Três meses depois...
– Filha, você viu o meu óculos? – Caminhei até ele e entreguei o óculos que estava sobre a escrivaninha.
– Obrigado, querida. – agradeceu abrindo o livro que tinha nas mãos. Dei-lhe um beijo na bochecha.
– O que você está lendo?
– Um livro que encontrei no meio das coisas da sua mãe – respondeu melancólico.
– É o livro de vocês?
– Sim, quero ler para ela.
Um mês que a mamãe partiu. A cirurgia para retirado do tumor havia sido um sucesso, mas havia metástases e era tarde demais para lutar contra elas. Meu mundo desabou mais uma vez, e mesmo eu imaginando que seria impossível reerguê-lo, algo veio me resgatar, tão pequeno, tão frágil, mas forte o bastante para me obrigar a seguir em frente. Um novo amor!
– Obrigada, por ter vindo! – falei colocando a mão entorno do seu braço enquanto caminhávamos por um extenso jardim.
– Como ele está?
– Sobrevivendo... – respondi num suspiro.
– Você já contou?
– Não...
– Ele ficará feliz, você sabe disso.
– Eu sei, mas...
– Não precisa me explicar... – John falou colocando o braço sobre o meu ombro e me abraçando. Sempre fomos próximos, amigos de infância, de adolescência, e nos últimos meses, depois da partida de Eve, ele se transformou em mais que um amigo. – Pensou na minha proposta?
– Eu preciso de mais tempo – respondi.
– Eu sou paciencioso – falou beijando a minha testa.
Não havia lápide, o ventou a tirou para dançar, naquela fria tarde de outono, e ela rodopiou pousando em cada canto. Papai sentou-se no mesmo banco onde a beijou pela primeira vez, abraçado ao livro que ela trazia nas mãos quando se conheceram, O Jardim Secreto. Aquele virou o nome do lugar onde viveram sua história de amor, ainda jovens, e onde agora ela repousaria para sempre.
– Sarah! – me virei e ela veio correndo ao nosso encontro. – Eu cheguei atrasada? – perguntou com os olhos lacrimejantes. Eu fiz que sim com a cabeça, não contendo as lágrimas. Ele se jogou em meus braços e eu a recebi. Abraço devia ser remédio prescrito em consultórios. Só ele é capaz de amenizar a dor, diminuir a tristeza e liberar endorfina para seguirmos em frente.
– Oi, John – ela murmurou sem olhar em seus olhos, quando nos afastamos.
– Eve! – ele respondeu constrangido.
– Pensei que vocês estivessem na Europa – comentei procurando por outro alguém. Mas ele não estava lá.
– Eu vim antes, não queria perder a Cerimônia. Onde está o papai? – dei um passo para o lado e ela o observou. – Como ele está?
– Tentando parecer forte... – disse mordendo os lábios.
Eve caminhou a passos largos até ele.
– Minha menina – papai falou sorrindo quando ela sentou-se ao seu lado. Ela beijou a sua bochecha e deitou sua cabeça em seu ombro. Ficaram assim, em silêncio, por um tempo que relógios tentam mensurar, mas preso, em algum lugar do passado, se recusa a passar.
John e eu voltamos a caminhar por caminhos rodeados de flores, folhagens e árvores centenárias. Eu conhecia seus segredos, ele compartilhava parte do meu.