi com um sorriso forçado nos lábios. Eu sempre achei o tio Robert lindão, era assim que eu o chamava quando pequena, na adolescência cheguei a fantasiar algo indecente com ele. Mas se você conhecer a Senhora Spencer, uma mulher deslumbrante que concorre em beleza com a filha, veria que a minha fantasia era absurda, ridícula e desproporcional. Então caí na real e comecei a tratá-lo como Senhor Spencer.

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