Capítulo 9

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"Não posso simplesmente voltar o relógio?
Perdoar meus pecados
Eu só quero enrolar minhas mangas
E começar de novo
Eu sei que eu estraguei tudo
De novo e de novo"

Start Again (One Republic)

Pablo

Escuto o som do vento batendo nas janelas, encaro o teto do meu quarto, suor escorre pelas minhas costas e testa, meu coração está acelerado, uma angústia aperta meu peito, única luz do quarto é o da lua, minha mente não para, eu não consigo voltar a dormir, eu odeio esses sonhos. 

Respiro fundo. 

Eu sou mais do que esses sonhos, eu sou mais do que eu acredito. Agarro os lençóis com minhas mãos, mordo lábio inferior, o rosto de Cecília ecoa em minha mente, sorrindo, então seu sorriso some e relembro como se rosto estava sem cor e sem vida, morta. 

Eu não fui o suficiente. Eu nunca sou.

Eu não deveria aceitar esses pensamentos, eu tenho que lutar, eu tenho que controlar, mas é externamente difícil. Lutar com sua mente é uma grande merda. Eu não posso mais ficar deitado, eu não consigo. Afasto os lençóis do meu corpo e sento na beirada do colchão, meus pés tocam o chão gelado, corro minhas mãos por meus cabelos, meu corpo está tremendo, eu preciso de um cigarro.

— Porra.

Eu não deveria recorrer ao cigarro, eu deveria parar de fumar, puxo os fios dos meus cabelos, eu prometi que iria tentar, mas irei falhar. Suspiro, fico em pé e busco o maço de cigarros em meu guarda-roupa, eles está entre peças de roupas. Escuto o som das patas de Bob chocando-se com o chão, ele entra no quarto deixando a porta aberta e iluminando o ambiente com a luz do corredor, a luz que permanece acesa por conta do meu cachorro intrometido. 

— Você não deveria entrar no meu quarto sem ser autorizado.— Encaro-o e ele olha para mim com seus expressivos olhos castanhos, como se ele realmente estivesse me entendo, algumas vezes, eu juro que ele é capaz de compreender o que eu digo. — Eu não consigo dormir, aliás eu dormi e acordei, após um pesadelo. 

Continua olhando para mim, desvio o olhar do meu cachorro, busco meu celular que está em baixo do meu travesseiro e saio do quarto, caminho em direção a sala, Bob segue-me. Sento no sofá, Bob fica no chão, mas olha para mim, eu fito a carteira de cigarro, eu preciso ser forte, jogo-a para meu lado no sofá. 

— Eu vou conseguir, Bob.

Parar de fumar não fará meus demônios sumir, não fará os pesadelos parar, mas é um início, um passo em direção ao cara que eu preciso ser. Tudo precisa de um começo e esse é o meu. 

É difícil controlar o aperto em meu peito e a angústia sem o cigarro, são anos o usando como calmante. Bob deita aos meus pés. Suspiro, eu estou cansado, mas não quero dormir. Ligo celular para conferir às horas, são uma e meia da madrugada, há uma mensagem de Ramon, clico em visualizar.

"Corrida na principal."

Eu gosto da ideia, uma outra forma de escape, uma outra maneira de anestesiar minhas dores e afastar meus monstros, uma opção tão errada quanto o cigarro, mas é aos poucos, não é!? Uma última corrida, uma despedida. É tarde, porém para corridas ilegais ainda é cedo, digito uma resposta rapidamente. 

"Estou a caminho."

Eu sinto a adrenalina chegando, meu corpo reage a simples ideia de por meu carro para correr. Deixo sofá, corro para quarto e visto uma roupa adequada, moletom, calças, tênis e um boné para não ser reconhecido. Bob está me seguindo. 

O Poder de Um EncontroOnde histórias criam vida. Descubra agora