Capítulo 26

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"Ainda deitada debaixo do céu tempestuoso
Ela disse: Oh, oh, oh, oh, oh
Eu sei que o Sol deve se pôr para se erguer"

Paradise (Coldplay)

Pablo

Acordo com um som chato, eu estou desorientado e demoro a entender que o som é a campainha. Abro meus olhos, continua escuro, quem faz visitas de  madrugada? O corpo de Stella não está mais sobre meu, procuro por ela e a encontro sentada na cama, tão desorientada quanto eu. O som prossegue ecoando.

— Irei ver quem é e eu juro que se for engano, ou algum bêbado perdido, eu mato a pessoa.

Levanta da cama, nua caminha em direção a saída do quarto. 

— Stella. — Olha para mim com raiva. — Você irá abrir a porta pelada?

Bufa e veste minha camisa, eu seguro o riso, eu preciso lembrar de nunca acordar Stella, afinal pode ser perigoso. Deixa o quarto, eu encaro o teto, as últimas foram insanas e as melhores da minha vida, lembrar do nosso décimo segundo encontro foi libertador, foi como encontrar uma peça perdida de um quebra-cabeça, uma peça fundamental para entender o desenho formado. Olho ao redor, meu quarto é uma bagunça, nós fizemos essa bagunça, após nosso momento na cozinha e estarmos alimentados, retornamos para o quarto para um segundo round, mais sexo, mais amor. Há um sorriso em meu rosto, mas as boas recordações são interrompidas por um grito.

— Pablo.

Meu corpo e minha mente entra em alerta ao ouvir a voz de Stella, um grito angustiado. Meu coração acelera, os piores cenários possíveis surgem em minha mente, um assaltante, assassino, droga, por que eu não fui com ela? De pressa saio da cama, enrolo o lençol em minha cintura, em uma mão carrego minha calça e na outra o abajur para utilizar como arma, corro em direção a entrada do meu apartamento. A cena com que deparo-me faz meu coração pare e logo em seguida dispare, largo o abajur no chão, Maria Eduarda está nos braços de Stella, o rosto contra seu peito, os braços ao redor do seu pescoço. Stella olha para mim, meu olhar encontra o seu e sei que as notícias não são boas. 

— Vanessa.

De qualquer jeito e o mais rápido possível visto minha calça e corro para o apartamento ao lado, encontro Vanessa desmaiada na sala. Porra. Eu, talvez, deveria chamar uma ambulância, ou checar seus batimentos cardíacos, mas eu estou desesperado e pego Vanessa em meus braços, volto para meu apartamento, Stella encara-me assustada. 

— Nós precisamos ir para o hospital, a chave do meu carro está na estante de livros.

Stella busca a chave, saímos apressados do meu apartamento, apenas fechamos a porta, sem trancá-la, do jeito que estamos vamos para o elevador, foda-se a maneira que estamos vestidos. Maria Eduarda chora, Stella beija seu rosto e sussurra palavras de conforto. Olha para mim e eu percebo o medo em seu olhar, o mesmo medo que eu estou sentindo. 

Chegamos na garagem, saímos do elevador, vamos para o carro. Adrenalina percorre pelo meu sangue, meu peito está apertado, meu estômago embrulhado. Com cuidado deito Vanessa nos bancos traseiros, eu assumo o volante e Stella com Maria Eduarda em seus braços senta ao meu lado. 

Eu dirijo o mais de pressa possível, a tensão e o medo está no ar, podemos sentir. Pensar em perder Vanessa dói, pensar na dor de Maria Eduarda dói. Durante o caminho é como se estivermos segurando nossa respiração. Ligamos para a equipe de oncologia do hospital, avisamos que estamos chegando. 

Estaciono o mais próximo da entrada, os médicos e enfermeiros estão a nossa espera, com cuidado transferem Vanessa do meu carro para uma maca. É rápido, angustiante e como estar em um pesadelo. 

O Poder de Um EncontroOnde histórias criam vida. Descubra agora