Capítulo 17

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"E você continua perfeita com o passar dos dias
Mesmo nos piores dias, você me faz sorrir"

Love Someone (Lukas Graham)

Stella

Apoio meu ombro na parede e olho para Pablo, ele não não olha para mim, continua com o olhar fixo na parede a sua frente. 

— Fisioterapias sempre são difíceis. — Ele está sentando no sofá encarando a parede desde que seus pais foram embora, continua me ignorando, suspiro, viro-me ficando com as costas apoiadas na parede. — Você continuará me ignorando?

— E se eu nunca voltar a andar? Ou nunca sentir como antes? Eu não sinto seu toque corretamente em algumas partes do meu corpo. — Seu tom de voz é alto. — E se nunca conseguir pegar as coisas com minhas mãos corretamente?

Há raiva em sua voz, não é destinada a mim, é raiva da vida e da situação. É difícil lidar com esse Pablo inconformado e frustrado, ontem à noite foi tão perfeito, mas como nem tudo são flores hoje pela manhã Pablo teve fisioterapia e não foi fácil, nem um pouco fácil. 

— Pablo, o acidente foi grave, uma parte da sua cabeça foi atingida, você esteve em coma, você precisa estar empenhado em melhorar e a fisioterapia irá ajudar, não pode agir como um menino mimado e simplesmente desistir como fez hoje. 

Balança a cabeça, sorri, mas não um sorriso de verdade, é uma risada irônica e triste.

— Não é fácil, Stella, dói e não é só uma dor física, você manda um comando para seu corpo e ele simplesmente não funciona como deveria. 

O tom da sua voz diminui, a sua dor é perceptível. 

— Você tem chances altas e reais de ficar bem, não pode desistir, as primeiras sessões de fisioterapia na maioria das vezes são as mais dolorosas, mas com o tempo o paciente aparenta melhoras e cada esforço vale à pena. — Continua não olhando para mim. — E você não perdeu seus movimentos, eles estão lentos, fracos e algumas vezes não os consegue controlar, se tivesse comprometido seus movimentos por total seria ainda mais difícil. 

Fisioterapia são difíceis, porque o resultado é aos poucos, ao longo do tratamento, não é algo repentino, Pablo não é o primeiro que eu vejo deprimido, após uma sessão. 

— Então devo ficar feliz e satisfeito, por que poderia ser ainda pior? — Reviro meus olhos, senhor eu preciso de paciência, abro a boca para respondê-lo, mas antes que consiga o som da campainha ecoa pelo apartamento, ele finalmente olha para mim. — Você está esperando por alguém? 

Balanço a cabeça negando.

— Talvez, seja seus pais, será que esqueceram algo? 

Caminho em direção a porta esperando encontrar Carla e Leonardo, ao abrí-la deparo-me com uma garotinha e sua mãe. 

— Oi, Vanessa.

Eu sorrio, olho para Maria Eduarda e faço o oi na linguagem de sinais como me ensinou, ela sorri lindamente e faz o mesmo. 

— Oi, Stella, desculpe incomodar, mas eu preciso muito sair e a babá de Madu está doente. — Eu desvio o olhar para seu rosto, há lágrimas em seus olhos verdes, ela está me implorando por algo. — Eu não tenho com quem deixá-la, ela falou tanto de você, eu realmente não posso adiar meu compromisso...

Eu sei o que Vanessa irá pedir, assinto antes mesmo que termine sua fala e a interrompo, ela está prestes a chorar. 

— Eu posso ficar com ela. — Olho para Maria Eduarda e ela está sorrindo, eu sorrio para ela. — Você poderá continuar com suas aulas, será divertido.

O Poder de Um EncontroOnde histórias criam vida. Descubra agora