É quarta-feira. Audrey deixa as crianças na escola. Dirige até o prédio de tijolos aparentes. Estaciona a SUV embaixo do Jacarandá, olha para as flores azuis, respira fundo, adora a primavera. Cumprimenta Benson, o porteiro, aperta o botão arredondado que acende uma luz vermelha e espera o elevador que a levará até o quinto andar. Abre a porta do consultório, o primeiro paciente deve chegar em breve. Dayanne, a secretária, a cumprimenta com um sorriso amável, ela retribui. Manda um mensagem para o marido, lembra do jantar com os seus pais naquela noite, pede para comprar vinho. Desliga o celular. O primeiro paciente é um adolescente de quinze anos com problemas de relacionamento com os pais. Ele fala da escola, do novo jogo de vídeo-game, da garota que conheceu na internet, mas quando o assunto é os pais, fica tenso, conta das discussões que presencia, não entende porque não se separam se são infelizes. Audrey já encaminhou o casal para terapia mas, pelo que parece, não está dando resultado. O segundo paciente é uma mulher com transtorno obsessivo compulsivo. Antes de sentar no divã, ela caminha pelo consultório arrumando, organizando, limpando tudo o que encontra em desacordo, depois senta e conta para Audrey que teve progresso e pensa que não precisa mais das consultas. A terceira paciente é uma senhora de setenta e cinco anos, que sofre com a viuvez recente. Conta que, pela primeira vez, não havia colocado o prato para ele na hora do jantar. Depois confessa que fez o seu café e serviu a xícara e levou para ele na varanda, onde Fred costumava ler o jornal matinal. Chora, lamenta a ausência das filhas, fala da briga pelos pertences do marido e do seu medo de ser abandonada em uma casa de repouso. Outros pacientes entram, alguns deitam no divã outros sentam na poltrona, falam de sua vida, seus problemas, angústias e desamores. Andrey escuta a todos, intervêm nos momentos oportunos. Até que chega o último paciente. Ele entra com um sorriso no canto dos lábios.
– Boa tarde, Doutora Thompson – O terno preto com corte italiano, o cabelo castanho penteado para trás, os olhos azuis. Vincent Gray. Era a sua segunda consulta, estava ali por ordem judicial, acusado de agressão sexual. Ele alega que foi consensual, uma vez que a vítima era sua submissa. O marido da vítima não concorda com isso. A promotoria pediu uma análise psicológica do réu. Não era a primeira vez que Audrey presta esse tipo de serviço. Mas era a primeira vez que o caso envolvia um dominador.
– Boa tarde – responde séria. – Por favor, sente-se. – completa. Sabia que ele começaria seu jogo de sedução. Estava ali para convencê-la que acorrentar uma mulher e cometer os mais abusivos atos em seu corpo era prazeroso para ambos. Ela estava ali para provar que ele tinha um comportamento doentio e precisava ser tratado. A promotoria queria que ela comprovasse que ele era perfeitamente são de suas capacidades mentais e seu único problema era a crueldade e o sadismo. – Que comecem os jogos, Audrey pensa observando seu paciente sentar e abrir o botão do terno.
– Permite? – ela pergunta mostrando o gravador.
– Tenho opção? – ele questiona com um sorriso malicioso. Vincent sabe que não. As gravações das sessões fazem parte do processo. Ela não responde, liga o aparelho e senta-se em uma poltrona em frente a que ele estava. – Pensou na minha proposta? – pergunta olhando para o seu corpo de cima a baixo. Era impossível ficar indiferente àquele olhar. Mas ela teve uma semana para treinar o autocontrole, a primeira sessão, confessa foi um desastre. Hoje não seria. Audrey o encara com austeridade.
– Por que o Senhor acredita que uma mulher ficaria interessada na sua proposta? – pergunta esperando que ele finalmente fale algo que pudesse gerar um diálogo proveitoso.
– Não achou interessante?
– Deveria? – ele repete o padrão da última sessão. Responde suas perguntas com perguntas, todas de caráter pessoal. Era um jogo de gato e rato. Mas ele não venceria, disso ela tinha certeza.