A Troca - Quinto dia

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O silêncio era sufocante, ele dirigia com o olhar fixo na estrada. Eu mordia os lábios, nervosa. Chegamos à Alba, pensei que me perguntaria o endereço, mas ele sabia para onde ir e não era para o meu apartamento.

– Eu não moro aqui – falei percebendo a sua intenção.

– Eu sei – disse, seco.

– A Eve não está lá...– ele me olhou e sorriu. – Bruce, os meus pais não tem nada a ver com isso.

– Quero a opinião deles, principalmente da sua mãe – disse com tranquilidade. – Será que ela vai me acusar, novamente, de ter estragado a vida de mais uma de suas filhas ?

– Você está sendo cruel...

– E o que você fez? Foi o quê? – perguntou enquanto estacionava o carro em frente a casa onde nasci. – Vocês devem ter se divertido muito as minhas custas – comentou com sarcasmo.

– Não... – tentei responder, mas fui interrompida.

– Estou curioso. Isso é algum fetiche de gêmeos. Trocar de identidade? Com quem a Eve está transando? Algum namoradinho seu?

– Você está distorcendo as coisas – falei incomodada. – Não era pra acontecer...

– O que não era pra acontecer?– ele ficou a centímetros de mim, tão próximo e inalcançável ao mesmo tempo.

– Nós... – falei olhando para qualquer ponto, menos para seus olhos.

– Você foi para o meu apartamento me seduzir, não me rejeitou uma única vez... E quer que eu acredite que não era tudo parte de um joguinho doentio seu e da Eve – disse irritado. – Você é patética, má ou um fantoche nas mãos da sua irmã? – falou dando as costas e caminhando em direção à casa..

– Bruce, espera – segurei seu braço, ele parou, mas não se virou. – A Eve... – mordi os lábios – ela não sabe. – Ele me olhou franzindo a testa. Eu não tinha coragem de encará-lo.

– O que a Eve não sabe? – Por que ele fazia aquilo, não era óbvio?

– Que nós... – respirei fundo. – Que a gente... ficou junto. – Ele deu uma gargalhada. Olhei nervosa para a casa com medo que alguém aparecesse.

– Então isso vai ser mais interessante que eu esperava... – falou segurando o meu pulso e me puxando até a varanda. Tocou a campainha, uma, duas, três vezes. A casa continuou silenciosa. Olhei para as janelas, nenhuma luz. Era para eu me sentir aliviada, mas não estava. Alguma coisa estava acontecendo, alguma coisa ruim, muito ruim.

– Mãe! – gritei. – Pai! – Bati com o punho fechado na porta, ninguém. – Me empresta teu celular – ele me olhou incrédulo, segurando o aparelho na mão.

– Você avisou que nós viríamos – acusou, tirando-o do meu alcance.

– Como? Se você jogou fora o meu celular? – gritei impaciente, ficando na ponta dos pés e arrancando o smartphone de suas mãos. Digitei o número do papai. – Pai, é a... – olhei para o Bruce. – Eve... onde vocês estão?

Desespero. Meus olhos ardiam, a garganta seca, corria pelos corredores do hospital. Ele me seguia a passos largos, não disse nada depois que pegou o celular das minhas mãos e tirou as informações que não saíam da minha boca. Segurou a minha mão e me trouxe pra cá.

– Pai! – minha voz foi um lamento. O homem de sessenta e quatro anos me olhou. Eu quase não o reconheci. Seu rosto era um arremedo de sofrimento. Rugas que nunca existiram brotavam em sua tez.

– Filha! – murmurou. Eu corri até ele, me jogando em seus braços. – Minha querida, que bom que você veio.

– Como ela está?

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