Um mês antes do acidente
Pablo
O vento da noite é um bom tranquilizante, encaro a lua cheia no céu, ela está bonita, levo o cigarro a minha boca e em seguida a fumaça se dissipa pelo ar, meus olhos seguem seu breve trajeto.
Doze malditos anos, hoje faz doze anos e a dor continua aqui, continua ocupando meu coração e minha alma. Eu ouvi da maioria das pessoas que a dor diminuiria com o tempo e restaria apenas uma saudade, elas estavam errada, a dor não amenizou. Algumas vezes, eu gostaria de ter a mesma coragem de Cecília e deixar essa vida, eu gostaria de parar as batidas do meu coração, mas eu não posso, eu não posso deixar as pessoas com as malditas dúvidas, eu não posso permitir que todos os dias alguém pergunte para si mesmo o que ela poderia ter feito para me salvar.
Mais uma tragada em meu cigarro.
Eu gostaria de saber qual dos cenários criados pela minha mente teria salvo minha irmã, porque é isso que eu faço, eu revivo aquele dia de várias maneiras, eu o refaço de várias formas e então eu questiono, se tudo fosse diferente, se tudo fosse conforme imagino, Cecília estaria a salvo? Minha irmã desistiria de tirar sua própria vida?
E não saber a resposta me destrói.
Apoio meu corpo na parede da sacada do meu apartamento fecho os olhos e tento mentalizar momentos felizes como a psicóloga sugeriu, não funciona, porque relembrar certos momentos dói e aumenta a pressão sobre meu peito, não a diminuiu como deveria. Mais uma vez o cigarro para entre meus lábios, fumar acalma um pouco da tempestade que atormenta meu interior.
Eu gostaria de conseguir lidar com meus demônios apenas com a terapia, mas não consegui, eu continuo tentando, eu acredito na psicologia, mas ela continua não sendo minha solução, minhas soluções são o cigarro e a adrenalina, eu questiono se essas são heranças dos meus pais, se isso é parte de quem eu sou, do meu maldito DNA.
— A vida é muito curta e preciosa para não ser vivida.
Deixo as palavras saírem da minha boca em voz alta, as palavras ditas por Cecília, eu perdi quantas vezes eu ouvi dizê-las, seu lema de vida. Eu posso ouvir minha irmã sussurrando a frase para mim, eu posso imaginá-la deitada na cama ao meu lado, sorrindo e cantarolando suas palavras preferidas.
— Eu sinto sua falta, Cecília. — Meus olhos ardem e sinto as lágrimas descendo por meu rosto. — Eu acreditava que você era feliz, eu acreditava em seus sorrisos, eu nunca percebi que você não estava feliz, eu não ajudei você, eu não fui o suficiente para você ficar, eu não fui o suficiente para você lutar.
Respiro fundo, eu converso com Cecília, conversar com ela ameniza minha dor, eu não sei o quanto isso é louco, ou onde ela está, se ela pode me ouvir, se ela realmente está em algum lugar, se ela continua existindo em alguma parte dessse universo, ou outro, mas acreditar que minha irmãzinha pode me escutar torna as minhas dores mais suportáveis.
— Eu nasci danificado, Cecília, está em meu sangue, em meu DNA e eu sinto muito.
O som do celular tocando interrompe meu momento com o universo, Cecília e minhas dores. Abro os olhos, apago o que resta do cigarro, o depósito no cinzeiro que fica sobre a mesinha que decora a sacada, retiro celular do bolso traseiro da calça, o nome da minha mãe pisca na tela, aceito a chamada e levo o celular a orelha.
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O Poder de Um Encontro
RomanceSérie O Poder do Amor - Livro 6 Se você nasce para ser um perdedor, não importa os seus esforços, não importa o quanto fuja, você irá falhar e você irá perder. Eu nasci danificado, eu nasci destinado a seguir os passos dos meus pais. Uma vez, eu acr...