"Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho, vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato"Gostava tanto de você (Tim Maia)
Stella
O dia é no automático, eu afasto Pablo dos meus pensamentos, eu não posso permitir que meus problemas pessoais interfira em meu trabalho, por sorte é um dia com poucas consultas marcadas e há apenas duas crianças internadas.
Eu caminho para o andar da CTI, após o fim do meu expediente. É estranho andar pelos corredores do hospital como alguém que está a espera de notícias, não uso branco, eu troquei minhas roupas de médicas por roupas normais, coloridas. Não sou Stella a pediatra, sou a Stella desesperada por saber como Pablo está.
O médico que está acompanhando Pablo, está em sua sala prestes a ir embora, mas antes atualiza-me sobre Pablo, ele continua em coma induzido, não se pode prever os danos e sequelas. Eu odeio quando a medicina não tem respostas. Mais uma vez sou autorizada a vê-lo por quinze minutos.
Após, os procedimentos de higienização, entro no quarto, meu peito aperta, meu estômago embrulha e meu coração acelera.
— Olá. — Aproximo-me ficando ao lado da cama. — Eu disse que iria voltar.
Passo levemente meu dedo protegido por uma luva sobre seu braço, eu preciso tocá-lo.
— O dia foi difícil, principalmente por saber que você estava tão perto e não podia vir vê-lo. — Mais uma vez, não ouvir uma resposta dói. — Ontem à noite, eu falei sobre nós para Júlia, sobre como terminamos, ela ouviu e disse que tudo ficará bem, eu acredito na minha irmã.
Por um tempo escuto o som da máquina que monitora seus batimentos cardíacos.
— Eu tive um tempo agradável com a minha irmã, nós conversamos, fizemos nosso jantar e assistimos um filme, Júlia e eu dividimos a cama, eu dormi abraçada com a minha irmã, ela foi a âncora que eu precisava, hoje pela manhã tomamos café em nossa padaria preferida e depois Júlia trouxe-me para o hospital.
Suspiro, não ouvir nenhum comentário seu, ou reposta é agoniante.
— Irá ficar tudo bem, Pablo.
Um ano foi o tempo em que Pablo e eu não nos encontramos. Sua partida doeu, eu acreditei que ele ligaria para mim algum dia, eu acreditei que ele somente precisava de um espaço para se encontrar, para lidar com seu luto, eu estava errada. Três meses sem falar com Pablo e enfim, eu entendi, ele realmente desistiu de nós, eu chorei uma noite inteira, mas no dia seguinte, eu estava disposta a esquecê-lo. Eu estudei como se a minha vida dependesse disso, se eu estava estudando, eu não estava pensando em Pablo, algumas poucas vezes eu deixava meus livros de lado e me permitia sair, curtir meus amigos, aproveitar minha vida, algumas vezes inclusive eu beijava outras pessoas.
Eu superei Pablo.
No início do ano seguinte, eu soube que virar uma pessoa obcecada por estudar tinha gerado resultados, eu fui aprovada em medicina, meus sonhos iriam se tornar realidade. Naquele ano, no Carnaval, eu estava feliz, muito feliz e para comemorar a tão sonhada aprovação embarquei com Júlia, Helena, sua namorada, e Fernanda, sua melhor amiga, para Salvador. Uma semana em um dos maiores carnavais de ruas, seguindo trios elétricos, dançando, bebendo, conhecendo outras pessoas, beijando.
Eu amo festas, amo estar entre multidões, eu amo estar em Salvador seguindo os trios elétricos, eu estou sem voz de cantar e gritar. No quinto dia, nós decidirmos ir a um baile pela noite, um baile de máscaras inspirado nos carnavais italianos, principalmente o carnaval de Veneza. Olho para minha imagem no espelho e sorrio, eu estou linda e irreconhecível. Uso um vestido dourado e brilhoso, colado ao meu corpo, o modelo é longo com uma fenda que mostra minhas pernas e minha sandália preta de salto, os meus seios estão sustentado por alças finas, o decote é generoso, os fios de meu cabelo crespo estão lisos e presos em um rabo de cavalo alto, eu espero não ficar com dor de cabeça. Minha maquiagem é simples, pois a máscara cobrirá grande parte do meu rosto, apenas minha boca ficará livre, uso um batom vermelho. As meninas estão tão lindas quanto eu, Helena e Júlia vestem vestidos iguais, porém Júlia está de branco e Helena de preto, o modelo é com um corpete bordado e uma saia volumosa que termina alguns dedos acima dos joelhos, o vestido de Fernanda é vermelho, longo em um estilo sereia. Nós quatro estamos construindo uma amizade incrível.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Poder de Um Encontro
RomanceSérie O Poder do Amor - Livro 6 Se você nasce para ser um perdedor, não importa os seus esforços, não importa o quanto fuja, você irá falhar e você irá perder. Eu nasci danificado, eu nasci destinado a seguir os passos dos meus pais. Uma vez, eu acr...