- Você vai jogar na minha cara que eu sou uma fracassada? - perguntei puxando o cobertor para voltar a me cobrir.
- Não, você não é uma fracassada, você é uma mulher bonita e inteligente.
- Então por que insiste em me arrumar um namorado? - Ela voltou a puxar o meu cobertor.
- Porque eu quero te ver feliz, minha querida.
- Mãe, entende uma coisa- fiz uma pausa dramática - homem não traz felicidade.
- Não julgue todos os homens pelo Michael. Ele era um canalha.
- Pensei que você gostasse dele? - ela me olhou ofendida.
-Como eu posso gostar dele depois do que ele fez com você? Olha o seu estado.
- O que tem o meu estado?
- E de dar pena- disse com tristeza. - Reaja filhinha! - Escondi o rosto com o travesseiro, ela puxou com força e o tirou. Minha mãe era uma mulher forte, estava acima do peso desde que ficou grávida de mim. Aliás me culpa por isso. - Eu combinei tudo com a Senhora Petisburg, o filho dela estava noivo também e a garota pediu um tempo, imagina, pedir um tempo ás vésperas do casamento. Vocês tem tanto em comum...
-Eu não fui abandonada as vésperas do casamento.
- Pior, você morava com aquele traste. Ajudou a comprar o apartamento que hoje ele mora com aquelazinha.
- Mãe, isso foi há três anos, eu já superei
- Então por que continua encalhada?
- É uma opção.- Ela levantou as mãos para cima em desespero.
- Se você não for nesse jantar, eu vou convidá-lo para vir jantar aqui.
- Você não faria isso? - minha vez de me desesperar.
- Farei - disse batendo a porta e saindo do quarto.
- Droga!
Pensei que ela não teria coragem. Mas ela fez. Quatro horas depois, ela bateu na porta do quarto.
- Seu convidado está te aguardando na sala. o jantar está no forno, a mesa está posta. Eu vou sair com a Janet, não tenho hora para voltar.
- Ficou louca - gritei, levantando da cama num pulo e abrindo a porta.
- Eu avisei - disse dando as costas. - Não deixe o rapaz esperando por muito tempo.
- Inferno.
Era noite de sábado, eu havia passado o dia inteiro no quarto, desci apenas para as refeições, assisti televisão, li um pouco e dormi. Essa era a minha rotina nos finais de semana. Era, até hoje, quando minha mãe resolveu interferir. Tudo bem que eu já estava com trinta e cinco anos, que há tres havia voltado para casa depois de uma separação conturbada. E desde então me dedicava unicamente ao trabalho em uma corretora e à autodepreciação.
Tomei uma chuveirada, coloquei um vestido nada atraente sobre um lingerie velho, cara lavada e desci para conhecer meu pretendente.
- Ai está ela... - mamãe falou quando apareci no patamar da escada. o homem de terno e gravata me olhou, ele não era feio. Aliás era bem bonitinho. Trazia uma garrafa de vinho na mão, - Já posso ir - se despedindo enquanto eu descia a escada sentindo-me pateticamente ridícula. - Bom jantar!
- Olá, eu sou o Paul - ele se apresentou estendendo a mão para um aperto antes de me entregar a garrafa de vinho. Ou era acanhado ou estava mais constrangido que eu, mas tinha bom gosto para bebidas.