Cassandra, vinte e cinco anos, um metro e setenta, cabelos castanhos levemente ondulados, uma solteirona para os padrões da época. Quem se importa? Ela pensa, era feliz e não pretendia se casar.
Mas esses não eram os planos de seu pai, um marquês falido, que em uma noite de jogatina, depois de perder o pouco que lhe restava, fecha, o que ele considera, o negócio de sua vida. O que ele tinha para barganhar? A filha. Ele oferece Cassandra, e o título que ela carrega, por uma considerável fortuna a um homem que conhecera na mesa de cartas. Lorde Windsor, um famoso libertino. Não tinha títulos, não era um nobre, sua família enriquecera com o trabalho, era um rico mercador. Seus navios levavam e buscavam mercadorias para todo o continente. A oferta do velho veio a calhar. O casamento com uma nobre, com título, era perfeito. Não interessa se é feia, velha ou se tem dentes, não pretendia consumar o casamento. Era um negócio e nada mais.
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– Você está linda! – a tia exclama observando-a pelo reflexo do espelho. Seus cabelos estavam perfeitamente cacheados, o vestido de veludo verde era de um delicadeza encantadora.
– Meu coração sangra – ela responde desanimada. – Como meu pai pode fazer isso? Vender a própria filha!
– Não diga asneiras, Cass. É obrigação de um pai encontrar um marido para a filha. E pelo que apurei, Lorde Windsor é um homem inteligente e de posses.
– Ele não é nem um lorde! É um...um...um... bronco!
– Não repita isso , os convidados podem ouvir.
– Ele já chegou?
– Ouvi quando o anunciaram e vim chamá-la.
– Pois vou repetir cada palavra na frente dele! – diz saindo a passo do quarto. Desce as escadarias sem prestar a atenção nos convidados que a observam encantados pela sua beleza e elegância. Procura pelo pai e o encontra conversando com um homem alto, cabelos levemente grisalhos. Caminha até eles.
– Minha querida, quero apresentá-la a Lorde Windsor.
– Milady – ele a cumprimenta segurando sua mão para beijá-la – Cassandra puxa a mão para espanto do pai e do convidado.
– Pois vim aqui dizer que não vou me casar com o Lorde, prefiro o convento ou a morte! – fala cada palavra com altivez, antes de dar as costas e sair correndo, fugindo da festa. Desnorteada, chega ao pátio onde as carruagens dos convidados encontram-se enfileiradas. Sobe na cabine da primeira que encontra para esconder-se. Para sua surpresa, a encontra ocupada. Um homem dorme no banco do transporte. Ela deduz se tratar do cocheiro e o sacode.– Acorde! – ele resmunga e não se move. Cassandra sente o cheiro de bebida. – Vamos, acorde! Preciso que me tire daqui! – Ela volta a sacudi-lo com força e acaba derrubando-o do banco.
– Quem é você? Uma louca? – ele pergunta atordoado, tentando se levantar.
– Respeite-me! Sou uma dama.
– Uma dama? E o que faz uma dama na carruagem de outra pessoa essa hora da noite?
– Não devo satisfação da minha vida a serviçais – diz indignada com o atrevimento do homem. – Assuma seu posto e me tire daqui.
– Pois não sou seu serviçal e não vou levá-la a lugar nenhum!– fala encarando-a com desdém e voltando a sentar-se no pequeno banco estofado da carruagem de luxo.
– Como ousa? – indaga ofendida. – Vou fazer uma reclamação formal. Perderá seu emprego e só conseguirá trabalho puxando carroças.
– Não se demore, vá! E deixe-me dormir – responde bocejando e atirando-se para trás, com as mãos escorando a cabeça e as pernas abertas, uma postura considerada inadequada, principalmente, na presença de uma dama.