Capítulo 3

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"Mas quanto mais você me machuca, menos eu choro
E a cada vez que você me deixa, mais rápido estas lágrimas secam
E a cada vez que você vai embora, menos eu te amo
Meu bem, não temos chance, é triste, mas é verdade"

Too Good At GoodByes (Sam Smith) 

Stella

O som da campainha ecoa pelo meu apartamento silencioso, deixo o sofá e caminho em direção a entrada, confiro no olho mágico para ter certeza que é Júlia, ao confirmar abro a porta. Minha irmã percorre seu olhar rapidamente pelo meu corpo, um olhar preocupado, ao perceber que não estou ferida, suspira aliviada. 

— Eu fiquei preocupada ao ler sua mensagem. 

Aproxima-se e nos abraçamos, beija a lateral da minha cabeça.

— Desculpe preocupar você, mas eu realmente preciso da minha irmã urgentemente, eu quero conversar com você e preciso do seu colo de irmã mais velha. 

Eu esclareço minha desesperada mensagem "Eu preciso de você, você pode vir me ver?" enquanto entramos e vamos para o sofá. 

— Você está grávida?

Em outro momento, eu iria rir, porém não consigo sorrir, não consigo encontrar a graça em suas palavras. Eu acho que eu estou anestesiada, eu acho que não consigo mais sentir.

— Não. — Sentamos no sofá uma do lado da outra, eu estou em uma posição de modo que minhas costas estão retas, encaro minha estante e televisão, Júlia está sentada de lado sobre uma de suas pernas, eu sinto seu olhar sobre mim. — Pablo sofreu um acidente, eu estou o perdendo para sempre. 

Um vazio ocupa meu peito, minha voz é baixa, fria, não demonstra sentimentos, minha voz não tem o tom de alguém que está sofrendo, eu estou me perdendo.

— Aquele seu quase namorado da adolescência? O cara que encontrou algumas vezes?

Pablo frequentou minha casa durante os dois meses, eu o apresentava como um bom amigo para meus pais, Júlia estava na faculdade em outra cidade, mas sempre soube que o meu tal amigo Pablo, não era somente um amigo, sempre soube sobre nossa história.

— Sim, ele sofreu um acidente de carro, tudo indica que durante um racha, sofreu um traumatismo craniano e está em coma, não está fora de perigo, Júlia.

Não uso termos médicos, eu sei que Júlia não entenderia.

— Eu sinto muito, como você está? 

Respiro fundo e pensar em como eu estou  faz com que a dor volte, porém o vazio continua em meu peito e meus olhos sem lágrimas.

— Devastada e vazia. 

Entrelaça sua mão na minha.

— Ele irá ficar bem, pequena lua.

Eu gostaria de acreditar em suas palavras.

— Ele se culpava pela morte da irmã, Cecília se matou ao dezessete anos e ele praticamente fez isso, por que ele se colocou em uma situação de perigo!?

Eu gostaria de entender Pablo, mas nunca o entendi e talvez, nunca o entenda, nunca tenha a chance de entendê-lo. Talvez, Pablo esteja me deixando, eu irei ficar, e nunca obter certas respostas e a simples possibilidade é aterrorizante.

— Por que vocês não deram certo, Stella?

Dou de ombros.

— Porque, eu nunca o compreendi, porque eu nunca tentei o compreender.

O Poder de Um EncontroOnde histórias criam vida. Descubra agora