– Quando éramos pequenas, sempre que passávamos em frente a este restaurante, ela dizia que um dia viríamos jantar aqui com o papai, nem que gastasse todas as suas economias – comentei para um John arrependido de ter se oferecido para me acompanhar às compras, naquela manhã de quinta.
– Você faz ideia de quanto custou para eu e seu pai pagarmos a sua faculdade? Sua irmã foi para uma universidade pública local para que você tivesse a oportunidade de realizar o seu sonho.
– Meu sonho, mãe? – gritei. – Alguém alguma vez me perguntou se eu queria fazer direito? – Eu sabia que aquilo era injusto, atormentei meus pais quando minha bolsa foi negada, o dinheiro que era reservado para uma aposentadoria tranquila, foi para a minha faculdade. Um ano depois eu abandonava tudo para seguir o sonho de outra pessoa.
– Você sempre disse que queria ser advogada.
– Para agradar vocês! – menti. Ela me olhou com tristeza, nunca esqueceria aquele olhar. Era o meu maior arrependimento, minha maior dor, até me envolver com Josh e descobrir que dores não se medem, elas sempre vêm fortes e destruidoras, nocauteando o seu hospedeiro, aniquilando-o.
– Eu devo isso a vocês – murmurei enquanto passávamos pela porta de vidro em direção ao hostess, um homem sisudo que observava o menu.
– O que você pretende? Vai me pagar um almoço? – o médico ao meu lado perguntou.
– Eu pretendia fazer uma reserva para o aniversário do papai, mas se você quer almoçar...
– Uma refeição nesse restaurante, sem o vinho, é o meu salário do mês – ele comentou preocupado com a minha proposta.
– Meus pais merecem – disse olhando para ele e sorrindo. – Eu quero que você me prometa uma coisa.
– O quê?
– Promete que eles vão ir ao jantar, mesmo que tenha que arrastá-los.
– Por que eu e não você?
– Pode ser que eu não... – esteja aqui. – consiga.
– Prometo que te ajudo a sequestrá-los para um jantar romântico. –disse parando de caminhar e segurando o meu braço. Eu o encarei intrigada, John sorria, seus dedos tocaram uma mecha do meu cabelo.
– Eu já falei que você é linda – comentou com a voz suave, meu coração acelerou.
– Não... – respondi, levantando na ponta dos pés e beijando levemente seus lábios.
– Você é linda... – disse beijando-me com intensidade.
– Pois não?– o homem de estatura mediana, usando terno preto e gravata borboleta havia deixado de examinar o menu para nos interromper. – Posso ajudá-los em alguma coisa?
– Gostaríamos de fazer uma reserva! – respondi com altivez para o senhor de olhar petulante que nos observava. Eram as minhas roupas de Sarah que o incomodavam ou o homem negro ao meu lado? Senti vontade de dar as costas, mas eu era Eve Armstrong e aprendi, durante a ascensão de Bruce, a lidar com aquele tipo de pessoa.
– Sinto muito mas a nossa agenda está fechada para este mês. – Olhei para ele de cima abaixo e sorri.
– Eu quero falar com o Gerente, por gentileza.
– Ele não se encontra, a senhorita e o... senhor que a acompanha podem voltar a entrar em contato no próximo mês ou se não querem esperar, recomendo a Lanchonete do outro lado da rua. – Olhei para ele incrédula.
– Eu vou falar com o Chef – comuniquei entredentes, passando por ele e caminhando em direção à cozinha. Faltava alguns minutos para o restaurante abrir ao público e o único movimento era o vai e vem dos garçons.