Foi em uma tarde morna de primavera que John Carpenter colocou os olhos na doce Amy Lancaster.
A garota de cabelos negros, cacheados, roupa simples, de tecido tosco, que denunciava sua condição social, caminhava carregando uma cesta, acompanhava uma mulher de cabelos grisalhos, que Lorde Carpenter deduziu se tratar de sua mãe. O que ele sentiu naquele momento iria descrever, mais tarde, para um grupo de amigos, entre gargalhadas e taças de vinho, como a personificação da luxúria. Ele desejou Amy Lancaster sem conhecê-la, desejou seu corpo com lascívia e o conde quando queria algo, não media esforços para consegui-lo.
Quanto à Amy Lancaster, caminhava sorridente naquela tarde perfumada, acompanhava Lady Strodel ,como fazia todas as tardes de quinta-feira, quando a esposa do clérigo visitava os mais necessitados e distribuia remédios e alimentos. Reparou na elegante carruagem que cruzou a rua principal do pequeno vilarejo em direção à propriedade dos Carpenter. Sabia da chegado do Conde, todos sabiam, era o assunto do lugar, isso e o nascimento de um bezerro na fazenda dos Wilson. Especulavam o motivo da vinda do nobre, as teorias iam desde uma simples visita para conhecer a propriedade que herdara recentemente do falecido Conde, a vinda para o campo em busca da cura para uma doença terminal. Amy não tinha nenhuma curiosidade em saber a razão que trouxe o jovem conde. Tinha a mente ocupada por outro assunto, muito mais importante que um lorde e um bezerro. Ela estava apaixonada. Sentia-se a mulher mais feliz do mundo, pois naquela mesma noite, Joshua, o filho do ferreiro, iria até sua casa pedir a sua mão em casamento.
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- Então, Brixton, descobriu o que pedi? - perguntou assim que este entrou na propriedade Lancaster. John estava entediado caminhando a esmo pelos jardins desde que o seu companheiro de viagem partiu para a aldeia. A casa cheirava a mofo, os empregados, que vieram na comitiva do conde, apressavam-se em deixar tudo em ordem.
- Sim, milorde - respondeu com a voz exageradamente afetada, John Carpenter não gostava daquele homem, mas tinha que aturá-lo graças a uma cláusula no testamento que o colocava como seu tutor, com a missão de transformá-lo em um verdadeiro nobre. Como se precisasse de lições para gastar a fortuna que herdara do pai. Só se livraria do vassalo quando casasse com uma dama da corte, mas como isso estava fora dos planos do libertino, aguentaria o velho por mais um tempo. Já o homem que jurara fidelidade aos Lancaster, não esperava acabar seus dias como babá do filho bastardo e arrogante do Conde. Resignado, fazia as vontades do rapaz, nunca o transformaria em um nobre. Filho de uma aventura do conde com Adélia, uma cortesã, foi criado sob a guarda e a influência da mãe, que o ensinou a arte de manipular, seduzir e enganar em proveito próprio. Nem mesmo os mais renomados tutores, contratados pelo pai, conseguiram moldar o seu caráter. Onde os segundos fracassaram, a primeira doutrinou com louvor. Lorde Brixton não era um homem de má índole, mas tinha seus vícios, e um deles o levou a bancarrota, as cartas. Se não fosse suas dividas de jogo, Brixton já teria abandonado o garoto a própria sorte. Mas os honorários que recebia pagavam seu vício e lhe proporcionavam uma vida razoavelmente confortável. Isso o transformou num cúmplice solicito às armações do Conde.
- Então diga - disse impaciente o jovem, conhecido na corte pela sua prepotência e promiscuidade. Essa última "qualidade' não seria um problema, se as mulheres com quem se envolvia não fossem casadas ou comprometidas ou ainda virgens. Estava ameaçado por pelo menos uma dúzia de lordes que desejavam lavar sua honra. Esse foi o verdadeiro motivo que levou John Carpenter a passar uma temporada em sua Residência do campo. Um motivo nada nobre.
- O nome da jovem é Amy Lancaster. É a filha mais velha de seis irmãos. Sua mãe lava roupas para prover a família, Amy faz pequenos serviços para ajudar nas despesas da casa. Dizem que é uma excelente costureira, além de ser paciente com idosos e crianças. Cuidou do pai quando esse ficou enfermo.