- Tenente Young... - Não consegui me mover, meu corpo não me obedecia, meus músculos pareciam feitos de pedra, minha mente era um turbilhão de imagens passando em retrospectiva. Homens armados, a boca de uma mulher tocando meus lábios, uma pancada na cabeça, um parque de diversões. Efeito colateral da Passagem, a Passagem... Isso significava que... Elena...
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44 horas para a Passagem.
As coordenadas me levaram a um parque de diversões à beira mar. Era a primeira vez que via um em funcionamento. De onde eu vim, lugares como estes, não passavam de escombros. Por um instante esqueci do motivo que me levara até ali e fiquei admirando um mundo que não existia mais.
- Elena - uma voz de criança a chamou. Eu me virei procurando pela dona daquele nome. Pessoas caminhavam sem proteção, expostas aos perigos bacterianos e virais da atmosfera. - Posso andar no carrossel? - a voz da menina voltou a chamar minha atenção. Procurei-a com o olhar. Não fazia ideia de como era, mas a imaginava alta, com aspecto severo, forte, autoritária e cruel. Não havia registros que comprovassem que a estátua esculpida 100 anos depois da sua morte fosse uma cópia fiel da realidade. Erguida na praça central de Ingwon, em bronze, Elena Navsegda, a líder dos Andarilhos, a progenitora do primeiro governante da Era Pós Controle, segurava uma bebê em um dos braços enquanto o outro levantava a mão fechada em punho, símbolo daqueles que se rebelaram contra a Aliança. A força daquela mulher inspirou multidões e trouxe o caos.
- Deve haver um engano - pensei quando vi a garota que se aproxima da menina. Vinte solstícios de verão, talvez. Frágil, quebraria o seu pescoço com uma mão. Fácil demais. Olho para os números tatuados em meu pulso, analiso as coordenadas retiradas da página de um antigo livro, saqueado da biblioteca de Jednakost. A história do início do Levante descrevia aquele lugar. O lugar onde Elena travaria a sua primeira batalha contra a Aliança.
- Claro, querida! - a garota com o corpo magro coberto por um tecido fino com desenhos coloridos, respondeu com um sorriso nos lábios, enquanto segura a mão da menina e caminhava em direção a um brinquedo que girava ao som de uma música repetitiva. Deve haver um erro nos cálculos, ela não pode ser o alvo. Ela não é uma guerreira.
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- É preciso reestabelecer a ordem e para isso devemos eliminar o inimigo antes mesmo que ele seja concebido.
- O Pacificador? - pergunto enquanto caminhamos pelas montanhas geladas de Religio.
- Não, se eliminarmos o Pacificador, ainda teremos a linhagem Navsegda - olho confuso para o Líder da Resistência, Coronel Tanasara. Ele coloca a mão sobre o meu ombro e me encara.
- Você é o meu melhor guerreiro, tenente Young. Por isso foi escolhido para essa missão.
- É uma honra, Senhor!
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- Você é da Coreia? - duas garotas, com cabelos coloridos, me interromperam enquanto observava, protegido pela multidão, a interação da suposta Elena Navsegda com um grupo de crianças. Precisava ter certeza da sua identidade, não podia cometer um erro e colocar em risco a missão.
- Coreia? - O que significava aquilo?
- Os seus olhos, o cabelo liso, preto, você é alguém famoso que veio pra Convenção?- a garota de cabelo laranja continuou divagando, agora aos gritos, chamando a atenção dos passantes.- Já sei! Você é da banda K Pop? - perguntou dando pulinhos e batendo palmas.